14 - Quarto

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O quarto era espaçoso, a casa enorme com piscina, tudo estava perfeito mas mesmo assim sentia que algo se passava com Dylan, Raphael convida-o para irem beber uma cerveja no exterior enquanto eu a minha irmã colocamos a mesa para o almoço

­— Porque não me falaste que havia alguém na tua vida? - Ela retira gelo para um balde e eu roubo uma batata frita.

— Decidi trazê-lo a última hora.

— Quem é ele afinal? - Ela olha em direção aos homens que parecem concentrados numa conversa qualquer.

— Não te passes Julia mas Dylan é o meu cliente.

— O violador? - Ela pergunta num sussurro mas muito escandalizada.

— Ele é inocente!

— Tens certeza? - Eu sei a que se refere ao meu passado.

— Tenho Julia. - Sorrio para a tranquilizar.

— Ele olha para ti de uma forma carinhosa e confesso que é bonitinho.

— Se Raphael ouvir isso terás problemas. - Finalmente terminamos de colocar tudo na mesa.

— Ele sabe o teu passado?

— Não, ainda é cedo para lhe contar, isto se algum dia o fizer. - Olho para trás e vejo-o a falar descontraidamente com o meu cunhado enquanto se aproximan.

— Estamos com fome Doutoras.

— Está tudo pronto.

Raphael era divertido, a minha irmã parecia outra desde que o conheceu, mais solta e brincalhona, eu sentia que ela era feliz. Demos uma volta pela cidade, queria mostrar tudo a Dylan, ele não sabia como lidar com a nossa relação então eu mesma entrelacei os meus dedos nos seus, pude sentir o quanto isso lhe deu confiança, ele nunca faria mal a nenhuma mulher, disso estava ciente. Raphael levou-nos a jantar a uma restaurante Irlandês onde as canecas de cerveja eram enormes, incrível como só agora percebo o quanto Julia me faz falta. Depois de jantar o casal deixou-nos em casa e saíram, o meu cunhado tinha uma surpresa para a minha irmã, ninguém diria que um homem como ele fosse tão romântico

— O que achaste deles?

— Raphael é um bom homem e a tua irmã parece que te quer proteger do mundo. - Pouso a bolsa no sofá e bebo um pouco de água.

— Quando os meus pais morreram foi ela quem assumiu as responsabilidades, tinha medo de falhar e por isso protegia-me em demasia.

— Por alguma razão em especial? - Ele tira o casaco e vem na minha direção como um leão.

O meu telemóvel toca, no ecrã o nome de Bruce aparece

— O que se passa, porque aquele homem não para de te ligar? - Desligo a chamada frustrada.

— Porque ele quer explicações acerca de algo que eu não quero falar.

— Eu posso tratar disso.

— Não, tu podes esquecer tudo e aproveitar estes dias comigo. - Aproximo-me e estico-me para chegar aos seus lábios.

— És péssima a mentir e eu detesto estar assim, sem saber...

— Eu sou é uma péssima advogada, chantageio testemunhas, durmo com o meu cliente e hoje nem toquei no teu dossier. - Passo a mão no seu peito por cima da roupa para sentir o seu calor.

— Tu és uma excelente advogada, só que não sabes esconder os teus sentimentos.

— O que isso quer dizer? - Ele beija os meus lábios de leve e afasta-se.

— Tu estás a esconder-me algo, não confias totalmente em mim e eu não sei lidar com o desconhecido Kendra.

— Eu não estou pronta para te deixar entrar totalmente na minha vida, isso poderia ser desastroso para os dois, pelo menos enquanto o teu processo está a decorrer.

— Que tal deitar-mo-nos? Estou cansado - Dou um passo na sua direção e ele afasta-se ainda mais.

— Se é o que queres, tudo bem.

Não passava pela minha cabeça que ele iria reagir assim, estou a revelar-me uma péssima pessoa. Deitamos na mesma cama e mesmo perto estávamos tão afastados, dormimos cada um para seu lado, como eu queria que ele entendesse. Acordei sozinha, desço as escadas e ouço as vozes de Dylan e Julia na cozinha, fico um pouco a ouvir a conversa dos dois...

— Dylan a minha irmã passou por muito quando era mais nova, podes pensar que ela está de pé atrás contigo mas acredita ela nunca esteve tão perto assim de um homem.

— O que e que o Morris tem a ver com isso? - Ele é perspicaz!

— Como sabes disso? Ele fez alguma coisa com ela? - Júlia fecha a boca por favor.

— Só estou a tentar juntar as peças do puzzle, alguém a magoou.

— E muito, a todos nós aliás, os meus pais morreram com uma grade magoa no coração, não é fácil ver uma menina de quinze anos se destruir, ter de mudar de cidade e começar de novo, passar horas em gabinetes de psicólogos. Ela tenta ser o mais forte que consegue e eu tenho orgulho na minha irmã - Limpo as lágrimas que escapam involuntariamente dos meus olhos.

— Trouxe pão e bolos, que caras são essas? - Raphael entra em casa, ouço o barulho de sacos de papel.

— Estávamos a falar de Kendra.

— Ela é uma mulher de luta e tu tens sorte de a ter conquistado. - Sorrio com as palavras do meu cunhado, pelos vistos Julia contou-lhe tudo.

— Tenho? - Dylan pergunta sem perceber e eu rezo para que Raphael fique calado.

— Claro, logo tu foste o seu primeiro cliente, um caso de violação. Quer dizer sei que é inocente mas...

— Então é isso! - Porra, não era para ele saber desta forma.

Subo as escadas, lavo a cara e fico alguns minutos a pensar como vou conseguir encara-lo, ajeito o cabelo e volto a descer como se nunca tivesse ouvido aquela conversa. Engulo em seco e entro na cozinha onde a conversa já era outra, beijo Julia e Raphael, sento-me do lado de Dylan sem saber como reagir, então ele puxa a minha cadeira para perto da sua e deseja um bom dia com os braços na minha cintura e um sorriso meigo...

— Quem quer café?

— Eu! O que vamos fazer hoje? - Respondo ao meu cunhado.

— Temos uma piscina magnífica.

— Logo podíamos sair e dançar. - Júlia diz descontraída.

— Júlia prefiro ficar por casa!

— Está tudo controlado querida. - Ela sabe que a maioria das boates de cidade são do Billy e do seu sócio.

— Eu gostaria de a ver dançar Sra advogada. - Dylan confessa ao meu ouvido.

— Vocês ganharam. - Vou rezar para que Billy ainda esteja em San José e sobretudo que estou protegida com Dylan e o meu cunhado.

— Agora vamos que eu preparei um passeio de barco!

Kendra ArdenOnde histórias criam vida. Descubra agora