Capítulo 19

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─ Com licença, pessoal... Eu gostaria de fazer um brinde. ─ chamou Roberto, atraindo a atenção dos presentes ─ Mesmo que não tenhamos champanhe, acredito que um brinde é válido.

─ Champanhe não faria mal para a Alicia, Paulo. ─ avisou Miguel, segurando uma taça de suco ─ E nem um pouco de refrigerante.

─ Eu sei que não, Miguel. Mas foi um gesto de respeito a um amigo. ─ explicou o noivo, recebendo um sorriso agradecido de Daniel.

─ Bom... ─ Roberto pigarreou, pegando a sua taça de suco de laranja ─ Quase sete anos atrás, quando o Paulo e a Alicia nos contaram que ela estava grávida e que eles seriam pais, eu não vou mentir que o meu maior sentimento foi de preocupação. Porque eu pensei: meu Deus, como essas duas crianças vão conseguir cuidar de outra, menor e mais dependente? E hoje eu digo, com muito prazer e satisfação, que eu mordi a minha língua. Mordi até sangrar. Porque eles dois me surpreenderam. Não só a mim, mas creio que a todos. Eles poderiam ter apenas aceitado as circunstâncias e ir empurrando a vida com a barriga, ir sobrevivendo com as condições que lhe foram impostas, mas eles quiseram mais. E com todos os limões, com todas as dificuldades que a vida lhes impôs, eles fizeram não apenas uma limonada maravilhosa, mas um mousse e uma torta de limão também.

Ao redor, pequenas fungadas eram possíveis de serem ouvidas. Apenas as crianças pareciam alheias a profundidade que o discurso ia tomando, enquanto os seus pais iam se emocionando.

De onde estavam sentados, abraçados, Paulo e Alicia já choravam copiosamente, ela com a cabeça apoiada no ombro do marido.

─ Você, minha querida Alicia, deu duas, na verdade agora três, das quatro maiores riquezas que eu e Lilian temos, que são os nossos netos. E você soube ver, moldar e trazer à tona tudo de melhor que havia dentro daquele peralta truculento que o meu filho sempre foi, e fazer dele o homem que é hoje.

O homem prosseguiu, bastante emocionado, e conseguiu arrancar alguns risinhos pela forma que se referiu ao filho. Ele então se virou para o mesmo, e era possível ver o seu esforço para não desabar em lágrimas.

─ Paulo... Eu nunca fui uma pessoa de falar muito sobre sentimentos, e enquanto você crescia, nós mais brigávamos e discutíamos, mas isso nunca o impediu de vir até mim nos momentos difíceis, de medo, de dúvida. E eu me lembro, como se fosse ainda ontem, da manhã em que o Lucas nasceu. Você estava ali, segurando aquele pacotinho de gente, completamente amedrontado, e me encarou e perguntou: pai, o que eu faço agora? E eu me vi ali, mais de duas décadas antes, com você recém-nascido no colo e pensando a mesma coisa: o que eu faço agora? E ali eu soube o que fazer, mas nunca soube exatamente como fazer. E eu te disse, e você soube exatamente como fazer. Eu te disse: dê a ele o que você tem de melhor, que é o seu amor. E você deu, incondicionalmente. Para ele, para a Isis... Você se entregou a eles de corpo e alma, e hoje, você é um pai cem vezes melhor do que eu fui para você e a sua irmã. Você é um exemplo de pai e de marido para todos que estão à sua volta. E eu só me lembro daquele moleque peralta e bagunceiro, que fugia de casa e quase destruía a escola, e eu mal posso dizer o quão orgulhoso eu fico em ver o homem que você se tornou a partir daquilo, sabendo manter a sua essência e o que havia de melhor nela. ─ algumas lágrimas escorreram, e o homem tratou de secar ─ E eu peço desculpa aos presentes por ter me alongado, mas nunca foi fácil para mim falar sobre o que sinto, e eu quis deixar vir agora. Então, eu proponho um brinde aos novamente recém-casados, que mesmo após seis anos como marido e mulher, e quase quinze anos como namorados, ainda mantém esse olhar de como se fosse o primeiro encontro, e esse sorriso de que não tem ninguém mais no mundo que eles gostariam de ver, que não um ao outro. Que todos possam aprender com isso. Saúde.

20 Anos Depois - A salvação da Escola MundialOnde histórias criam vida. Descubra agora