Kendra Arden

5 - Vítima?

Terça-feira, dez da manhã estou parada na porta de uma loja de roupas caríssimas, a proprietária do grupo deve estar escondida no seu luxuoso gabinete no andar por cima da loja

— Bom dia posso ajudá-la? - Uma das empregadas aproxima-se com aquele sorriso falso que eu odeio nas pessoas.

— Sou advogada, preciso falar com a Sra Wills.

— Vou ver se ela está disponível, aguarde um pouco por favor.

A mulher desaparece e eu aproximo-me de uma camisa linda de seda, quase tenho um ataque, custa metade do meu salário

— Queira acompanhar-me, a Sra Wills vai recebê-la.

Acompanho a mulher, sigo-a até a escadaria de mármore que dá ao andar de cima, era um luxo inacreditável, no fudo a porta branca está aberta e a mulher com quem vim falar recebe-me com simpatia.

— Bom dia, deseja tomar algo? - A mulher sai de tras da secretária e faz sinal para que nos acomodemos nos sofás.

— Não obrigado.

— Deixe-nos a sós por favor Linda. - A empregada sai para nos dar privacidade - Em que posso ajuda-la?

— Sou a Dra Arden, advogada de Dylan Carter.

— Carter? Mas o que ele quer agora? - Ela fica nervosa no mesmo instante.

— Calma Sra Wills eu vou explicar mas preciso que me conte o que aconteceu naquele dia.

— Mas ja passou tanto tempo e ele estava preso porquê isto agora? - Compreendo a sua reação.

— Eu sei que é complicado, acredite que sei e só quero saber a verdade, se ele for culpado regressará a prisão mas se não for o caso, permanecerá em liberdade condicional.

— É muito duro, eu ja quase esqueci tudo, é injusto, o meu marido não vai ficar contente.

— Eu irei fazer o possível para que justiça seja feita, pode contar-me tudo por favor? -Eu sabia o que era estar no seu lugar mas não lhe iria dizer isso.

— Era a festa de aniversário da minha prima, ela faria dezasseis anos e quis ter um dia digno de princesa. As nossas familias teem dinheiro e então os meu tios alugar uma casa linda que parecia um pequeno castelo. Lembro-me que estava linda quando a decoração foi feita com o tema de princesas e príncipes, ela convidou toda a escola e a sua irmã também. Comprei um vestido lindo, todos os convidados ganharam coroas para entrar na festa, seria uma noie memorável até porque as meninas da família iriam dormir juntas nessa casa, estava tão empolgada. A nossa família é muito tradicional, meninas casam de vestido branco, virgens, cerimónia com missa na igreja, todas as formalidades da grande sociedade. Haviam seguranças na porta e em redor da casa claro. Os rapazes faziam concursos de bebida, na altura eu tinha dezassete anos e estava a namorar com o meu atual marido, era o amor da minha vida na verdade continua a ser e nessa noite Dylan estava lá, ele não é de familias de dinheiro mas pertencia ao grupo de amigos da irmã da aniversariante. Lembro que ele me levou para o quarto, trancou a porta e... desculpe o resto a senhora deve imaginar.

— Lamento fazê-la relembrar isso mas porque não há registos médicos?

— A minha família não me queria expor a tamanha humilhação e de qualquer forma ele era o culpado, era evidente e a policia apenas o levou sem demais. O meu pai queria manter a sua reputação e evitar falatórios, por ele e por mim. - Violação entre familias ricas dá sempre no mesmo, silêncio.

— Houve algum outro incidente essa noite?

— Não, alguns rapazes estavam muito bêbedos mas nada tão grave como o que Dylan fez. - Como um homem pode fazer isso?

— Ele diz que vocês eram amigos.

— Nós falamos algumas vezes, ele e o meu namorado treinavam futebol juntos e como era amigo de uma das minhas primas já nos tínhamos cruzado em outras festas, falávamos mas nada de muito intimo.

— Bom se tiver mais questões eu contactarei, obrigado por me receber Sra Wills.

Não havia nada que me ajudasse a acusar ou defender o meu cliente, não conseguia saber nada de novo que me ajudasse, o caso era uma pedra no sapato de qualquer avogado. Eu lembro do nome do clube motard, pesquisei na internet "MotorHell" e a morada apareceu de imediato, odiava ter de me dirigir a um lugar daqueles mas teria de ser já que não tenho como contactar Carter de outra forma.

Vejo o lugar repleto de motas estacionadas na porta, saio do carro e pergunto a um jovem por Dylan o rapaz deve ter cerca de quinze anos, sigo-o até ao interior do espaço, sou acolhida com uma névoa de fumo, alguns homens jogam as cartas, fumam, bebem, a maioria está sem roupa da cintura para cima, há mesmo armas espalhadas por todo o lado, olho até a mesa onde Dylan joga com os amigos e aí percebo que realmente todo o seu corpo está coberto de tatuagens, que loucura, o homem é um delinquente que faz perder o meu tempo. Porra o que é que eu faço aqui? O rapaz corre para o avisar da minha presença mas eu rodo os calcanhares para sair dali, tenho uma carreira para erguer, volto a colocar os óculos de sol quando saio daquele lugar...

— Dra Arden... - Ele coloca o seu grande corpo na minha frente.

— Pensei que tinha sido Clara.

— Foi mas estes são os meus amigos, a minha família e ninguém dá emprego a um ex presidiário. - Ele tem razão, tento olhar nos seus olhos e evitar fitar cada tatuagem.

— Armas, álcool e... Isso será algo que o advogado de acusações irá adorar.

— Não tenho outro lugar! - Ele dá um sorriso torto, bonito até.

— Precisamos conversar, aceita almoçar comigo?

— Vou só vestir algo.

— Boa ideia Sr Carter.

Ele volta ao interior daquele lugar e eu espero por ele no carro, aproveito a desculpa de o ter convidado para ir ao meu restaurante preferido, um rodízio fantástico. Quando entramos sinto o incomodo das pessoas com a presença forte de Dylan e o pior era o contrate entre nós os dois...