33. The problem was always you

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Por Beatrice.

Encaro a casa dos meus pais e sinto que não estou em casa. Me surpreendo com essa sensação. Cresci nessa casa, vivi minha vida inteira nela, e não me sinto em casa. Sinto vontade de ir para o apartamento me afundar no sofá e desenhar, enquanto Ashton prepara algo para comermos e Calum estuda na minha frente, na mesinha de centro. Minha casa. Onde me sinto confortável.

Dou passos hesitantes, ignorando o alerta na minha cabeça para não entrar. Não bater na porta, não encarar meu pai. Faço o contrário. Bato na porta e aguardo, mexendo na alça da mochila para distrair minhas mãos tremulas.

Quem abre a porta é exatamente ele. Ele não demonstra surpresa ao me ver, mas também não há expressão alguma na sua cara. Acho que meu pai não sente. Ele simplesmente é incapaz de fazer isso. Ele abre mais a porta, me dá espaço para entrar e eu, mesmo querendo negar com a cabeça, dou passos lentos para dentro da casa. Olho em volta e sinto um frio na barriga. Não em sinto nem um pouco confortável no ambiente. Só quero fugir.

- Onde está minha mãe? -pergunto e ele passa por mim, indo para a sala e se sentando no sofá-

- Foi tomar um chá com umas amigas. -ele responde dando de ombros- Veio pegar seu celular, eu suponho. -ele fala e eu assinto- Sente-se, Beatrice. -ele ordena e mesmo querendo recusar, e mesmo sabendo que posso, minhas pernas me traem e eu me aproximo de uma das poltronas, me sentando e largando a mochila no chão. Ele fita a mochila e sei que não gosta do que fiz, mas ignora e abre um sorriso pequeno e falso- Como está a faculdade? -pergunta e eu encaro a mesa de centro, me recusando a encara-lo-

- Como deve estar. -respondo-

- Fico feliz. -ele responde e ergo os olhos para encara-lo- Fico feliz em saber que se reaproximou de Ethan. É um bom garoto, fez bem a você. -ele comenta e eu nego com a cabeça-

- Não foi o que disse há um ano. -sussurro e ele balança a cabeça-

- O problema nunca foi ele, Beatrice. O problema sempre foi você. -ele fala e sinto o nojo que ele tem de mim. Sempre senti, mas nunca entendi-

- Certo. -respondo com a voz tremula e me levanto, sentindo que meu limite estava perto, e precisando sair dessa casa- Onde está meu celular? -pergunto pegando minha mochila-

Ele não se abala. Permanece sentado me fitando, me analisando. Eu o encaro de volta, aguardo em silencio.

- O que anda fazendo? -ele pergunta e fico confusa- Está pagando o aluguel como?

- Meu celular, pai. -peço novamente e ele sorri-

- Duvido que esteja morando de graça no apartamento. O que anda fazendo, Beatrice? -ele pergunta e permaneço em silencio- Se bem que, do jeito que sempre se fez de vítima para os amigos de Michael, é bem compreensível que eles deixem você morar lá por pena. Pena da menininha infeliz que você é. -ele debocha e se levanta-

Eu congelo no lugar, vendo-o passar por mim e caminhar até o aparador da sala. De lá ele pega meu celular e me estende. Eu o pego, o guardo no bolso e me preparo para ir embora.

- Como está minha mãe? -pergunto de repente e ele me olha, afiado-

- Ah, agora você se importa? -ele debocha e eu apenas aguardo- Como você acha que ela está? -ele pergunta e me sinto cansada, como se ele sugasse toda a minha energia-

- Hoje faz um ano. -eu murmuro e não sei bem porque-

Meu pai me olha dos pés à cabeça com nojo. Sei que no fundo ele sofre. Não é possível que ele seja tão cruel a ponto de não sofrer a morte do próprio filho. Sei que o ódio que sempre sentiu por mim só aumentou depois do acidente.

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⏰ Última atualização: Mar 28, 2022 ⏰

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Falling (L.H.)Onde histórias criam vida. Descubra agora