Prólogo

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Novembro de 2012

Escola Mundial

─ Crianças, como a nossa última atividade de hoje, nós vamos imaginar o futuro. ─ propôs a professora Helena, observando seus alunos com um sorriso ─ Vocês podem escrever ou desenhar, ou os dois. Quero que vocês imaginem como será a vida de vocês em, não sei, 20 anos. Isso, em 20 anos. Podem começar.

─ Daqui 20 anos quantos anos a gente vai ter? ─ perguntou Jaime, tentando contar nos dedos.

─ Todos vocês estarão entre 28 e 29 anos, Jaime.

─ Mas nós já estaremos super velhos, professora. ─ observou Valéria.

─ Super velhos nada, Valéria. Vocês estarão na flor da idade, se firmando na vida profissional e começando a constituir famílias, se Deus quiser. ─ a professora sorriu com bondade ─ Agora, focando na tarefa.

Ao fim da aula, sua mesa estava apinhada de papéis. Ela sorria a cada um que lia, logo apanhando uma pasta bem bonita e se levantando.

─ Agora, cada um virá aqui na frente e colocará os seus 'planos' dentro desta pasta. Então, vamos assiná-la juntos e nós iremos guardá-la em segurança, para ser aberta por nós daqui há 20 anos. ─ explicou Helena, vendo os alunos se surpreenderem ─ Será uma espécie de cápsula do tempo.

─ E como nós iremos abrir ela daqui há vinte anos, professora? ─ perguntou Marcelina.

─ Eu não sei ainda, Marcelina, mas de algum jeito iremos. Uma coisa que eu tenho certeza é que nenhum de vocês esquecerá essa cápsula; e então, quando chegar a hora, todos estarão contando os minutos para abri-la! ─ a professora os contagiou com o seu entusiasmo, vendo os rostinhos se iluminarem.

Seria um lindo momento dali há vinte anos.

25 de outubro de 2032

Residência da família Carrilho Zapata

Os dedos finos passavam pelas letras infantis que revestiam a pasta, reconhecendo cada um daqueles nomes e assinaturas. Viu a sua própria letra, constatando que havia mudado e amadurecido tanto quanto ela naqueles vinte anos.

Soltou os elásticos já frouxos e corroídos, encontrando o conteúdo no interior revestido em plástico, na certa uma precaução tomada pela professora Helena após se despedir dos alunos na ocasião, para que tudo ficasse bem conservado.

Começou a puxar uma a uma as folhas, lendo e observando os desenhos sonhadores, cheios de vida e de alegria. Esperanças inocentes, ideias puras, totalmente livres de conflitos e preocupações.

Um sorriso brilhou no canto de seus lábios, os olhos se encheram de lágrimas. O sofá afundou ao seu lado e logo uma mão grande tocou o seu rosto, secando o rastro salgado.

─ Você está chorando, amor?

─ Apenas emocionada. ─ ela sorriu para o homem ao seu lado, indicando os papéis em suas mãos ─ Eu havia me esquecido completamente disso.

─ Nossa cápsula do tempo? ─ seus olhos se arregalaram, apanhando os papéis ─ A professora Helena disse que poderíamos abrir em vinte anos.

─ E está fazendo todo esse tempo, Dan. Aqui, novembro de 2012. Vinte anos atrás. ─ Carmen suspirou, secando os olhos ─ E todos nós esquecemos.

─ É o preço da vida, Carmen. ─ ele a encarou penalizado, sentindo o peso nos ombros ─ Onde você encontrou isso?

─ Estava no cofre, na sala da diretora Olívia. Eu encontrei enquanto estava recolhendo as coisas dela, sabe... Depois do funeral. ─ o silêncio recaiu entre os dois após isso.

Alguns dias antes, a eterna diretora Olívia havia encerrado a sua passagem pelo mundo. Ainda muito ativa e operante na direção do colégio, a mulher com jeito de sargento partiu durante a noite, em meios aos sonhos, de forma serena.

Restou à Carmen, seu braço direito no colégio, a função de manter o barco firme, apesar de toda a confusão que se instaurou. E então, enquanto arrumava e empacotava os pertences da falecida, encontrou a pasta em seu cofre, junto de outras cápsulas do tempo que foram ali deixadas em segurança.

─ Olha isso, o Mário. ─ Daniel riu ao ver o desenho e texto do amigo de infância ─ Uma clínica veterinária com cães como funcionários!

─ E o do Adriano, a tal estação na lua. Tem até uns marcianos trabalhando. ─ riu Carmen, observando os rabiscos do amigo ─ Olha o do Paulo.

─ Deputado? Ah não, ele era muito maluco mesmo. ─ Daniel gargalhou, procurando algo entre os papéis ─ E a Marcelina sempre atrás de cuidar do irmão.

─ A Alicia como pilota de avião, olha isso. E a Valéria como apresentadora de talkshow. ─ o sorriso no rosto de Carmen foi morrendo ─ Nada disso se realizou, não é?

─ Mais ou menos, Carmen, isso eram sonhos de crianças. ─ Daniel segurou a sua mão, usando a livre para mexer nos papéis ─ Olha, os nossos se realizaram. Eu fundei a ONG Patrulha Salvadora, e você se tornou professora.

─ Isso porque nós dois sempre fomos os mais pés no chão, não é? ─ ela sorriu de lado, encarando todos aqueles sonhos e suspirando ─ Eu não consigo acreditar que Escola Mundial vai fechar, Dan.

─ Hey, não começa a chorar de novo, por favor. ─ ele a abraçou com força, beijando o topo de sua cabeça ─ Daqui a pouco o Leo aparece aqui e vai querer saber porque você está chorando.

─ Nosso filho nunca vai estudar lá, amor, você não percebe isso?

─ Carmen, ainda não é uma decisão fechada, calma. O conselho diretor vai votar em dezembro, não é? Ainda tem mais de um mês para isso.

─ E o que pode mudar em um mês, Daniel? Eles querem fechar o colégio há anos, era a diretora Olívia que segurava a decisão.

─ Nós podemos mudar em um mês. ─ ela o encarou como se ele estivesse maluco. Ele apanhou os papéis na mesinha à frente, os mostrando para a esposa ─ Todos nós, Carmen. Está na hora de convocar a turma do 3º ano e salvar a Escola Mundial.


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N/A: História postada originalmente no Spirit Fanfiction, em Julho de 2016. Estou revisando e respostando aqui no Wattpad! Espero que gostem! 

20 Anos Depois - A salvação da Escola MundialOnde histórias criam vida. Descubra agora