25 - Do zero

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Acho que encontrei o que procurava, talvez seja loucura mas eu gosto do que vejo, o lugar é no meio do nada, a casa é enorme e muito velha, terreno sem fim mas eu sorrio com a ideia de tornar aquele lugar em um paraíso só meu. Eu sei que nunca tive uma planta em casa e aqui há uma enorme horta, animais de quinta só em visitas de estudo e mesmo assim há alguns por aqui, terei muito trabalho para erguer tudo isto mas o meu coração diz que eu devo fazer isto.

Uma quinta em ruinas perdida no meio do nada mas a um preço tão baixo que conseguirei fazer algumas obras de melhoramento. A senhora é idosa e planeia ir viver com a neta, tem tanta pressa que aceita fazer um contrato de promessa de compra enquanto a minha casa não é vendida.

Passou uma semana desde que cheguei aqui e eu olho para o aparelho na minha mão, decido que está na hora de falar com quem amo, Júlia não atende, tento Rebecca...

- Boa tarde!

- Kendra Arden eu vou matar-te, como podes passar duas semanas sem dar notícias? - Não era uma boa receção e eu entendia o seu lado.

- Desculpa eu não estava preparada. - Acho que não estarei tão cedo mas pronto, tenho de tentar ter alguma normalidade.

- Júlia está prestes a convocar a polícia para te procurar. - Eu imagino que sim, nunca estivemos tanto tempo sem nos falarmos.

- Como vão as coisas por aí?

- Um caos, todos estão á tua procura, Dylan e Júlia têm feito a minha vida num inferno.

- Desculpa amiga.

- A casa já tem um potencial comprador mas o recheio ninguém quer, preciso de uma morada para onde enviar tudo. - Bom finalmente uma boa noticia, esse dinheiro será a minha salvação.

- Boa tentativa, aluga um sítio para guardar tudo que eu faço chegar até mim.

- Kendra eu preciso de saber onde estás. -Todos precisam mas ainda é muito arriscado, quem me garante que o Bruce não está a vigiar um deles para me encontrar.

- Ainda é cedo, eu ligo na próxima semana, diz a todos que estou bem e que me dêem o tempo que preciso para me erguer e voltar a ser a mulher que conhecem.

- Vou tentar mas não prometo nada. - Eu sei que a coloquei numa posição ingrata mas é a minha melhor amiga.

- Mil beijos amiga.

- Cuida de ti.

O meu número era anónimo por isso não tinha como alguém me incomodar. Carrego as malas da Senhora que me vendeu a casa, prometi levá-la até a estação do comboio, era o mínimo a fazer depois da sua gentileza e confiança que depositou em mim, ela tinha-me explicado como geria tudo mas a tarefa avisinhava-se bem difícil. De regresso a quinta olho a volta sem saber por onde começar, bom a casa eu posso deixar para depois mas os animais precisam de mim, começo por tirar as vacas para um lugar com erva, enquanto as seis ficam a pastar dentro da cerca feita para cavalos eu começo por limpar todo o espaço delas dentro do celeiro. Tudo limpo, água fresca e  imensa palha, acho que o resultado vai agrada-las mesmo que pareçam felizes por estarem no exterior, a idosa que vivia aqui só tinha força para alimentar todos os animais mas nada mais que isso. Passo então para a capoeira enorme, o cheiro era horrível, não sei se alguma vez foi limpo e o pior eu tenho medo daquelas aves. Com muita dificuldade consigo confina-las a um espaço muito pequeno, eu sei coitadas mas era a única forma de fazer aquilo, raspo vezes sem conta com a pá para tirar o máximo de sujeira no solo e esfrego as redes com a vassoura, poderia ficar melhor mas terá de ficar para a próxima, espalho palha no chão, agora sim está seco e bem mais acolhedor. Antes de sair abro o comparecimento e corro para fora dali, meu deus não sei como farei isso todas as semanas. Olho para o meu estado, estou horrível e com um cheiro constrangedor, rio de mim mesma, quem diria que me tornaria agricultora. Estava a ficar tarde, tomo um duche e desço para aquecer a sopa de pacote, pois é infelizmente o velho frigorífico já não trabalhava, teria de comprar um rapidamente mas enquanto isso, os melhores amigos são os enlatados, depois de beber o meu café no alpendre vou para a cama e durmo com alguma dificuldade apesar do cansaço. Era estranho ter tanto silêncio, ou acordar com o som dos animais, não tinha vizinhos á distância de uma parede nem carros a passar a porta, às quintas vizinhas estavam longe, finalmente privacidade!

Um mês depois, Rebecca vendeu a casa, o contrato de venda acaba finalmente de ser assinado e hoje as minhas mobílias iram para um armazém, graças a Deus vou poder trazer o meu conforto e decorar a casa vazia, apenas a cozinha foi remodelada a uns anos e as mobília que restaram, bom vai tudo para o lixo pois aposto que já sobreviveram a uma guerra qualquer. A vida aqui é dura, mais do que imaginava mas os animais parecem felizes com toda a limpeza e ajustes feitos por mim, já a horta é completamente diferente, terei de arrancar tudo o que morreu e voltar a dar vida a terra, infelizmente disso eu não percebo nada mesmo, somente consigo manter as árvores porque basicamente é só regar e apanhar os frutos quando chegar a devida altura. As minhas unhas estavam agora curtas, as minhas mãos secas, uso só roupa prática mas para ser sincera eu nunca me senti tão livre. A Júlia ainda está chateada comigo e só consigo ter notícias dela pelo Rafael, Rebecca também diz que Dylan está no mesmo estado mas a poeira assentou, eu estou bem e espero que eles também.

Kendra ArdenOnde histórias criam vida. Descubra agora