Carl (não) leva umas palmadas

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- Acho que preciso contar uma coisa para vocês - disse Mary Vance.

Faith, Una e ela caminhavam de braços dados pela vila depois de terem se encontrado na loja do senhor Flagg. Una e Faith trocaram olhares que diziam, "Aí vem algo desagradável". Quando Mary Vance dizia que precisava lhes contar alguma coisa, raramente escutá-la era uma tarefa prazerosa. Com frequência as duas se perguntavam por que ainda gostavam dela, afinal gostavam da Mary, apesar de tudo. Na maior parte do tempo, ela era uma companhia estimulante e afável. Se ao menos não achasse que era seu dever contar as coisas para elas!

- Sabiam que a Rosemary West não quer se casar com o seu pai porque acha que vocês são uns selvagens? Ela tem medo de não conseguir educar vocês direito e então o rejeitou.

Secretamente, o coração de Una vibrou de alegria. Ela ficou muito feliz em ouvir que a senhorita West não iria se casar com o pai dela. Faith, entretanto, ficou desapontada.

- Como você sabe? - perguntou ela.

- Oh, está todo mundo comentando. Ouvi a senhora Elliott conversando com a esposa do doutor. Elas acharam que eu estava longe demais para ouvir, mas tenho ouvidos como os de um gato. Segundo a senhora Elliott, não há dúvidas de que a Rosemary está com medo por causa da reputação de vocês. O seu pai não sobe mais a colina. Nem o Norman Douglas. Dizem que a Ellen o rejeitou para lhe dar o troco, por tê-la abandonado muito tempo atrás. Só que o Norman declarou que ainda vai conquistá-la. E acho que vocês deveriam saber que arruinaram o casamento do seu pai e penso também que é uma pena porque cedo ou tarde ele se casará com outra pessoa e a Rosemary West seria a melhor opção.

- Você me falou que todas as madrastas são cruéis e malvadas - disse Una.

- Ah... Bem - disse Mary, confusa -, elas costumam ser muito bravas, pelo que sei, mas a Rosemary West não conseguiria ser muito malvada com ninguém. Pois eu digo: se o seu pai acabar se casando com Emmeline Drew, vocês desejarão ter se comportado melhor e não ter afugentado a Rosemary. Nenhuma mulher decente se casaria com o seu pai por causa da reputação de vocês e isso é horrível. É claro, eu sei que metade das fofocas sobre vocês não são verdadeiras. Porém, criaram má fama. Ora, estão dizendo que foram Jerry e o Carl que jogaram pedras pela janela da senhora Stimson, quando na verdade foram os filhos dos Boyd, mas eu receio que foi o Carl que colocou uma enguia na charrete da velha senhora Carr, por mais que eu tenha dito que não acreditaria nisso até ter provas melhores do que a palavra da velha Kitty Alec. Eu disse isso na cara da senhora Elliott.

- O que o Carl fez? - exclamou Faith.

- Dizem que... Vejam bem, estou só contando o que as pessoas estão comentando, então não me culpem... Que o Carl e um bando de garotos estavam pescando enguias na ponte na semana passada. A senhora Carr passou naquela charrete caindo aos pedaços com a parte de trás aberta. E o Carl simplesmente se levantou e jogou uma enguia lá dentro. Quando a pobrezinha subia a colina, perto de Ingleside, a enguia surgiu se arrastando no meio dos pés dela. A coitada achou que fosse uma cobra, deu um grito horroroso e saltou da charrete por cima das rodas. O cavalo se assustou e saiu em disparada, todavia acabou voltando para casa sem causar nenhum prejuízo. Contudo, a senhora Carr machucou feio as pernas e tem tido crises nervosas toda vez que se lembra da enguia. Foi uma maldade fazer isso com uma pobre velha. Ela é uma boa pessoa, ainda que seja excêntrica.

Faith e Una se entreolharam novamente. Aquele era um caso para o Clube da Boa Conduta. Elas não iriam discuti-lo com a Mary.

- Aí vem o seu pai - disse a Mary conforme o senhor Meredith passava por elas - sem ter a menor ideia de que estamos aqui. Bem, agora isso não me incomoda mais. Diferentemente de algumas pessoas.

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