Quando um acidente tira de Beatrice seu irmão, ela precisa aprender a lidar com a perda e a culpa que sente. Por um tempo ela se afasta da vida que costumava ter, fugindo dos costumes e das pessoas que antes lhe rodeavam.
Um ano depois do acidente...
Não gosto da sensação que me toma enquanto vejo Beatrice se afastar e caminhar na direção de Ashton. Já fazia um bom tempo que eu não chegava perto dela desse jeito e a sensação de ter sua mão me segurando, assim tão perto, é algo que me atordoa. Não gosto disso. Da situação em geral. Não gosto que ela tenha voltado, não gosto que ela esteja no bar, não gosto da saia curta que usa, nem da blusa decotada. Não gosto dos pelo menos cinco homens que viram o pescoço para vê-la passar. Não gosto dela! Preciso me lembrar disso e prestar atenção. Beatrice estragou toda a paz que eu tinha. Atordoou minha cabeça, mudou tudo.
- Posso saber porque ainda não trocou de roupa? -escuto a voz de Louise e respiro fundo, caminhando pelo corredor e virando meu rosto para fita-la, passando por ela para entrar no vestiário-
- Um minuto. -peço e sei que ela não gosta. Louise é sistemática e organizada. Minha bagunça a incomoda-
- Quem era aquela garotinha? -ela pergunta abrindo um sorriso curioso e eu franzo o cenho, entrando em um diz cubos para trocar de roupa-
- Ninguém. -respondo, mesmo ouvindo meus pensamentos zombarem de mim. Tiro a camiseta e a calça jeans que eu uso, dobrando as peças de qualquer jeito-
- Ah, jura? -ela debochou e ouvi o barulho do zíper da minha mochila. Meio minuto depois minha bermuda aparece na parte de cima do cubículo e eu a visto-
- Lembra quando eu contei a história da morte do meu melhor amigo? -abro a porta e observo Louise sentada em um dos bancos, segurando uma garrafa de água. Ela assente, curiosa e espera. Me sinto confortável de dividir isso com ela. Louise é de confiança- Aquela é a irmã dele. -resumir Beatrice dessa forma soa errado na minha cabeça, mas aceito, pois preciso me lembrar que é só isso que Beatrice é hoje em dia-
- Oh, Luke. -sua voz sai entre um suspiro e eu franzo o cenho mais uma vez, sentando ao seu lado- Quando me falou dela antes, eu pintei uma imagem na minha cabeça tão diferente da realidade que vi hoje.
- Porquê? -pergunto pegando uma atadura e começando a enrolar parte dos meus dedos-
- Porque você falou que ela era mimada. Imaginei uma menina nojentinha e entojada. -ela responde e enrola uma atadura em outra mão- A menina que estava naquele corredor com você parecia tão... Preocupada. De um jeito bonito, entende? Ela parece se importar tanto com você. -ela sorri e eu apoio os cotovelos nas pernas, virando minha cabeça para ela-
- Para que isso agora? -pergunto e bufo- Sério, Louise, você não quer falar sobre aquela garota agora. Você quer que a minha cabeça esteja na porra daquele ringue. Quer que eu esteja focado em quebrar a cara de seja quem for naquela merda. -paro de falar quando vejo o olhar cheio de compaixão que Louise me lança-
- Quero, campeão. Mas sei que não vai estar. -ela sorri e bate no meu ombro, se levantando-
Ergo o rosto e me levanto assim que Jake para na porta do vestiário. Ele abre um sorriso animado quando me vê levantar. O conheci pouco depois de começar os treinos com Louise. Era apenas um garoto interessado em organizar as lutas. Ele gostava de se chamar de “meu empresário”. Era engraçado até o ponto de começar a me irritar.
- Quem era aquela princesa com você no corredor? -ele pergunta substituindo o sorriso animado por um sorriso malicioso e eu passo por ele- É sua? -ele me segue e eu balanço a cabeça, tensionando as costas e fechando os punhos- Se não for, posso investir? Vi que ela está com os meninos e a garçonete agora. Uma gostosinha. -ele segue falando atrás de mim e eu sigo o ignorando, sentindo-me cada vez mais tenso- Posso, Luke? -ele insiste e eu me viro para ele, parando de caminhar e o assustando com o movimento abrupto-
- Pode calar a boca. -murmuro com a voz séria e ouço o suspiro cansado de Louise atrás dele- Não é minha, mas também não será sua. E se eu ver, mesmo que em cima do ringue, você tentando algo com ela, eu arranco a droga da sua língua. Você entendeu? -aperto os punhos com força, sentindo meu maxilar apertado e a raiva que tentei controlar aflorar na minha pele-
- Quem diabos é aquela garota? -ele pergunta baixinho para Louise e eu me aproximo-
- Você entendeu? -pergunto novamente-
- Entendi. Entendi, porra. -ele resmunga nervoso e revira os olhos- Guarda essa raiva para o ringue, campeão. -seu tom é debochado, mas consigo ver um olhar assustado em seu rosto-
- Isso eu tenho de sobra, Jake. – volto a me virar e caminhar pelo corredor-
Os gritos que já estavam cessados retornam assim que começo a me aproximar do ringue. As pessoas abrem caminho para que eu passe, com o otário do Jake e Louise atrás de mim. Algumas pessoas me cumprimentam, algumas dão tapinhas no meu ombro, outras acenam, como se eu fosse um lutador famoso ou algo do tipo. Não vejo desse jeito.
Não é divertido. O que eu faço não tem o glamour dos filmes, também não é algo legal. É apenas algo que me faz sentir vivo. A adrenalina que me atinge quando subi no ringue e encaro meu oponente é tanta que flexiono o pescoço, estalando o osso. Abro um sorriso sarcástico para ele, e seu olhar raivoso para mim me mostra que Grant ainda não superou a surra que levou na semana passada.
Se na semana passada eu acabei com ele de uma forma mais pesada, só porque tinha a cabeça nublada com o retorno de Beatrice para a cidade, a luta de hoje talvez não seja diferente. Talvez seja pior, levando em conta que a garota está no meio dessa multidão desgraçada. Corro meus olhos pelas pessoas enquanto ouço Bill, o “locutor” falar nossos nomes e não demoro para ver primeiro Calum com Lucy pendurada em seu pescoço e Ashton ao seu lado. Os três olham e falam, praticamente ao mesmo tempo com Beatrice. Ela ainda parece tensa como quando estávamos no corredor. Seus braços estão cruzados, como se ela estivesse se abraçando. Balanço a cabeça quando vejo Jake se aproximar dos quatro. Ele cumprimenta primeiro os meninos, depois sorri para Beatrice e fala algo, beijando seu rosto como em um cumprimento e fazendo-a abrir um sorriso. Abro um sorriso pequeno, mexendo meus pés no chão do ringue e balançando a cabeça. Sei que provavelmente estou com a cara de um psicopata, mas ao ver Jake passar a mão pelo braço de Beatrice, sinto que realmente posso me tornar um, tamanha a raiva que me toma. Viro meu rosto e fito Louise bem ao lado do ringue. Ela dá uma batidinha na quina e assente. Entendo o sinal do seu pedido: Foco no ringue.
Ouço o sinal soar e a luta começa. Vejo Grant se aproximar e me preparo para desviar, mas não sou rápido o suficiente e sinto a dor do soco que levo se espalhar pelo meu maxilar.
- Merda, Luke. -ouço Louise xingar baixinho quando cambaleio dois passos-
Ouvi os gritos da multidão e passei a língua pelos lábios, sentindo o gosto do sangue. Grant abre um sorriso como o meu, debochado, e eu avanço.
Foco no ringue, eu penso quando acerto o primeiro soco no seu olho e a gritaria soa mais alta. Antes que ele possa se recuperar, chuto seu corpo de lado e quando ele cai, não perco tempo e subo em cima do seu corpo, lhe acertando mais dois socos com facilidade. Não existiam muitas regras nas lutas do Hunter. Podíamos basicamente chutar, socar, derrubar e poderia ser bem pesado se passássemos dos limites. Tínhamos um juiz que nos dava um certo limite. Juiz esse que parou ao nosso lado e bateu no chão, forçando-me a parar. Basicamente, podíamos fazer de tudo, exceto perder o controle.
Me afastei e esperei Grant se levantar. Olhei Louise por dois segundo e ela assentiu para mim. Meus olhos correram para meus amigos novamente enquanto de relance vi Grant se recuperar, passando uma toalha no rosto sujo de sangue. Calum e Ashton foram os primeiros que eu enxerguei. Olhavam para o ringue com atenção, assim como Lucy, abraçada ao braço do namorado. Jake está com eles ainda, mas é Beatrice que eu procuro e sinto meu coração bater descompassado quando não a vejo. Tomo o impulso de me aproximar da faixas do ringue, mas paro, ouvindo o sinal novamente. Calum me olha e franze o cenho.
- Cadê a Bea? -movo meus lábios para que entenda, mas não consigo me certificar se entendeu, já que um segundo depois sou atingido por outro soco, agora na têmpora e sou pego tão desprevenido que caio no chão-
É ali que sei que perdi a luta. Quando vi que minha cabeça não estava mais no ringue. Estava nela.
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Voltando não tão atrasada, para nossa alegria. O próximo vai ser postado logo logo também, talvez amanhã mesmo!! Me digam, o que estão achando desse Luke?? Eu estou amando escrevê-lo!!
