24. Broken

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Por luke.

Desperto com meu celular vibrando no bolso. Demoro uns segundos para entender onde estou e porque estou tão confortável. Demoro segundos depois disso para entender que fiz merda e ferrei tudo.
Beatrice dorme encolhida no sofá, com o rosto corado e a mão pousada no meu peito. Ficaria bravo por essa invasão do meu espaço pessoal se fosse hipócrita e tivesse amnésia alcoólica, o que não é o caso. Não é o caso mesmo! Eu tenho meu braço em volta do seu corpo pequeno e eu a puxo para mim mesmo que não tenhamos dormido nessa posição. Eu a procurei, eu a puxei e eu a acomodei assim perto de mim. Assim como eu a beijei durante a noite, eu a segurei. Eu a quis.
Fito o teto do apartamento sentindo sua respiração bater de leve na curva do meu pescoço. Sinto que ferrei tudo. Ferrei minha relação conturbada com ela, ferrei minha cabeça, ferrei a dela. Ferrei absolutamente tudo!
Me desvencilho do seu corpo pequeno devagar para não acorda-la e pego meu celular no bolso enquanto caminho para o meu quarto sem olhar para trás. Atendo a ligação sem ver quem está me ligando, pois se soubesse não teria atendido.

- Onde diabos você se meteu? -Louise é direta e sinto a seriedade na sua voz-
- Estou em casa, Louise. -respondo pigarreando para melhorar minha voz rouca de sono-
- Você tem treino, garoto. -ela fala e suspira cansada- Não sei o que houve ontem, mas Hunter está aqui e está esperando você.
- Não devo explicações para Hunter, Louise. -solto na defensiva-
- Não acho que ele esteja a procura de explicações, garoto. Meu irmão quer apenas conversar. -ela fala, mas nem ela acredita. Solto uma risada seca e ela bufa- Apenas venha, ok? Já fez merda ontem! 

É a contragosto que me enfio no banheiro e tomo um banho rápido. Me visto, pego minha mochila e passo na cozinha para pegar algo para comer. Beatrice está lá, encostada no balcão, parecendo estudar a cafeteira, com os cotovelos apoiados no mármore, e com a bunda empinada. Bela bunda, inclusive.

Ela se ergue assim que ouve meus passos. Seu cabelo está preso em um coque bagunçado, a blusa está amassada e torta no corpo e ela tem os olhos inchados de sono, mas é linda. A peste é linda.

Ela engole em seco, desvia o olhar e volta a fitar a cafeteira. Não sei ao certo de gosto dessa reação. Um lado meu quer que ela faça exatamente isso: Me evite. Entretanto, meu outro lado detesta esse comportamento. Quero que ela tente se aproximar. Droga, quero beija-la de novo.

Me aproximo de suas costas e me inclino perto dela, apertando um botão que faz a cafeteira começar a funcionar. Sinto seu corpo tencionar prontamente, mas ela não se afasta. Ela espera.

- É o primeiro botão. -murmuro e me afasto, vendo Beatrice soltar a respiração que segurava-
- Obrigada. -murmura e me fita, parecendo cautelosa- Vai sair? -pergunta e eu solto uma risada seca-
- Não é porque dividimos o sofá essa noite que vamos fingir uma amizade que não existe mais, anjo. -eu falo e ela nitidamente não esperava essa resposta- Resumindo, minha vida não é da sua conta.
- Você fala como se eu tivesse lhe chamado para o sofá e pedido por sua companhia. -ela abre um sorriso que beira o deboche, mas vejo seu queixo tremer-
- Eu estava bêbado, Bea. -murmuro e tateio a calça, procurando meus cigarros-
- E me procurou. -ela acusa e eu me aproximo-
- Procurei. -admito baixinho e ela enfle em seco, com os olhos vermelhos- Porque estava com preguiça de procurar por outra. Porque você estava disponível e beija bem. Porque foi fácil. -mal vejo o choque tomar seu rosto e logo sinto a ardencia na minha bochecha- Não queria ser tratada como as outras, Beatrice?

Me odeio cada vez mais conforme as palavras deixam minha boca, mas não consigo parar. O tapa dói mais do que deveria, já que meu rosto já estava machucado, mas sequer reajo negativamente. Eu o mereci.

- Bea... -começo, mas ela nega com a cabeça, limpando com raiva as lágrimas que acaba derramando-
- Você está certo. Não faz mais sentido insistir em uma amizade que não existe mais. É burrice minha tentar consertar algo com alguém como você. Maldoso demais. -ela me olha e está tremendo- Você já era assim? -ela pergunta de repente e eu me encolho, me sentindo o mais sujo dos lixos- Quando eramos amigos de verdade. Já era essa pessoa, Luke? Eu que não via?
- Talvez. -respondo e ela assente-
- Talvez. -repete e engole em seco- Entendi. -ela se afasta, limpa o rosto e passa as mãos pelos cabelos- Michael não devia ver também. Ele nunca seria amigo de alguém assim. -ela se encolhe e passa por mim, me deixando sozinho na cozinha-

Minha cabeça está latejando quando saio de casa. Acelero mais do que devo enquanto dirijo para a academia de Louise. Quando chego e desço do carro, a angústia que tento controlar desde que Beatrice me deixou me doma por completo e quando vejo Hunter na porta da academia fumando um cigarro, a única coisa que consigo fazer é cobrir meu rosto com as duas mãos, sentindo os soluços se embolarem na garganta e as lágrimas molharem meu rosto. É vergonhoso, constrangedor e hipócrita. Fiz a menina chorar, e devia me sentir melhor com isso, mas me sinto ferido.
Mais do que ferido. A raiva que sempre sinto correr junto com meu sangue parece borbulhar dentro de mim. Raiva de mim mesmo. Me odeio mais que a ela.

- Luke? -Hunter me chama e sei que se aproxima- Ah, garoto.

Sinto-o me abraçar com força e só ouço um suspiro cansado. Não é a primeira vez que isso acontece. Não é a primeira vez que Hunter me apoia quando caio. Quando quebro. Acontece com frequência.
Estou quebrado tanto quanto ela.

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Um capítulo minúsculo e que demorou um século para sair. Hoje não foi um dia fácil pra mim, então o final do capítulo acabou bad vibes pra combinar com meu mood. Desculpem por isso.
E eu sei que o Luke é um escroto as vezes, mas vou passar um pano rapidinho, pode ser? Ele está quebrado. Ele ainda não sabe lidar com a dor de perder o melhor amigo. Ele não sabe lidar com Beatrice e com toda a situação. Ele fere, mas não é mau. Ele só está ferido também.
Pensem nisso, ok?
Volto em breve. ❤️

Falling (L.H.)Onde histórias criam vida. Descubra agora