Capítulo 22

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~Lua on~

O Thiago sempre teve uma ferida aberta que eu tentei muito fechar, que faria ele literalmente cair caso tocasse nela.

O maior ponto fraco do Thiago era crianças, tudo por causa de uma vagabunda.

Eu sempre falava pra todos que eu não sabia o motivo do término de namoro dele da segunda vez, mas eu sabia e eu sentia a dor dele.

Tudo começou quando ele conheceu a Ketlen, a garota era um amor, todo mundo amava ela.

Eles estavam felizes juntos, e eu tava feliz por isso. Eu gostava pra porra dela.

A felicidades deles aumentou quando descobriram a gravidez. Todo mundo tava animado com essa notícia, o Thiago tinha planejado tudo já.

Teve uma missão que o Thiago teve que ir, e a Ketlen quase no final da gestação quis ir também.

Até aí tudo bem, os dois foram pro lugar da missão.

Era uma missão de meses, eu não sabia muito bem sobre, só sabia o tempo mesmo.

Eu como uma madrinha bobona ligava todos os dias pro Thiago e ficávamos horas conversando sobre a Priscila, que estava prestes a nascer.

A Ketlen entrou em trabalho de parto e teve a Priscila super normal, nada tinha acontecido de estranho.

Eu e o Thiago como eu disse, nos falavamos sempre, e com o nascimento da Priscila aumentou ainda mais.

Faltava apenas um mês pra eles voltarem quando tudo aconteceu.

O Thiago estava me contando o que tinha feito no dia, e como tava animado pra ver a Priscila.

Eu lembro até hoje do Thiago parando de falar do nada assim que chegou no quarto do hotel, e logo o grito dele.

Eu me desesperei por não saber o que aconteceu, e eu perguntava a todo o momento o que tava acontecendo enquanto ele apenas repetia não várias vezes enquanto chorava.

E então eu recebi a notícia horas depois. A Ketlen tinha tido um surto porque a Priscila chorava sem parar, então jogou ela no chão e bateu a cabeça dele no chão várias vezes até ela perder a consciência e parar de chorar, o que também matou ela na hora.

O Thiago tinha chegado quando ela ainda batia a cabeça da Priscila no chão enquanto sangrava, e ela se encontrava já morta.

Eu fiquei desesperada porque eu sabia que o Thiago precisava de mim, então fiz a maior luta pra conseguir um vôo, e ir sozinha já que ainda era menor de idade.

Quando eu me encontrei com ele, que vi seus olhos vermelhos enquanto soluços escapavam de sua boca, e abracei ele que me apartava forte enquanto eu tentava tirar aquela dor dele, era como se tivessem enfiado uma faca no meu coração ao ver o estado dele.

Ele passou dias se sentindo culpado por aquilo ter acontecido, mas ele não tinha culpa da Ketlen ser uma vagabunda egoísta.

Demorou um tempo pra ele conseguir superar, ele tinha pesadelos a noite com a Priscila morrendo. Mas eu estava lá ajudando ele ao máximo que eu conseguia, e tentando ajudar ainda mais mesmo não conseguindo.

Depois disso a Ketlen foi internada numa clínica psiquiátrica.

E agora eu recebi a mesma ligação de anos atrás, na qual ele respirava ofegante o que dava pra perceber que ele segurava o choro dessa vez.

Eu sai igual uma louca pra descobrir o que aconteceu, e meu pai me disse que uma criança que ficou do lado de fora da creche tinha sido baleado, e o pior, o Thiago tava lá.

E nesse momento eu estava correndo em direção do postinho tentando ignorar os corpos cheios de sangue espalhados pela rua.

A invasão já tinha acabado a um tempo, e eu tava aflita em casa enquanto pedia a Deus pra proteger cada pessoa da minha família.

Meu pai disse que assim que o confronto acabou, a madrinha correu aqui pro postinho a pedido do Thiago que só confiava nela pra ajudar a criança, e mesmo com licença maternidade, aqui tá ela.

Chego no postinho e olho ao redor parando meu olhar nele que estava todo sujo de sangue olhando pra parede em sua frente.

Quando ele olhou pra mim, parece que foi o gatilho pra ele começar a chorar sem parar.

Eu corri até ele abraçando ele que retribuiu me apertando enquanto chorava.

Passo minhas mãos por suas costas enquanto ele chora com o rosto na curva do meu pescoço.

Lua: Tá tudo bem- falo baixinho- eu tô aqui- faço carinho no cabelo dele ainda escutando o choro dele.

Eu queria muito tirar aquela dor dele, porque eu sabia o quanto aquela ferida tava aberta, e agora era como se alguém apertasse ela com força.

Eu sabia que ele tava se sentindo culpado por uma coisa que nem de perto era culpa dele.

Eu sentia que ele tava procurando um alívio daquela dor cada vez que ele me apertava mais.

Aquilo doía nele, e automaticamente em mim também. Mas eu também sabia que a dor que eu tava sentindo não tava chegando nem perto da dele.

Lua: Eu tô aqui- falo com a voz embargada.

Fogueta: Lua- ele murmura com dificuldade apertando minha blusa com força- foi de novo minha culpa.

Lua: Claro que não meu amor, não foi sua culpa, olha pra mim- afasto ele um poucos olhando em seus olhos vermelhos que saiam cada vez mais lágrimas- não foi sua culpa, não é sua culpa- falo começando a chorar também.

Ele volta a me abraçar enquanto eu tento manter firme por ele. Limpo as lágrimas minha e fungo tentando segurar o choro.

Faço carinho no cabelo dele que vai se acalmando aos poucos.

Ele soluça parando de chorar ao poucos, mas continuamos abraçados.

Fogueta: Obrigado por tá aqui- fala abafado.

Lua: Eu sempre vou tá aqui- falo fazendo carinho no cabelo dele- vem, vamos sentar ali- ele assente se afastando de vagar.

Seguro em sua mão puxando ele pra sentar no banco de espera.

Sento ao seu lado e ele entrelaça nossas mãos.

Olho pra ele que também me olha abrindo um sorriso de lado cansado, e deita a cabeça no meu ombro.

Faço carinho na sua mão enquanto ele soluça por causa do choro ao meu lado.

Olho pro meu pai que tava encostado na parede ao lado da porta com um sorrisinho estranho.

Eu hein.

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Sempre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora