Por Luke.
Está no inicio da tarde quando eu paro o carro e desço do mesmo. Polly, a garota que dormiu comigo, ocupou toda a minha manhã, e sinceramente não tenho do que me queixar sobre aquilo. Perdi o café da manhã da minha mãe, mas pela leveza que sinto no corpo agora, seu que valeu a pena.
- Você demorou. –escuto assim que desço do carro na vaga em frente à garagem da casa dos meus pais-
- Poxa, bom dia, mãe. –solto sorrindo cinicamente e ela ri, soprando uma mecha do cabelo que caiu no rosto-
- Bom dia, razão do meu viver. Você demorou. –sua voz é doce, mas o tom sarcástico ainda está lá. Herdei isso dela-
Ela está sentada na grama, em frente a seu jardim tão bem cuidado. Usa uma regata velha e um macacão jeans mais velho ainda por cima. A cena é tão rotineira que nem perco meu tempo observando a naturalidade cômica daquele momento. Me inclino quando passo por ela e beijo o topo de sua cabeça, aspirando seu cheiro único de mãe. Caminho em direção a casa, vendo meu pai sentado na varanda, em uma cadeira de balanço, com o jornal dobrado na mão.
Essa cena, apesar de natural, era mais rara de ver. Meu pai é médico, o que significa que são raros os momentos que ele está em casa. Ainda mais usando uma calça xadrez de pijama e uma camiseta branca tão velha quanto o look da minha mãe.
- Oi, pai. –murmuro e ele sorri para mim-
- Oi, razão do meu viver. –ele fala e eu solto uma risada, sentando em um degrau da varanda, fitando minha mãe que ainda mexe em suas flores-
Sinto que meu pai me olha e não preciso retribuir o olhar para entender o que ele está pensando. Quer falar de Beatrice, assim como os meninos querem, e assim como minha mãe deve querer também. Sinto que até se eu fugisse para o outro lado do planeta, ainda teria alguém querendo falar sobre Beatrice comigo. É um assunto que eu não consigo fugir, mas sigo tentando.
- Devemos perguntar do machucado no rosto? –minha mãe pergunta olhando para meu pai e viro o rosto para o encarar também-
- Devemos, Luke? –ele pergunta e eu suspiro-
- Eu não recomendaria. –dou de ombros e ouço seu suspiro reprovador-
O bom de ter pais mais liberais era que eles não me pressionariam a saber sobre minha vida. Desde que sai da casa deles, tudo o que faço posso finalmente guardar para mim. Não depender mais dos pais é libertador. Eles podem até não gostar disso, mas aceitam. Não tem o que fazer. Posso guardar qualquer coisa deles. Não sou mais obrigado a contar.
- Às vezes acho que é um criminoso. –minha mãe fala, mas há humor em sua voz, por isso sei que é brincadeira-
- Talvez eu seja. –respondo e ela me lança um olhar zangado-
- Corto suas orelhas, filhinho. –ela fala e eu sorrio- Seu pai foi a igreja ontem. –ela comenta e eu encaro meus tênis por alguns segundos, esperando que ela continue-
- Um homem muito religioso. –falo abrindo um sorriso que ela sabe que é falso-
- Sabe quem ele encontrou? –ela pergunta e eu bufo-
- Sei, mãe. –respondo perdendo o pouco humor que ainda me restava-
- Ótimo. Então não será nenhuma surpresa quando encontra-la aqui para jantar hoje à noite. –ela fala no mesmo tom, também perdendo o humor na sua voz-
Não me abalo com o tom duro em sua voz. Cerro minha mandíbula e fito seu rosto calmo me encarando.
- Não virei para o jantar. –falo com a voz branda, mesmo que esteja zangado por dentro-
- Vir? Ah, não, filho. Você vai ficar. –ela fala e não há brecha para que eu discorde, mas mesmo assim eu retruco-
- Não, na verdade, não vou. –me levanto e consigo ver quando ela balança a cabeça-
- Está fugindo de Beatrice? –ouço a voz do meu pai e paro de andar- Não podemos falar sobre ela, não podemos falar sobre os machucados no seu rosto. Está cada vez mais difícil manter uma comunicação aqui, Luke. –sua voz é cansada-
- Vocês podiam ter preparado o terreno antes de soltar sobre o jantar. –eu falo girando meu chaveiro nos dedos-
- Eu avisei. –ouço minha mãe falar para o meu pai que bufa, soltando uma risada-
- Foi você que falou. –ele acusa e eu sorrio fracamente, balançando a cabeça- Luke? –ele chama e eu me viro para olha-lo- Fique para o jantar. –era um pedido, não uma intimação, o que amenizou um pouco a situação- Sei o que pensa dela, não concordo com nada, acho que está tremendamente errado, mas sei que vai entender isso com o tempo. Fique para o jantar. –ele pede e eu suspiro, controlando uma careta de desgosto-
- O que vai ter de sobremesa? –pergunto e o sorriso que meu pai abre faz valer a pena a longa noite que serei obrigado a suportar-
- O que você quiser preparar. –minha mãe fala e eu balanço a cabeça-
- Não acredito que eu vou ter que cozinhar. –reclamo e ela ri-
- Só a sobremesa, seu preguiçoso. Eu e seu pai faremos comida mexicana. –ela fala e passa por mim-
Meu pai lança um olhar apaixonado para ela que entra em casa sem olhar para trás. Os dois são completamente diferentes, mas se amam de verdade e é bonito de ver.
- Não posso ficar. -me lembro de repente e meu pai me olha esperando uma explicação- Tenho um compromisso agora de tarde. -dou de ombros e ele suspira-
- Você vem de noite. – não era uma pergunta, mas assenti revirando os olhos-
- Eu compro alguma sobremesa antes de vir a noite. -falo e faço uma careta de desgosto quando vejo um sorriso debochado do meu pai- Não pense que estou animado para esse jantar, pai.
- Não estou pensando isso. Estou sorrindo porque eu estou animado para esse jantar. -ele ri e eu bufo- A abelhinha está de volta, Luke. As coisas podem voltar ao normal agora.
- Não, não podem. Por culpa da abelhinha. -resmungo me sentindo repetitivo e melancólico enquanto entro em casa, ainda conseguindo ouvir o suspiro triste do meu pai-
Fico pouco mais de uma hora com eles, e depois vou para meu compromisso. Quando chego na academia, o estacionamento está vazio, coisa que é rara de acontecer. Encontro Louise nos fundos do galpão, sentada no meio do ringue se alongando. Ela me olha zangada assim que largo minha mochila em uma cadeira.
- Está atrasado. -ela reclama e eu sorrio-
- Achei que me diria outra coisa quando me visse. -falei e ela abriu um sorriso desdenhoso-
- Você acabou com aquele otário do Grant ontem a noite. -ela diz exatamente o que eu queria ouvir e meu sorriso se expande-
- Semana que vem tem mais, treinadora. -eu falo e seu sorriso de fecha-
- E para acabar com ele de novo você precisa chegar no horário nos treinos, seu imbecil. -ela reclama e eu faço uma careta-
- É sábado, porra. Me dá um desconto. -resmungo-
- Estava com seus pais? -ela pergunta e eu assinto, subindo no ringue e ajudando Louise levantar- Perdoado então. Agora faça sessenta flexões para começar. -ela passa dando um tapinha no meu rosto-
- Achei que estivesse perdoado. -murmuro e ela ri-
- Pelo atraso você está. Mas ontem mandei você não beber no bar do meu irmão e você desrespeitou essa ordem. -ela fala e eu suspiro- Sessenta flexões, campeão. -ela aponta o chão do ringue e eu começo, porque sei que o melhor a fazer agora é obedecer-
Observo minha treinadora descer do ringue e se sentar em uma das cadeiras me observando. Me recordo de quando ela me fez a proposta de me treinar. Eu havia levado uma bela surra na minha primeira luta no bar do Hunter e enquanto seu irmão me falava palavras motivadoras para me fazer desistir dessa ideia, ela apareceu e me falou “você é péssimo com técnicas, garoto, mas tem um bom gancho de direita. Posso te fazer ficar melhor”. Me sentia filho de Louise as vezes, pois sentia que ela via o que a dor fez comigo. Ela devia ter a idade da minha mãe, e apesar de já ter uma mãe incrível, era bom ter também uma mãe que entendia o caos que eu tinha dentro de mim. Ela via a dor e a raiva que me dominava, e me fazia lidar cada vez melhor com elas.******
Eu sei que sumi completamente, e pode até parecer que desisti da fic antes mesmo de desenrolar essa história, mas NÃO DESISTI! Vocês não têm noção do quanto eu penso nessa fic e quantas ideias eu tenho para ela. Não desistam de mim, prometo que vou me organizar para começar a postar direitinho, sem sumiços e coisas assim.
Espero que estejam gostando!
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Falling (L.H.)
FanfictionQuando um acidente tira de Beatrice seu irmão, ela precisa aprender a lidar com a perda e a culpa que sente. Por um tempo ela se afasta da vida que costumava ter, fugindo dos costumes e das pessoas que antes lhe rodeavam. Um ano depois do acidente...