20 - Lar

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Esperei chegarmos ao terceiro copo para conseguir contar o que descobri no jantar em casa dos amigos de Bruce, ela queria ir até ao apartamento dele e fazer um escândalo mas consegui domar a fera, saímos do bar muito encharcadas em álcool, lembro-me de andamos descalsas pela rua, de tirarmos fotos, de rir que nem uma louca, vi a minha amiga vomitar num parque com uma fonte muito linda e pouco mais. Acordo enjoada, a minha cabeça parece estar vazia e sinto o meu estômago embrulhado, quando finalmente abro os olhos constato que estou deitada na cama de Rebecca mas nem sinal dela. Levanto-me com muito custo, retiro o vestido completamente amarrotado e entro no chuveiro, deixo a água correr no corpo e depois de seca e com uma roupa que apanhei nas gavetas, parece que me sinto mais lúcida. O apartamento estava vazio, no frigorífico estava um papel rabiscado com algumas diretivas " Come e toma algo para a dor de cabeça, não demoro e já agora parabéns".

Parabéns? Fiquei assustada com o que isso queira dizer, da forma como bebi e como a minha memória está em branco, temo o pior. Bebo apenas um sumo de laranja e tomo o comprimido sobre o olhar atento daquele felino medonho, se ele me atacar vou processar a Rebecca por me deixar sozinha com este ser...

- Cheguei!

- Graças a Deus, o teu gato estava prestes a atacar-me.

- Exagerada, o Snow é um amor. - O traidor parece perceber a conversa e roça na sua perna.

- Para ti, agora podes dizer-me onde andaste?

- Tratar do que me pediste.

- Eu pedi? Rebecca eu bebi demais, sei lá o que eu te pedi. - Esfrego as minhas têmporas, eu não consigo lembrar de nada depois do bar.

- Estás a brincar comigo? Tu compraste aquela casinha fofa.

- Eu o quê? - Ela deve estar a brincar!

- Eu contei-te que conhecia o dono e quando viste o letreiro ligaste, eram quase 2 da manhã e fizeste-o prometer que te vendia, por isso acabei de ir buscar os papéis para assinares.

- E tu deixaste-me fazer isso?

- Estavas tão feliz. - Desconfio que seja uma brincadeira de mau gosto.

- Mas eu nem vi a tal casa por dentro.

- Mas ficaste encantada com o exterior e não consegui demover-te... - Ela está a falar sério.

- Não sei se devo chorar ou rir. - Ela tira o monte de papéis da bolsa.

- Devias rir muito querida porque acabaste de comprar casa num bom bairro, por um bom preço e por todos os motivos que falámos.

- Pelo menos isso mas será que dá para cancelar esta loucura? Estava embriagada.

- Que tal pensares nisso depois de a visitarmos? - Ela abana a chaves que tinha até agora escondida na mão.

- Vamos rápido porque eu nem me lembro dessa maldita casa.

Entro no carro de Rebecca e esfregou a cara, eu nunca mais toco em álcool na minha vida!

- Chegámos, bom tenho de confessar ela é linda.

- Oh meu deus, ela parece um mini castelo, um sonho. Assim fica difícil de voltar atrás. - Era a casa dos meus sonhos.

- E ainda não vimos o interior.

Eu ainda não acredito na minha irresponsabilidade, a Júlia vai matar-me. Entrei naquela casa e de imediato conseguia projetar-me ali, era estranho a forma como tudo naquela construção era perfeito para mim, eu nem sei se conseguirei suportar a despesa que acarreta uma casa assim mas realmente tinha foi amor á primeira vista. Olho para Rebecca que sorri, ela sabe que eu vou assinar a compra deste lugar, o destino ou a vida fez tudo isto por alguma razão...

- Eu amo esta casa. - Confesso contrariada.

- Eu sei, ouvi isso umas centenas de vezes ontem.

- Tens os papéis contigo?

- Claro!

- Então vamos ao banco, preciso de um empréstimo! - abraço-a em agradecimento, talvez não tenha sido um erro beber tanto.

- Agora posso voltar a dizer, parabéns amiga.

Consegui falar com a minha gestora de conta e com o pouco dinheiro que poupei mais a parte da herança dos meus pais é garantia mais que suficiente para a aceitação do crédito, agora é marcar a escritura que será outra meta alcançada com rapidez visto que a esposa do proprietário trabalha no registro notarial.  Eu continuo sem acreditar!

Três longas e exaustivas semanas depois, aqui estamos nós, eu, Júlia com Rafael e Rebecca com Blake, carregamos tudo o que trouxe do antigo apartamento, um camião quase meio mas que dá tanto trabalho... Não sabia que tinha tanta tralha até agora. Os homens carregam os móveis e nós o resto, Blake mal fala comigo por causa de Dylan mas a Rebecca insistiu para ele se juntar a nós, eu até o entendo, são amigos e eu sou a mulher cruel que lhe virou costas sem ouvir a verdade...

- Estás demasiado pensativa.

- Estou a organizar mentalmente a forma como arrumar tudo isto o mais rápido possível.

- Foi um bom investimento querida, esta casa é um sonho.

- Senhoras, os móveis estão todos dentro de casa por isso eu e Blake vamos fazer uma pausa para uma cerveja bem fresca.

- Quando regressarem tragam jantar.

- Sim meu amor.

Mal eles fecham a porta nós ligamos a música e arrumamos o máximo que conseguimos. Oito da noite, Júlia e Rafael subiram para tomar um duche, eu preparo a mesa, Rebecca e Blake foram embora e estou de rastos, nem fome tenho mas estou feliz com o que vejo, há apenas meia dúzia de caixas para arrumar e a casa ficou um amor graças ao bom gosto de Julia e claro que muita das decorações foi ela que me deu de presente...

- Estou a morrer de fome! - Júlia Reclama quando se senta.

- E eu de sono! - Eu estou em modo zombie.

- Bom senhoras, eu combinei encontrar Dylan por isso aproveitem para relaxar depois de jantar.

- Eu gostaria de ir contigo mas vou aproveitar para descansar com a minha irmã. - Júlia e o meu cunhado continuam muito próxima do Carter.

- Claro, marcamos alguma coisa para outro dia, todos juntos já que agora a Kendra mora aqui. - A minha irmã lança um olhar mortal ao marido.

- Isso quer dizer o quê? - Eles estão a esconder algo.

- Nada querida, Rafael come!

Kendra ArdenOnde histórias criam vida. Descubra agora