Falling (L.H.)

26. Still have me

Por Luke.

Paro para observar Beatrice enquanto ela entra no apartamento. Ela ainda parece tensa, o que é compreensível. Ela não disse uma palavra sequer no carro, enquanto eu fiquei perguntando de cinco em cinco minutos como ela estava e Jake ficava se desculpando sem parar. Eu estava nervoso, em minha defesa. Beatrice teve uma crise de pânico por algo que poderia ter sido evitado. Eu e Jake erramos. Fomos tão idiotas e irresponsáveis que não conseguimos olhar a situação com outros olhos. Era uma brincadeira para nós, mas para Beatrice foi um pesadelo sendo relembrado.

- Bea... -chamei trancando a porta, observando-a parada no meio da sala com o olhar perdido-

- Estou bem. -ela finalmente me responde, mas não me sinto mais calmo com sua resposta- Vou tomar um banho. -ela sussurra e sem me olhar uma vez sequer, caminha para o corredor-

- Beatrice! -chamo e ela para- Não quer conversar sobre o que aconteceu? -pergunto e ela se vira para mim com um sorriso ensaiado-

- Estou bem. -ela repete e eu me aproximo-

- Ok, eu entendi. -murmuro e inconscientemente passo a mão pelo seu braço- Quer falar sobre o que aconteceu? -volto a perguntar-

- Não. -ela me responde- Não há o que falar. Peço desculpas por ter agido daquela forma.

- Não há porque pedir desculpas. -eu sussurro e ela respira fundo-

- Nesse caso, não há o que falar mesmo. -ela se vira para seguir seu caminho, mas eu seguro sua mão-

- Bee, sou eu. -sussurro e ela me olha com o semblante sério-

- Exatamente. É você. -ela afirma e balança a cabeça- Você me odeia, Luke. Já cansou de dizer que não se importa, que não quer se aproximar.

- É diferente agora. -me defendo e ela bufa-

- Não é diferente, não. Eu sigo sendo a mesma pessoa. Sigo sendo a responsável pelo acidente, a responsável pela morte do Michael. -seu queixo treme e sua voz embarga- E eu não sei lidar com isso. Não sei lidar com essa inconstância. -ela se solta e se afasta- Agradeço por ter me segurado quando quebrei, e me desculpe por ter te colocado nessa situação. -ela me dá as costas e entra no banheiro-

Minha cabeça monta formas de me defender das suas palavras, mas sei que ela está certa. Não há o que dizer. Ela tem toda razão.

Mas meu peito ainda está apertado em pura angústia, só de lembrar do seu corpo tremendo e do seu choro quebrado. Entendo o que ela quis dizer sobre essa inconstância, também não entendia por que as vezes a queria longe, mas as vezes a queria perto. Isso sem falar na burrada que foi beijá-la não só uma, mas duas vezes.

Acontece que sou acostumado com ela. Beatrice passou sua vida nos meus braços, ao meu redor, sob meus olhos. Mesmo que tenha uma parte de mim hoje que só queira distância, meu corpo e minha mente ainda se conflitam com a falta que sinto dela. Sinto tanta falta do passado. Sinto falta de mim mesmo.

Penso em esperar até que saia do banheiro, mas preciso de um cigarro, então vou para a varanda e me sento em um dos bancos, sentindo a brisa da noite bater em meu rosto enquanto acendo um. A noite foi cheia e turbulenta. Venci uma luta contra Grant depois de duas semanas, o persegui em um carro junto com o desgraçado do Jake, assisti Beatrice em uma crise de pânico assustadora e agora estou aqui, sentindo a brisa da noite. Soa tão patético essa bagunça da minha vida.

Não deixo de olhar vez ou outra para dentro do apartamento, esperando para vê-la sair pelo corredor. Sinto que ainda não terminei de ajudá-la essa noite. Sinto que ela ainda precisa de mim, por mais que não queira.