Meus olhos demoraram a se focar em alguma coisa. Eu sabia que estava me movimentando, mas não parecia fazer esforço nenhum.
Quando me situei, descobri que estava em uma floresta densa e escura. O clima era o mais frio que eu já senti.
Eu estava correndo meio tropeçando nos meus pés, amarrada por uma corda que era puxada por um homem que parecia ser mais velho que meu pai. Ele usava uma armadura de metal. Não sei qual metal usavam, mas as séries e filmes me deram propriedade para saber que era um cavaleiro.
Meu cabelo estava mais longo e ondulado do que realmente é. E minhas pernas estavam mais curtas. O vestido longo de um tom roxo desbotado e sujo apenas atrapalhava minha corrida.
Tentei gritar, mas meus lábios nem se mexeram.
—Senhor, se isso continuar, tu morrerás. Reconsidere. Liberte-me, pelo nome do Santíssimo Deus —falei com uma voz mais fina e jovem do que deveria.
Não era o meu idioma. Mas eu consegui entender cada palavra.
Ele me deu um puxão forte na corda que pareceu esmagar minha costela. Senti meus lábios se apertando de dor.
—Continue correndo, criança profana —ele disse sem parar de correr.
Eu deveria estar procurando algo, mas não consigo lembrar o quê.
Eu sei que há alguém atrás de mim.
—Ele está nos alcançando. Eu sinto —eu disse com convicção e sem um pingo de medo na voz.
Todo o temor e ansiedade que estava sentindo se foram. Um sentimento de força se apossou de mim.
—A batalha não poderá ser evitada hoje —o senhor disse ao parar de correr.
Com uma mão ele tirou uma espada da bainha e com a outra segurava a corda que me prendia.—As batalhas sempre podem ser evitadas —respondi com um ar de sabedoria contrastando com a voz infantil.
—Não onde estiveres, criança maligna —me olhou igual um lobo olha para sua presa.
Eu sentia. Eu sentia ele.
O controle de minha mente me fugiu também. E o mesmo pensamento se fixou nela.
“Venha até mim, nobre salvador! Sei que estás por perto.”
—O perseguidor? Apareça covarde! —O homem bradou com a espada em frente ao corpo.
Ele ouviu os sons da floresta.
—Não tem ninguém? Isso é um truque seu, bruxa! —Ele coloca a ponta da espada em minha garganta.
Ao invés de estar apavorada, eu levantei a cabeça sem nem hesitar.
—Não temo por minha vida. Mas por aqueles que não serão alcançados por minha missão —eu disse olhando nos olhos do homem.
—Missão? Crianças diabólicas, não recebem missões ou profecias —ele olhou no fundo dos meus olhos e apertou mais a espada em minha garganta. Senti uma fisgada do corte fino que fez em meu pescoço.
—Então por que seu senhor me quer tanto? Por que está aqui?!
O velho rabugento arregalou os olhos e ergueu a espada para um golpe certeiro e fatal.
Quando a espada estava há centímetros do meu pescoço, uma outra lâmina se chocou contra ela.
Uma espada cuja lâmina era tão branca e brilhante quanto o sol ao meio-dia.
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Cartas aos Mortos (Delphine E Os Doze Cavaleiros - Livro 1)
FantasyKarina Coast é uma adolescente imatura e comilona que vem tentando agir como um fantasma, igual aos que ela vê e tenta ignorar a vida toda, até que um conselho de uma troca de cartas com sua falecida avó faz com que descubra que seus dons vão muito...