3 - Sr Carter

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Durante anos fui acompanhadas por uma psicóloga, os meus pais fizeram o que puderam mas o caso nem chegou a ficar registado na policia, era o filho do senador e o escândalo iria manchar a carreiro do Grande Morris, Billy mudou de escola, o caso foi abafado e as poucas pessoas que souberam mantiveram o silêncio para evitar problemas, perdi amigos, fui humilhada e passei por mentirosa então a minha família mudou-se para Los Angeles. Quando os meus pais morrerem eu e minha irmã seguimos a nossa vida, ela é médica, vive com o namorado que é diretor de uma empresa de Marketing, são felizes e penso que será para breve o casamento quanto a mim, prefiro a solidão, já tive dois namorados mas eu sei que sou uma mulher complicada então simplesmente esqueci relacionamentos, não nego que já dormi com meia dúzia de homens mas é só sexo casual, não confio em nenhum homem para partilhar a vida comigo, na verdade até é bom porque a minha carreira exige toda a minha atenção. Tenho um emprego e um apartamento, as contas pagas e estou bem assim. Volto a pegar no dossier do meu cliente, olho para a foto, porra o homem é lindo, traços fortes, perigoso e totalmente culpado. Estou completamente na merda, eu não posso negar o caso e também não posso ser imparcial tendo um passado tão amargo.

Na segunda-feira coloco uma das minhas saias, camisa e saltos, ato o cabelo com apanhado conservador, prendo sempre os meus cabelos quando trabalho para me dar um ar mais profissional e vou até a penitenciária, deus proteja este homem porque a minha vontade é de o matar com as minhas próprias mãos. Sento na sala de visitas que está desocupada e espero aquele homem chegar, ouço a porta e pelo canto do olho vejo polícia por perto, o som da cadeira a arrastar e ele está ali...

— Bom dia Sr Carter, sou a sua nova advogada. - olho rapidamente para ele e estendo a mão para lhe cumprimentar.

— Está com alguns anos de atraso doutora.

— Acabo de receber o seu caso, diz que é inocente então veremos isso. - O homem está completamente tatuado, bom pelo menos sei como ocupou o seu tempo estes anos.

— Acho que não tenho nada a perder certo?

Continuo a evitar olhar para ele, lamento mas é mais forte que eu. Explico todo o procedimento do processo e peço que me conte o que aconteceu para estar ali, faço anotações e gravo a nossa conversa. A história não tem nada de intrigante, o Sr Carter era convidado numa festa onde uma jovem reclama ter sido violada, eles eram amigos e ela estava  noiva então ele diz que foi acusado mas nada se passou, na verdade faltam muitas informações no processo, basicamente ela apresentou queixa, a policia fez a detenção e o promotor tratou da sentença no dia seguinte, fácil e rápido. Nem exames médicos foram feitos a rapariga, talvez o meu cliente tenha a sua cota de inocência no meio de tudo isto.

— Vou tentar reunir mais informações Sr Carter. Voltarei assim que possível. - Levanto e arrumo tudo na minha pasta.

— Devo confiar em alguém que não me consegue encarar?

— Devo confiar em alguém que bebeu tanto que não se recorda de metade dessa fatídica noite? - Pergunto olhando finalmente para ele e disfarçando o melhor que posso a minha repulsa.

— Entenda uma coisa você não precisa de ser homem para saber quando foi fudida, mesmo que tenha bebida até perder a consciência. O seu corpo sabe isso mesmo que a sua mente não.

— Terei isso em conta na minha análise.

Viro costas e saio daquele lugar preparada para começar a trabalhar, passo na esquadra onde ficou afeto a sua detenção e peço para rever todos os documentos, na verdade nada comprovava a violação então marquei uma audiencia com o advogado de acusação, o promotor e a juíza. Foi concedida liberdade condicional ao meu cliente, tratei dos parâmetros legais e no dia seguinte eu mesma iria esperar por ele na porta do estabelecimento prisional. Não entendi como foi que o primeiro advogado não conseguiu ajuda-lo melhor, fiz tudo o que podia para reunir depoimentos e documentos, a maioria terei que aguardar o envio e autorização do tribunal, não terei respostas para dar a Carter amanhã mas pelo menos está fora da sua cela. No dia seguinte exatamente três da tarde ali estava eu ao lado do meu carro a esperando um homem que se tornou o meu primeiro cliente, por trás dos meus óculos escondo o meu olhar que avalia cada movimento seu até estar na minha frente...

— Afinal estava enganado a seu respeito.

— Talvez sim ou talvez eu seja realmente a cabra que você acha Sr Carter, agora entre posso deixa-lo onde quiser.

— Gosto do seu humor sarcástico.

O bairro onde ele quis ficar não era longe da minha casa mas sabendo que ele não tinha família ou um lar achei por bem relembra-lo da sua situação...

— Aqui tem o meu cartão, por favor não se meta em confusões.

— Vou tentar Doutora...- Ele olha para o cartão e lê o meu nome - Arden.

— Tente contactar-me de vez em quando para ter novidades do processo.

Espero que ele saia do carro e vou para casa, iria dar o dia como terminado para descansar um pouco pois tinha ficado no computador até tarde na noite anterior. Durante o resto da semana reuni muito pouco acerca do processo, eu tinha de ir diretamente a fonte e isso significa falar com a vítima, tenho a certeza que me vou ver no seu lugar, eu passei pelo mesmo. Finalmente a semana tinha terminado e eu decidi ir ao bar habitual com a Rebecca. Entramos no bar que ainda está vazio e sentamos na nossa mesa preferida, a que fica num canto estratégico e que nos dá a visão perfeita da entrada, eu e ela gostamos de ver os clientes, Rebecca adorava avaliar os novos "peixes" como ela dizia...

— Amiga acaba de chegar um grupo de tubarões, olha só. - Dá para ver um grupo de homens que acabam de estacionar as motos.

— Motards são problemático Rebecca, fica quieta, hoje o aquário terá águas turvas.

— Mas também são excistantes Kendra. - Ela não tem juízo quando se fala do sexo masculino.

— Pensei que tinhas namorado.

— Tenho até arranjar melhor. - Ela ri e eu faço sinal que é completamente louca.

— Por amor de Deus Rebecca.

Kendra ArdenOnde histórias criam vida. Descubra agora