2. Alone

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As pessoas cochicharam quando Beatrice entrou na igreja. Ela preferiu pensar que era por causa da roupa que usava. Vestido preto mídi e jaqueta jeans não eram muito usados em um ambiente como aquele. Sua mãe a julgou com o olhar quando ela apareceu assim, e Beatrice sabia que se não estivessem atrasados, ela seria obrigada a subir e trocar de roupa.

Ela reconheceu alguns rostos nas poucas vezes que tirou os olhos do chão, parada ao lado da mãe, próxima a porta. Sabia que os olhares que recebia, e os cochichos que escutava não eram por causa da sua roupa. Era pelo seu retorno. Depois da morte de Michael, Beatrice sumiu. Não se despediu de ninguém, sequer. Apenas fez as malas e se mudou para outra cidade. Seu pai cuidou da matricula na faculdade nova, e do dormitório novo. Beatrice sabia que ele estava feliz vendo-a partir, mas para os outros, parecia que ela havia fugido.

Ela observou o pai por um tempo, ali na porta da igreja. Richard sorria, conversando com um amigo e sua esposa. Ele falava algo que fazia o casal rir, e ele parecia tão simpático que quase dava para acreditar que ele era assim. Beatrice via o olhar que as pessoas lançavam para ele. Como se ele fosse incrível, alegre e carinhoso. Era isso que Richard gostava de passar para as pessoas. Como se fosse de fato um ser humano e não um monstro que atormentava Beatrice longe dos olhos da sociedade.

- Vamos entrando, filha. Seu pai nos encontra depois. –Ruth segurou a mão de Beatrice e as duas entraram, encaminhando-se para um dos bancos-

Bea olhou em volta enquanto juntava os cabelos e os prendia em um coque frouxo. Nunca se sentiu encaixada na igreja, e isso sempre causou revolta em seus pais, por isso ela frequentava. Entre ela e Michael, ela era a que tentava se encaixar nas escolhas que seus pais faziam. Michael não quis tentar. Ele foi corajoso o suficiente para apenas largar tudo e partir. Dividiu um apartamento com os melhores amigos por meses antes do acidente. Michael era firme e decidido. Ganhou o mais próximo de respeito de seu pai. Beatrice tentou ser o meio termo. Sempre foi vulnerável demais. Queria ser motivo de orgulho para a mãe, queria ser especial para o pai. Queria apenas se encaixar. Foi Michael que a tirou desses pensamentos. Que colocou em sua cabeça que a felicidade vem em primeiro lugar. Fez Beatrice pensar mais nela mesma e não na opinião do pai ou da mãe. Foi quando as coisas desandaram. Foi quando Beatrice começou a lutar para ter voz dentro de casa. Tentou argumentar, tentou ter as próprias vontades. Ali as coisas mudaram para ela.

- Bee? –ela escutou, ao lado da mãe e olhou em volta, vendo as pessoas se acomodarem para o inicio da missa. Demorou alguns segundos para focar seus olhos no dono da voz que a chamou- Eu não acredito, abelhinha! –Beatrice fechou os olhos por alguns segundos, sentindo os lábios tremerem e o coração bater mais rápido, até que ela se levantou-

- Oi, tio Mason. –sua voz estava embargada quando ela caminhou apressada ao homem que estava na ponta do banco, esperando pelo abraço apertado que recebeu da menina-

Mason Hemmings era o mais próximo do que ela já teve de um pai em sua vida. Quando o abraçou pela cintura, foi como se tivesse cinco anos novamente e corria para seus braços sempre que Michael e Luke a expulsavam de alguma brincadeira.

- Voltou quando, Beatrice? –ele perguntou abraçando-a pelos ombros- E porque eu não fui avisado? –Bea pode sentir o sorriso dele pela voz, mesmo com o rosto afundado em seu peito-

- Voltei ontem. –ela avisa e se afasta para olhar melhor o mais velho, sorrindo também, finalmente-

Olhar Mason era como olhar para a infância dela. Era como olhar Luke, filho de Mason, e Michael no pátio jogando bola. Era como olhar Grace, mãe de Luke, chamando-a para dançar alguma música na sala quando via a menina emburrada por alguma coisa. Era como olhar para casa. Olhar Mason era como estar de volta ao lar.

Falling (L.H.)Onde histórias criam vida. Descubra agora