Capítulo 19

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Voltamos para Seul em um silêncio sufocante. Jungkook colocou uma playlist qualquer para tocar, mas nem parecia ouvir. Ele estava distante, imerso em pensamentos. Eu observava a paisagem congelada do lado de fora, tentando ignorar a sensação pesada que pairava entre nós. Cada quilômetro percorrido parecia arrastar a tensão, tornando o silêncio ainda mais ensurdecedor.

A única vez que ele falou foi quando se ofereceu para subir com a minha mala. Assenti, incapaz de negar, e segui atrás dele, revirando minha bolsa em busca da chave do apartamento.

— Pronto! Está entregue — disse ele ao deixar a mala na frente da porta, como se estivesse se livrando de um fardo.
— Obrigada — forcei um sorriso, abrindo a porta. — Esse prédio pode ser um inferno às vezes, mas é tão bom estar em casa. — Entrei e larguei a mala, sem pensar muito, tentando preencher o espaço entre nós. — Não que a casa da minha mãe também não seja a minha casa, mas eu senti falta da minha cama. — Me virei, esperando vê-lo entrar, mas ele ficou parado na porta, hesitante, como se estivesse prestes a fugir. — Pode entrar.
— Ah... não vai dar. Preciso devolver o carro para o meu irmão antes da nevasca. Só vou deixar minha mochila em casa e... — Sua desculpa soou mecânica, vazia. Havia algo mais. Eu sabia. Sentia isso.
— Tá legal, Jungkook... o que está acontecendo? — caminhei até ele, minha voz carregada de frustração. Eu não podia mais ignorar essa estranheza.
— Como assim? Não está acontecendo nada. — Ele tentou sorrir, mas o nervosismo transparecia, traindo-o.
— Não mente pra mim! Você tá estranho desde Ilsan. Passamos meia hora no carro em silêncio, como se fôssemos dois desconhecidos. E você quer fingir que está tudo bem? Acha que eu sou idiota? — minha voz estava mais alta do que eu pretendia, mas não me importei. Eu não aguentava mais aquela tensão.
— Não! Lógico que não acho que você é idiota — ele passou as mãos pelo cabelo, o nervosismo estampado em cada gesto. — É só que...
— Fala logo! — exigi, cruzando os braços.
— Tá bom, ok! — Ele respirou fundo, claramente incomodado. — Eu vou ser direto porque... não sei como dizer isso de outra forma.
— Ótimo, seja direto — minha paciência já estava por um fio.
— É só que... — Ele hesitou, olhando para o chão como se as palavras pesassem demais. — ...não vai rolar!

Eu fiquei ali, esperando que ele explicasse o que diabos ele queria dizer com aquilo, mas tudo que ele fez foi me encarar em silêncio, como se esperasse que eu entendesse sozinha.


— Não vai rolar o quê? — perguntei, sem acreditar no que estava ouvindo. Ele andou de um lado para o outro, xingando baixinho.
— Nós dois, S/N. Não vai rolar ficarmos juntos — Ele finalmente soltou, as palavras saindo como um soco, me atingindo com força.

Minha mente levou longos segundos para processar o que ele tinha acabado de dizer. As palavras ecoavam na minha cabeça, repetidas vezes, como se minha própria consciência não quisesse acreditar no que ele estava falando. Ele estava me deixando... antes mesmo de termos começado algo.

—  Uau! Você chegou a essa conclusão mais rápido do que eu esperava. — havia uma mágoa nítida em minha voz.
— Não foi tão rápido assim. Eu pensei a manhã inteira no que você me disse mais cedo.
— Ah... sim. E em uma manhã você concluiu que eu sou facilmente descartável. — Sorri, mas era um sorriso cheio de ironia.
— Não é isso, S/N! Eu não acho que você seja descartável. Acontece que você quer um namorado e eu não posso ser esse cara.
— Ok! Mas ser o cara pra me comer e jogar fora depois você pode ser, não é? — Minha voz estava mais dura do que eu pretendia, mas eu estava no limite.
— Não! Por Deus! Eu não... — ele começou a se defender, mas eu o interrompi, a raiva me consumindo.
— Quer saber, Jungkook... já deu! — Suspirei, irritada, tentando conter a avalanche de sentimentos que ameaçava me sufocar. — Muito obrigada por todo o apoio que você me deu esses dias em relação à minha avó, obrigada por me acompanhar na viagem. Foi importante pra mim, de verdade. Mas vá se foder! Eu cansei de você! Cansei da sua indecisão, disso de querer uma hora e, no minuto seguinte, não querer mais nada. Can-sei! — A última palavra saiu alta e clara, carregada de frustração.
— Por favor, não vamos brigar mais uma vez. — Ele me empurrou suavemente para dentro, fechando a porta atrás de si como se isso pudesse conter a tempestade entre nós. Mas a raiva transbordava de mim, e nada iria segurá-la, aquela porta não seria capaz de impedir os vizinhos de ouvir tudo o que eu tinha a dizer. — Tente me entender.
— Te entender? — soltei uma risada amarga, cheia de sarcasmo. — Como quer que eu te entenda? Uma hora você tá cheio de amor pra dar, quer me abraçar, andar de mãos dadas, me beijar, dormir comigo. Aí, de repente, você não quer mais nada disso, quer manter distância, fugir de qualquer sinal de compromisso. Mas sabe dar chilique e até chorar quando me vê com outro. Como quer que eu te entenda se nem você se entende, Jungkook?

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