Só por alguns minutos...

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Konohagakure no Sato
Ao abrir os olhos sua retina ardeu com a claridade do local, não estava acostumada com lugares claros e completamente esterilizados como aquele. Forçou o corpo para se levantar, porém nada respondia, não da maneira que precisava. Piscou os olhos várias vezes para conseguir focar a visão e tentar identificar alguma coisa naquele ambiente, mas foi completamente em vão. Flashs do que havia acontecido na floresta vinham a sua mente, fazendo o monitor de frequência cardíaca aumentar consideravelmente.
— Senhorita Uzumaki… — ouviu a voz de alguém ao fundo e depois de alguns minutos um figura de cabelos escuros aparecer em seu campo de visão.
— Que lugar é esse? Quem são vocês?
— Você está em uma unidade de tratamento intensivo no hospital de Konohagakure, meu nome é Shizune e sou responsável pelos seus atendimentos.
Karin tentou mexer os braços, mas notou uma pressão em pontos fundamentais de chakra, não se espantou ao ver correntes de contenção ali, afinal de contas estava em uma das principais nações shinobis.
— Como pode perceber — Shizune continuou — Você foi resgatada após um ataque aos shinobis da aldeia da grama. Foi identificada como Uzumaki Karin, discípula de Orochimaru, um dos nukenins mais procurados de nossa nação. Devido ao seu estado de saúde a Godaime permitiu que recebesse o tratamento adequado nessa unidade antes de ser transferida para o setor de interrogatórios.
Karin engoliu em seco.
— Onde estão os outros?
— Os ninjas da aldeia da grama já foram liberados, os ferimentos eram superficiais comparados aos seus.
A ruiva pensou um pouco, conseguia lembrar da dor que sentiu ao ser golpeada. Sasuke havia perdido o controle e a atacado sem piedade, estava prestes a perder a consciência quando outro chakra apareceu. Um chakra mais doce e suave, porém intenso… E foi então que sentiu algo diferente em Sasuke, algo que nunca sentiu, como se aquela presença tivesse o acalmado imediatamente.
— Senhorita Uzumaki? — Shizune chamou — Agora que voltou do coma iremos realizar alguns exames para verificar seu quadro clínico. Em breve nossa Hokage irá vir conversar com você.
Karin permaneceu em silêncio, não sabia exatamente o que estava acontecendo, mas sua lealdade à Orochimaru estava acima de qualquer coisa. Decidiu aguardar, já havia passado por torturas inimagináveis nessa vida, não existia nada em Konoha que a despertasse medo, não quando já havia sido completamente destruída desde pequena.

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Naruto passou pelos portões da vila com uma sensação estranha. Após uma longa jornada de treinamento para igualar seu poder ao de Sasuke e das últimas experiências com os membros da Akatsuki, o Uzumaki estava incomodado com a sensação de que algo a mais estava acontecendo.
— Hei Naruto!! — Chouji chamou.
O loiro encontrou o amigo ao lado de Shikamaru e foi até eles.
— Estão indo comer?
— Onde mais você acha que o Chouji estaria indo? — O Nara disse brincando com o isqueiro do antigo sensei.
— Venha com a gente! — O Akimichi disse empolgado enquanto devorava uma barra de chocolate de sabor duvidoso.
— Certo, acho que posso fazer uma pausa antes de procurar o Kakashi-sensei.
Os três seguiram para a churrascaria preferida de Chouji em silêncio, fizeram seus pedidos e conversaram sobre trivialidades até que Shikamaru notasse que o Uzumaki estava bem mais “contido” do que o normal.
— O que você tem, Naruto?
— Hm? — ele olhou o amigo — An, não é nada — coçou a cabeça — Acho que os últimos meses mudaram a adrenalina no meu corpo, tenho a sensação de que estou ficando fora de algo.
– Hum… – Shikamaru desviou o olhar.
– O que você sabe, Nara?
– An? Não... Eu não sei de nada.
O Uzumaki cerrou os olhos e se inclinou para ficar ainda mais próximo do amigo.
– Ei, me conte agora o que você sabe.
Shikamaru respirou fundo, sabia que não conseguiria ficar em silêncio por muito tempo, principalmente agora que Naruto sabia que havia algo.
– Houve um ataque… – ingeriu todo o saquê em seu copo.
– Que tipo de ataque?
– Próximo à aldeia da grama, alguns shinobis foram resgatados e uma das discípulas de Orochimaru.
– Orochimaru… – Naruto sentiu a raiva fluindo em seu corpo e fechou o punho em cima da mesa.
– Existem indícios da presença do Sasuke no local, e… – engoliu em seco – De Sakura também.
– Sakura? – Naruto arregalou os olhos – Mas ela está em missão na aldeia da Grama.
– Ela nunca chegou.
O loiro sentiu uma angústia e pavor crescendo em seu interior, levantou-se da mesa e correu em direção ao QG da Hokage ignorando tudo à sua volta. Não parou para pedir permissão e abriu a porta do escritório encontrando a Godaime conversando com alguns jounins, incluindo Kakashi.
– Naruto! – Shizune o repreendeu – Não se deve entrar na sala de um kage dessa forma…
– Onde está a Sakura-chan?
Ele respirava de forma acelerada e começava a emanar o chakra da raposa. Kakashi se levantou, notando que a maioria ali dentro estava com receio.
– Naruto, se acalme – sugeriu – Vamos conversar com calma.
– Você sabia? – seus olhos assumiram a coloração alaranjada.
– Saiam todos – Tsunade se colocou em pé – Naruto, conversaremos após você se acalmar, então sugiro que acalme a raposa de nove caudas, antes que eu o faça.
Assim que viu os demais deixando a sala, o loiro começou a se acalmar, não suportava a ideia de que algo teria acontecido com sua companheira de time.
– Sente-se – falou tomando seu assento novamente.
– Sakura-chan saiu em missão, mas acabei de descobrir que ela nunca chegou. Ela já está fora da aldeia há dias e não temos notícias, bom… pelo menos eu não tenho.
Tsunade respirou fundo.
– Alguns ANBUS que passaram próximo da região identificaram o ataque aos ninjas da aldeia da Grama. Uma das discípulas de Orochimaru foi resgatada gravemente ferida e está sob custódia para o interrogatório. Realmente encontramos assinaturas do chakra de Sasuke no local, e algo de Sakura… Embora eu ainda não tenho certeza, sei que ela está bem.
– Como vamos saber? – Kakashi questionou – Sasuke não está em seu melhor estado de consciência, quais garantias temos de que ela está bem?
Tsunade encarou ambos e passou a mão pelo rosto, tinha que admitir que também estava preocupada, mas precisava ter fé em sua pupila.
— Vamos mandar uma equipe para…
— Eu vou — Naruto a interrompeu — A Sakura-chan e o Sasuke fazem parte da equipe sete, se alguém irá resgata-los seremos nós.
— Sai e a Yamato podem compor nossa equipe — O Hatake disse por fim.
— Não é tão simples… — A Godaime começou a andar em volta de sua mesa e parou próximo a janela de forma pensativa — Não encontramos sinais de luta ou resistência da parte de Sakura, tudo leva a crer que ela seguiu o Uchiha por livre e espontânea vontade. Os conselheiros jamais permitiram uma busca elaborada nessas condições.
Naruto franziu o cenho, sempre soube o quanto Sakura era apaixonada por Sasuke, mas abandonar sua vila, seus amigos por ele? Não, isso ele não podia admitir. Conhecia sua amiga bem o suficiente para acreditar que a vontade de resgatar o Uchiha era tão grande que ela não pensaria duas vezes antes de se colocar em perigo. 
— Eu vou mesmo assim — Naruto fechou os punhos tentando conter sua tensão — Pode tentar me deter vovó, mas eu vou atrás da Sakura-chan.
Kakashi encarou o aluno pela visão periférica e arrumou a máscara. Sabia que a Godaime estava escondendo algo e não permitiria que nada acontecesse aos seus alunos.
— Que seja — disse num tom de irritação — Mas esperem até eu ter informações completas após as interrogações com a garota Uzumaki.
— Uzumaki? — Os olhos de Naruto se arregalaram.
— Sim, a discípula de Orochimaru foi identificada como Uzumaki Karin, ainda estamos colhendo informações a seu respeito, mas a lista de crimes em coautoria com o nukenin é alta.
O loiro ficou em silêncio, sentia-se estranho por saber que alguém pudesse ter o mesmo sobrenome que o seu. Quais as chances de serem parentes próximos?
— Não vamos aguardar muito tempo — Kakashi tomou a frente — Quanto mais tempo esperamos aqui, mais tempo deixamos Sakura em perigo.
Tsunade assentiu, acreditava no fundo de seu coração que se algo tivesse acontecido as notícias já teriam chegado, emhora o receio em seu coração também servisse como aviso. Apenas desejava que sua pupila estivesse bem e prestes a cumprir sua missão.

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No esconderijo.
Era cedo, sabia disso pela movimentação silenciosa nos corredores, mas a Haruno não sabia dizer em que parte do dia estavam. Não enquanto estivessem naquele lugar horroroso, sem janelas, luz natural ou qualquer sinal de normalidade. Passou a mão no rosto de forma cansada, quase não conseguiu dormir naquela noite devido os pesadelos do Uchiha. 
A casa susto ou despertar desesperado de Sakura ela se quebrava ainda mais. Sentia que as memórias do massacre jamais sairiam daquela cabeça, fazendo ela pensar que a insanidade apenas fizesse parte de sua fuga. Mas para onde fugir se os monstros que te perseguem estão dentro da sua própria cabeça?
Olhou o rosto sereno de Sasuke e tentou se ajeitar na cama. Naqueles pequenos momentos, via um Sasuke frágil e inseguro, completamente vulnerável em seus piores pesadelos e completamente atormentado. O viu com medo, desesperado, chorando e buscando por seus pais. Tudo isso a deixou ainda mais angustiada, o enorme bolo de choro em sua garganta doía.
— Sakura … 
Os olhos negros a fitavam com a mesma expressão de sempre. Só nesse instante ela percebeu o quão próxima estava no rosto do Uchiha. Uma de suas mais acariciava o rosto masculino em um carinho reconfortante, enquanto a outra servia de apoio para sua cabeça.
— Hum? — Não se afastou.
— Por que está chorando?
Ela estava? Nem se deu conta das lágrimas que banhavam seu rosto.
— Eu não sei.
O Uchiha a observou por alguns minutos. O rosto levemente avermelhado pra conta do choro, principalmente a ponta do nariz arrebitado e as bochechas. Os olhos verdes pareciam ainda mais intensos quando banhados em lágrimas. Não precisava de muito para saber o motivo, Sasuke estava acostumado com os pesadelos, durante anos de sua vida eles o perseguiam… Mas ter Sakura o acalentando foi diferente, ele sentia o aconchego dos braços femininos, sentia as lágrimas molhando seu corpo, sentia a necessidade que ela tinha de tirar todo aquele sentimento de seu corpo e passar para o dela, mesmo que não pudesse.
— Obrigado.
— Não tem que agradecer — disse forçando um sorriso — Eu não posso fazer nada, apenas ficar aqui.
— Já é mais do que o suficiente.
Sem pensar, ele levou uma de suas mãos até o rosto da Haruno secando suas lágrimas sem pressa. Sakura fechou os olhos tentando gravar aquele carinho em sua memória, precisava daquilo.
— Eu senti sua falta — disse sem pensar.
Aquele momento era tão íntimo que  Haruno não pensou duas vezes antes de abrir seu coração novamente. Aquela era a primeira vez que o sentia tão proximo, tão perto. Tinha plena consciência de que eles não eram mais as crianças de antigamente. Sasuke era um homem quebrado, os pesadelos não deixavam ela esquecer disso, mas ali… naquele quarto escuro e silencioso ela o sentia presente, mais do que jamais foi.
 — Sakura…
— Eu sei — ela o interrompeu — Sei que seu objetivo sempre foi a vingança, nada além disso te desperta interesse… Mas você sabe, sempre soube do sentimentos que eu tenho por você. Quando você partiu eu pensei que eles iriam diminuir com o tempo, mas foi exatamente o contrario, esse amor só cresce, cresce a ponto de me sufocar.
Com o tempo as lagrimas voltaram a escorrer pela face rosada deixando o Uchiha petrificado com aquela declaração repentina.
— Não sabe quantas vezes eu chorei até pegar no sono enquanto te imaginava aqui sozinho, enlouquecendo por esse ódio que só cresce em você. E depois que nos reencontramos isso só piorou.
— Você decidiu me seguir mesmo assim — Sasuke sentou na cama, aquela conversa estava o incomodando demais, não queria sentir-se tentado a desistir de tudo por causa das lágrimas da Haruno.
— Eu sei — Ela fez o mesmo após limpar o rosto — Sei seus objetivos e sei o meu papel aqui, eu apenas… apenas precisava dizer.
— Eu não sou o cara para você casar e ter filhos, ter uma vida pacata na vila da folha, vivendo como um shinobi. Olha tudo o que eu fiz, as pessoas que matei, eu sou um nukenin manchado pela maldição do ódio.
— Eu não ligo.
Sasuke a encarou por alguns segundos, a pouca claridade que a vela fazia deixava os traços da Haruno ainda mais convidativos. E naquele momento não pensou em mais nada, apenas na necessidade de sentir aqueles lábios contra os seus. 
Sakura se surpreendeu com o beijo repentino, mas não apresentou nenhuma resistência. Se agarrou ao corpo do Uchiha tentando marcar aquele momento o mais profundo possível em suas memórias. Ele a queria, nem que fosse por apenas uma fração de segundos. Assim que se separaram, ela sentia o peito agitado com os batimentos descompassados de seu coração.
— Sakura… me desculpe.
E a última coisa que ela viu, foram os olhos banhados de um vermelho intenso antes de cair em um sono profundo.

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