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Por Beatrice.

Meu peito aperta assim que Grant para o carro na frente da minha casa. Por mais que estivesse apreensiva quando ele ofereceu carona, Grant conseguiu me tranquilizar com seu comportamento. Ele não é nada do que dá a impressão de ser. Ele puxou assunto comigo sobre a faculdade, sobre trabalhar no bar, sobre minha amizade com a Lucy e falou um pouco sobre si também. Falou sobre a faculdade que ele decidiu sair, pois nunca gostou de estudar, falou um pouco sobre as lutas e foi apenas isso. Duas pessoas se conhecendo. Claro que ele flertou comigo de vez em quando, mas não foi algo que me incomodou. Me despedi dele ganhando um beijo no canto da boca e desci do carro. Ele ainda esperou eu entrar em casa para partir com o carro. Quase um cavalheiro.

A leveza que senti dentro do carro evapora assim que fecho a porta de casa. A sala está vazia e a casa silenciosa enquanto subo para o meu quarto.

- Olha quem resolveu aparecer. -ouço a voz do meu pai assim que chego ao corredor e respiro fundo, virando meu corpo para poder encontra-lo-

Apesar de já ser tarde, ele ainda usa calça social e camisa de botões, mas agora as mangas estão dobradas. Ele está na porta do seu escritório, encostado no batente da porta com os braços cruzados.

- A janela estava trancada? - sua voz é sarcástica e amarga, como sempre. Não me lembro de estar sozinha com meu pai e ele usar um tom diferente-

- Usei a porta, pai. Ainda moro aqui. -murmurei e minha voz saiu mais cansada do que esperava-

- Ainda. -ele sorri debochado e assente- O que acha que está fazendo, Beatrice? -indaga- Que tipo de pessoa está se tornando? Que absurdo de roupa é essa que está usando? -sua voz se torna mais séria a cada palavra dita - Vulgar. É esse tipo de pessoa que está se tornando. Uma menina vulgar, caminhando para se tornar uma mulher vulgar.

- Eu não... -tento falar, mas me faltam palavras. Não sei argumentar com meu pai, ele me cansa, me enfraquece-

- Não o que? Não sabe do que eu estou falando? –ele ri amargamente e eu me encolho- Sua memória é tão ruim assim, Beatrice? –ele sabe que me atingiu pois eu engulo em seco e devo me encolher ainda mais, querendo sumir dentro de mim mesma- Eu ainda me lembro, Bea. –ele está sorrindo, sei que está. Sinto o vazio dentro de mim, o vazio que não me deixa há um ano-

- Sei que se lembra. –solto com a amargura que não consigo conter-

- Como eu me esqueceria da filha suja que eu tenho? Que não respeitava seus princípios, sua moral. Que ignorou e jogou para o alto o respeito e a boa educação que sua mãe lhe deu. Que foi vulgar. –ele se aproxima e eu me encolho mais ainda, quase me curvando- Suja. –ele sussurra na minha frente e eu engulo o nó na minha garganta-

- Imunda. –sussurro fitando o chão- Como minha linda família. –me arrependo assim que termino de falar, mas não há volta. Sei disso no momento que a mão do meu pai se choca com meu rosto e eu cambaleio contra a porta do meu quarto- Você pediu para que o assunto nunca fosse mencionado. –sussurro com a voz embargada, me segurando na maçaneta da porta- Pedir. –rio amargamente sentindo meu rosto molhado pelas lágrimas- Você mandou, pai. Ordenou como o soberano da casa, o líder, e dono de tudo. Dono da porra toda! –solto e ofego com mais um tapa. Sinto meu lábio cortar e solto um soluço, abrindo a porta do quarto para me equilibrar em algum móvel-

Não tento fechar a porta. Conheço meu pai bem o suficiente para saber que não adianta. Me conheço bem o suficiente para saber que cheguei ao meu limite. Ele sabe. Sabe que cruzou a linha e não se arrepende. Sabe que tocar nesse assunto me deixaria na beira do meu abismo. Que quebraria a máscara que vesti desde que aconteceu tudo.

- Cansa, não é? –ele solta entrando no meu quarto enquanto cambaleio para a minha cama e cubro meu rosto com as mãos- Fingir ser uma pessoa boa, fingir ser uma menina correta. Não uma vagabunda que sempre foi. –ele fala e sinto meu cabelo ser puxado com força-

Ele é cruel demais. Isso se torna mais claro ainda quando ele me força a me encarar no espelho da minha penteadeira. Minha boca suja de sangue, meu cabelo desgrenhado em sua mão, meu rosto molhado pelas lágrimas, meus olhos borrados. Cansada.

- Agora eu quero saber, você não cansa de fazer sua mãe sofrer? Fez sua mãe perder um filho. –ele pergunta e eu me curvo assim que me solta. Me sufoco com lembranças e com os soluços- Michael morreu por sua causa. –ele diz as palavras se agachando para ficar na minha altura e as palavras me cortam e me machucam mais do os tapas- Porque não sabia resolver seus problemas sozinha. Porque gostava de se fazer de vítima. Gostava de dizer que o papai é ruim demais, que precisava dele. –seu olhar quase me fere também. É forte demais, tem ódio demais- Sua mãe sente essa dor todo dia, Beatrice. Se corrói por dentro todos os dias. Estava definhando nessa casa nos últimos meses. Por isso eu te trouxe de volta. Para ela lembrar que ainda tem uma filha. Lembrar que infelizmente, foi você que sobrou. –ele se levanta e eu puxo o ar com dificuldade- E agora você faz isso? Decide se mudar? –ele pergunta como se fosse um absurdo- E morar naquele apartamento? Que era de Michael? Você é doente, Beatrice? Gosta de fazer sua mãe sofrer? Não acha que é suficiente? A dor de perder um filho... –seu silencio é o que ele me dá para me preparar. Sei disso. O conheço- Pensei que conhecia essa dor, filha.

As lágrimas param assim como o ar que não chega aos meus pulmões. Ergo meus olhos e fito meu pai, sentindo tudo em mim congelar. O odeio tanto que poderia mata-lo.

Ele sabe o que me faz. Sabe o que fez. Sabe a dor que me causou, sabe tudo. Meu pai sabe tudo. Sabe como me ferir, como me matar aos pouquinhos.

Ao notar que já terminou, ele suspira e balança a cabeça, desapontado comigo e vai embora. Fecha a porta com calma, sabendo que estraçalhou meu coração em poucas palavras e vai dormir com calma e paz.

Sinto dor por todo meu corpo. Volto a me olhar no espelho e odeio o que eu vejo. Odeio o que eu sou, o que eu me tornei, e o que eu era. Desvio o olhar e fito a porta aberta do meu closet. Consigo avistar a mala de rodinhas em cima da prateleira mais alta do armário. Me levanto, mesmo com dor e caminho até ela.

Um fio de esperança ainda corre dentro de mim e é nele que me seguro. Preciso sair dessa casa. Preciso salvar pelo menos uma pessoa. Eu mesma.


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*****

Um capítulo pequeno e pesado para dizer que voltei.

Vou começar a escrever o próximo já já, então talvez não demore tanto para sair. 

Hoje vou tentar postar nos stories o elenco da fic e salvar nos destaques, então se ainda não me seguiu no instagram, peço de coração para que siga (@a.adrimont)

Estou muito afim de responder algumas perguntas de vocês por lá, então para isso preciso de perguntas de vocês por lá hahahaha

Volto em breve com a mudança, finalmente...

Falling (L.H.)Onde histórias criam vida. Descubra agora