All Blue

2 0 0
                                    

No terceiro dia após a fim do inverno o sol perdeu um pouco da timidez. Tsipekua se levantou e foi preparar o café.
_ Aurora, onde está o açúcar?
Como ela não respondeu, tratou de encontrá-lo ela mesma. Depois preparou umas tortilhas. Comeu.
Era talvez umas 8 horas da manhã e por sorte ela nem tinha tantas coisas assim.
_ Como faço para chegar em La Carbonera, estado de Tamaulipas?
_ Olha, disse atendente da empresa ferroviária, olhando o mapa, hoje mesmo existe um trem que vai passar em San Fernando. De lá você certamente encontrará um ônibus para La Carbonera.
_ Muito obrigada, me veja uma passagem então.
O ônibus chega ela coloca suas malas no bagageiro e sobe com a mochila e uma malinha de mão. A viagem foi complicada porque ao que parecia uma grande enchente atingiu o vizinho estado do Texas e as redondezas todas. A infraestrutura estava meio precária, mas ela conseguiu chegar em San Fernando na manhã do outro dia. Chovia e foi com alguma dificuldade que ela encontrou uma estalagem. Lá ficou sabendo que 3 vezes por semana havia ônibus para la carbonera, o próximo partindo no dia seguinte, pelo que ela foi até a estação rodoviária e comprou uma passagem. No outro dia embarcou e pouco depois de anoitecer chegou ao seu destino. Chovia. Alugou uma casa confortável que dispunha de uma palapa, em uma aldeia de pescadores perto da Laguna Madre e se instalou. Mesmo chovendo ela foi até o pequeno mercado da vila, comprar alguns víveres e também livros para se distrair.
_ Chalchiuhtlicue deve estar irritada, não é?
_ Certamente. Faz muitos dias que está chovendo e dizem que as cidades mais ao norte estão todas inundadas. Aqui a maioria não segue a antiga fé e por isso os sacerdotes de San Fernando não estão pensando em fazer sacrifícios. Por isso a chuva não para.
Tsipekua acenou a cabeça como se estivesse concordando e seguiu para a sua palapa, pois o sol havia aparecido e ela precisava descansar um pouco. Eu não gostava do mar, por seus próprios motivos, mas achava agradável caminhar na praia. Acabou encontrando o dente de um Megalodon.
_ Esses animais existiam há mais de 2 milhões de anos.
_ Mas como, se a Terra tem pouco mais de dois mil anos? Disse um pescador.
_ É que o Megalodon vivia no mar, e não na Terra.
_ Mas o mar não fica na Terra?
_ Ficava no Céu, por isso chove!
_ Sim, claro, isso explica tudo! Obrigado por me explicar.
_ Disponha.
Perto da noite voltou a chover. No outro dia surgiu o boato aqui bebês foram tomadas de suas mães e levados para serem sacrificados. As mães eram católicas e não se conformavam. Pedro Alfonso e Qéremata. Crianças bonitas.
Continuou a chover por mais três dias. Depois parou como se nada tivesse acontecido. O pequeno irmão de Pedro Alfonso se chama Matías e agora ele era o órfão da aldeia, pois as pais não voltariam mais de San Fernando. À noite, choveu.
Tsipekua estava deitado na cama olhando para o teto que, diferente das paredes brancas, fora pintado de azul.
_ O que o mais gostei nesse quarto é que a lâmpada faz às vezes de Sol.
_ Atlacoya, você viu sol de perto?
_ Inclusive transamos. Ele é um amante quente. O que você faz nesse lugar?
_ Não sei, só estou aqui.
_ Compreendo. Amanhã vou acabar com essa chuva, Chalchiuhtlicue já encheu minha paciência. Ela que vá chover em outro lugar.
_Um pouco de sol realmente seria bom. Você tem bebida?
_ Sempre! Ao que vamos brindar?
_ Primeiro a a gente bebe, depois a sorte nos diz...
_ Por mim pode ser. Cerveja, pulque ou tequila?
_ Tequila.
Beberam. Conversaram, depois choraram
_Ah, os homens.
_ E também as mulheres! Fazia algum tempo que Tsipekua não sorria.
_ Nós precisamos de alguns abacaxis.
_ Eu comprei alguns, estão em uma cesta, na cozinha.
Descascar, cortar em cubos, uma pitadinha quase insignificante de sal, uma pequena pimenta selvagem, apenas meia dose de vinho e um pedaço de fava de baunilha. Bater. Gelo feito com água limão e tequila. Servir em um coco recém aberto. Bom!
_ Você vai quando?
_ Para Veracruz?
_ Sim.
_ Assim que parar de chover.
_ Amanhã, não. Parece que vai ter uma festa assim que a chuva acabar, então que tal nos divertimos um pouco?
_ Não me parece nem muito correto, nem muito sábio, então vamos. Mas agora o quê eu preciso é de um suco de maracujá com umas folhas de menta, bem gelado, pelos deuses!
_ A ressaca é um fato da vida, se acostume.
Após três dias estavam em um barco que se dirigia a Veracruz.
_Eu fiquei com medo de você se desesperar.
_ Nem Atlacoya, nem eu. Prefiro o nada. Desespero é uma forma estranha de compromisso. Você já almoçou?
_ Ainda não. Creio que milho e uns guacamoles nos faria bem e há uma tavernazinha aqui perto que serve os melhores da cidade. Vamos? Senti sua falta...
_ E existe outro motivo para partir?
O beijo fluiu com ternura e as três foram almoçar.

Tenochtitlán: os começosOnde histórias criam vida. Descubra agora