[Sexta-feira - 9:44PM]
Uma suave onda de arrepio me percorreu quando a brisa gelada da noite encontrou um caminho desprotegido em meu pescoço e invadiu o interior do meu casaco, lembrando-me de que o rigoroso inverno de Seul estava cada vez mais próximo.
Eu me encolhi e puxei o casaco para cima, com o intuito de cobrir a pele exposta até que chegasse ao meu apartamento. O que não demorou, já que o bar para o qual minha amiga e sócia, Mariana, praticamente me arrastou para descontrair por algumas horas após mais uma longa semana de muito trabalho, ficava a 10 minutos de onde moro.
Agradeci mentalmente assim que saí da rua, sentindo o calor reconfortante que o prédio onde moro me fornecia. Apesar de não ser o melhor prédio da cidade, o sistema de aquecimento funcionava perfeitamente.
Me arrastei escada acima, sentindo minhas bochechas ficarem mais quentes. Não sei se pela bebida que me permiti tomar essa noite ou pela atividade de subir até o terceiro andar. Talvez pelos dois.
— Ufa! — suspirei esbaforida, subindo os últimos degraus para o andar onde moro. — Preciso arrumar um tempo para me exercitar. Essas escadas parecem aumentar a cada dia.
Ouvi um estilhaçar de vidro vindo do apartamento ao lado do meu, mas nem me abalei. Parecia já ser uma tradição todas as sextas-feiras: o marido da vizinha chegava bêbado depois do trabalho e eles brigavam. Nem sei como ainda restavam copos intactos na casa deles, pois toda vez minha vizinha jogava um contra a parede enquanto discutia com o marido.
— É melhor pararem com isso ou eu vou chamar a polícia! — gritei, dando socos na porta ao passar pela frente.
— Vá cuidar da sua vida! — gritou o homem de volta, furioso.Eles nunca chegaram a realmente agredir fisicamente um ao outro, e espero que nunca cheguem a esse ponto, mas ser obrigada a ficar ouvindo toda essa gritaria no momento em que eu mais quero descansar é insuportável.
Continuei andando em direção à porta do meu apartamento, que era logo a seguir, resmungando baixinho o quanto eu gostaria de desaparecer de vez daquele lugar, mas, infelizmente, eu não podia. Minha confeitaria ainda não me rendia lucro suficiente para pagar um apartamento em uma vizinhança melhor, então eu teria que aguentar as brigas de sexta-feira até que o meu pequeno negócio evoluísse.
Parei em frente à minha porta, vasculhando a bolsa em busca da chave de casa, até que ouvi um barulho vindo do apartamento mais adiante do meu, mais um som que já era tradição aqui no meu andar, sendo que esse ocorria praticamente todas as noites.
— Ainda tem mais essa. — Revirei os olhos e fui até a porta seguinte. — Será que vocês poderiam gemer mais baixo? — gritei, mais uma vez batendo na porta alheia. Parecia um replay do que eu tinha acabado de fazer, só que agora com um vizinho diferente e também por outro motivo. — Coloque uma mordaça nessas mulheres escandalosas que você traz, eu não aguento mais ter que te ouvir transando todas as noites.
Eu não sabia se estava soltando alguma informação sigilosa a respeito de sua vida extremamente movimentada, já que ele trazia uma mulher diferente a cada dia, mas não estava nem aí. Já bastava ser obrigada a ouvir as brigas nas sextas; ter que ouvir gemidos todas as noites já era demais. Porém, tenho certeza de que só tive coragem de reclamar hoje porque não estava no meu melhor momento de lucidez.
— Está com inveja, vizinha? Quer entrar e participar? — questionou após alguns segundos de silêncio. — Porque assim você descobre o motivo de elas não conseguirem ficar caladas.
— Como é?!! — indaguei, incrédula. Eu não podia acreditar no que meus ouvidos captaram.
— Se quiser entrar, a porta está aberta — disse ele, agora em um tom mais descontraído.
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Sweet Temptation
RomanceSerá que os opostos realmente se atraem? S/N, uma jovem de 23 anos, herdou a paixão pela confeitaria que atravessou gerações em sua família. Com muita determinação, ela conseguiu abrir sua própria microempresa, que cresce a cada dia. Jungkook, també...