Capítulo 1 - O Bilhete e O Grupo

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  Acordei com o despertador tocando a música tema de Bob Esponja em um volume consideravelmente exagerado.

  A primeira coisa que eu faço é olhar para o meu criado mudo onde sei que terá um pequeno bilhete me esperando.

   Era um pedaço de papel de tamanho irregular, obviamente rasgado de algum lugar. Peguei e vi a mensagem simples e direta escrita à mão com a letra inconfundível de Dona Emília.

  "Leve-os para a casa. Aceite o medalhão. Coloque sal grosso nas janelas imediatamente."

  Decorei a mensagem e dobrei (amassei na realidade) o bilhete.

  Abri a porta do closet e em um canto bem escondido, tirei um baú pequeno cheio de símbolos desconhecidos que eu nunca quis saber e guardei o papel.

  Em um outro canto, escondido em um dos inúmeros bolsos de uma jaqueta de couro violeta que nunca uso peguei um saco do sal grosso que insisti para que o Tio Pedro, o padre da igreja mais próxima, abençoasse (outra instrução de minha avó).

  Coloquei uma quantidade boa nas janelas e no batente das portas do closet e banheiro.

  Terminei o processo que não tenho ideia para que serve e desci com minhas roupas para me arrumar no banheiro de baixo. Não sou obrigada a tomar banho de chuveiro se tem uma banheira em casa.

  Por sorte cheguei antes do meu irmão.

  Deitei de forma relaxada depois de encher a banheira com água morna e àqueles sais de banho caros da minha mãe. Talvez ela dê chilique, mas hoje eu passo o dia cheirosa.

  Depois de um banho longo e relaxante tomei coragem para colocar as roupas.

  Suspirei triste que tenho que o esconder meu lindo cabelinho nessa touca sem graça.

  Mamãe quase me matou quando soube que pintei as pontas, só as pontas, de azul. Ela disse que pra alguém que estuda em uma escola tradicional como a minha, "esse cabelo é inadmissível".

  Soaram batidas violentas na porta, seguidas por um "saí desse banheiro! Você não é a única que quer usar" de meu irmão.

  —Calma aí!

  Apenas para perturbar, com toda a calma do mundo prendi meu cabelinho curto em um rabo de cavalo e fechei o zíper do moletom vermelho antigo puxado para o marrom (eu chamo de vermelho Muse Campbell) com uma coruja bordada em linha prateada e as letras M.C. nas asas do pobre animal escolhido para representar a escola.
Era a única parte do uniforme que eu usava, já que tínhamos a liberdade de não ter que usar aquela saia encolhida quando não temos nada de especial na escola (palestras, feiras de ciência e coisas desse tipo).

  Eu prefiro mil vezes os meus jeans verdes e azuis, as minhas cores preferidas.

  Olhei no espelho para uma última checada e quase caí na banheira de novo com o susto.
  —Você vai ao porão hoje? —uma garotinha com buracos no lugar dos olhos me perguntou com uma voz carregada de sofrimento.

  O mais sinistro é ela aparecer no lugar do meu reflexo. É assustador mesmo pra mim.

  —Não —respondi simplesmente tentando não me mostrar abalada. Vovó disse pra nunca demonstrar medo para fantasma nenhum.

  Ela começou a soluçar como se estivesse chorando, mas eu não ia fazer nada do que ela me pedia. Minha avó me disse para não me envolver.

  —Eu não aguento mais! —Ela soltou um grito extremamente agudo.

  Tapei os ouvidos com o máximo de força que consegui.

  Quando voltei a olhar para o espelho, vi apenas o meu reflexo.

Cartas aos Mortos (Delphine E Os Doze Cavaleiros - Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora