32. The best for me

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- Deus, Bee, o que você vai fazer? -ouço Lucy perguntar, mas não lhe respondo de imediato-

Meu olhar está longe, focado em Ethan que sorri conversando com um dos seus amigos, sentado tranquilamente na grama do pátio do campus. Queria ter coragem para simplesmente chegar lá e exigir meu celular de volta. E ainda de quebra, lhe dizer algumas verdades na cara. Queria essa Bea de volta. A que falava primeiro e pensava depois. A que não cultivava arrependimentos, e não engolia certas coisas.

- Eu não sei. -respondo baixinho e abraço meus joelhos, voltando a fitar o desenho que estou quase terminando-

- Quer que eu vá lá? -ela pergunta e sorrio fracamente-

- Preciso resolver minhas próprias merdas, esqueceu? -falo e ela bufa-

- E Polly precisa aprender a calar a porra da boca. -ela fala revirando os olhos-

- Ela não está errada. -eu falo e fecho meu caderno de desenhos, prendo meu cabelo em um coque desajeitado e respiro fundo- Sempre dependi das pessoas para tudo. Sempre precisei de alguém por perto apenas para me sentir protegida. Meu irmão... -me calei e encolhi os ombros, balançando a cabeça-

- Hoje faz um ano, né? -Lucy pergunta porque ela não tem receio em tocar no assunto, e eu sou grata por isso. As vezes eu preciso de alguém me colocando na realidade novamente-

Um ano atrás, nesse mesmo horário, eu ainda não havia perdido meu irmão. Ainda tinha meus problemas, mas ainda havia amor puro me rodeando. Ainda o tinha comigo. Ainda não estava sozinha e perdida. Mas então há um ano, cometi o erro de chamá-lo em uma ligação desesperada, pedindo para que ele me tirasse daquela casa. "Ele vai me destruir" foram as palavras que chorei naquela ligação, sentindo todo meu mundo ruindo. Mal sabia eu que destruição mesmo viria depois daquilo. Depois de sair de casa e chorar copiosamente no banco do carona enquanto meu irmão tentava me acalmar ao mesmo tempo que estava nervoso também.

- Não quero falar disso. -murmuro e guardo meu caderno na mochila. Lucy assente e desvia o olhar, apreensiva-

- Como você esqueceu o celular com ele mesmo? -ela perguntou e eu hesitei-

- Eu estava pedindo um Uber e ele pegou da minha mão para me fazer olhar para ele. Então Luke apareceu e para evitar uma briga, eu fui com Luke.

- E vocês foram para onde? -ela perguntou prendendo o cabelo-

- Para casa. -respondi tentando disfarçar a hesitação na minha voz-

- Mas Luke não dormiu em casa. -ela comentou-

- Como é? -pergunto confusa-

- Luke não dormiu em casa. -ela repete e dá de ombros- Vi ele comentando com Calum hoje no carro que não dormiu em casa. Ele nem citou que te deixou em casa. -ela falou confusa e eu assenti no automático-

- Enfim... -engulo em seco- Ele só me deixou em casa e eu desci do carro. -dou de ombros, e pigarreio-

- Entendi. -ela murmura e me olha por alguns segundos, mas seu rosto está tranquilo, então acredito que ela não desconfiou de nada-

Me levanto e ajeito a mochila no ombro. Ela faz o mesmo e começamos a caminhar pelo campus. Conforme fico mais próxima de onde Ethan está, um embrulho se forma em minha garganta. Sei que preciso fazer alguma coisa, por isso me forço a isso.

- Eu vou falar com ele. -murmuro e Lucy me olha preocupada- Pode ir. -falo a ela e mesmo hesitante, ela não discute. Apenas segue seu caminho até a entrada do prédio da faculdade, enquanto eu sigo na direção dele-

Ethan me nota enquanto eu ainda caminho. Ele para de conversar e me fita com uma tranquilidade que me incomoda. O fato de ele me conhecer bem me incomoda. Ele sabia que eu viria atrás dele.

- Bom dia, Bea. -ele responde e eu engulo em seco, parando na frente dele-

Os meninos que antes falavam com ele disfarçam e se afastam um pouco, nos dando privacidade.

- Não quero me prolongar, Ethan. Preciso do meu celular. -eu falo com uma falsa firmeza na voz-

- Imaginei. -ele cruza os braços e se aproxima. Algo prende seu olhar atrás de mim e me viro para entender. Luke está parado há bons metros de distância, mas nos encara com o semblante fechado- Alguém não está feliz em nos ver conversando. -ele sorri debochado-

- Não estamos conversando. Estou aqui pedindo meu celular de volta. -respondo voltando a olha-lo- E desfaça esse sorriso. Não é uma conversa. -ele solta uma risada quando termino de falar-

- Ok, Bee. Droga, se acalme. -ele balançou a cabeça- Estou meio surpreso que foi você a vir me pedir isso. Pensei que ia mandar seu cão de guarda até aqui. -ele falou e eu revirei os olhos- Sabe que aquele cara está envolvido em coisas bem erradas, né? Que ele agora, mais do que nunca, é uma péssima pessoa para se manter perto. -ele fala e eu cruzo os braços-

- Só quero o celular, Ethan. -falo incomodada por seu discurso sobre Luke. Uma vontade de defender o loiro me toma, mas fico em silencio. Sei que ele não merece-

- Não o tenho. -ele respondeu depois de um suspiro e eu franzo o cenho-

- Como é? -pergunto com a paciência totalmente esgotada-

- Imagine a minha surpresa quando encontrei seu pai na igreja ontem e ao pedir para ele entregar o celular para você, ele me contou que você não morava mais na casa dele. -ele falou e eu gelei- Está morando com os amigos do seu irmão? -ele perguntou e me encolhi-

- Falou com meu pai? -perguntei ainda perdida e chocada demais-

- Falei. -ele se aproxima- Não gosto nada disso, Bea. Uma menina tão direita e correta morando com três rapazes. Não é bom para você. -ele fala com julgamento na voz e eu me afasto- Trabalhando naquele bar ainda por cima.

- Que você frequenta. -rebato prontamente e ele ergue uma sobrancelha-

- Não é um bar de quinta categoria que vai manchar meu caráter, Beatrice. -ele sorri debochado e quero soca-lo por isso-

- Meu celular... -tento formular uma frase, mas a certeza do que ele vai me responder me deixa desolada-

- Está com o seu pai. -ele responde e fecho meus olhos- Ele me garantiu que vai te devolver. -ele fala e toca meu braço- Se quer um conselho, Beatrice...-eu o interrompo-

- Não quero. -ele sorri e me segura-

- Isso não é vida para você. -ele fala e sua outra mão toca meu cabelo- Morar longe dos pais, trabalhar em um bar, rodeada de homens e bebidas. Foi criada como uma princesa. Deveria se portar como uma. -ele sussurra a última parte e isso basta para eu me afastar e me soltar do seu toque-

- O último conselho que me deu, Ethan, me fez enxergar o homem nojento que você é. -rebato com a voz alterada e ganho até os olhares dos seus amigos que não prestavam atenção na gente-

- Agora vamos conversar sobre isso? -ele se aproxima com a voz baixa-

- Não, não vamos. -eu falo e aperto a alça da minha mochila, sentindo os olhos arderem- Você fez de propósito. Foi de atrás do meu pai de propósito. Louco para contar a ele sobre minha vida, como sempre fez. Louco para reclamar de mim, para se fazer de vítima. O pobre Ethan que me ama e quer o melhor para mim. -debocho e ele engole em seco-

- Essa é a verdade, Bea. -ele fala- Só quero o melhor para você. -ele fala e eu me afasto mais-

- Então suma da minha vida. Isso é o melhor para mim. -lhe dou as costas e vou embora, deixando-o para trás-

Da mesma forma que fiz há exatamente um ano.


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Falling (L.H.)Onde histórias criam vida. Descubra agora