Karina Coast
Eu não gosto disso. Não fui uma criança birrenta, mas...
—NÃO MÃE!
Ela me olhou respirando fundo pelas narinas. Um aviso que eu deveria respeitar, mas não posso viver com essa decisão.
—Não o quê, Karina? Você espera continuar viva a base de porcarias?! —Rebateu com um olhar desafiador.
Procurei meu pai com os olhos em busca de apoio, mas ele nos ignorava elegantemente foleando os papeis do exame.
—Você está me torturando! Quer me tirar a melhor coisa que eu tenho na vida?! —Rebati engolindo em seco.
Não posso, não posso.
—Torturando?! Sua ingrata! —ela disse entredentes antes de correr em seus saltos como um ganso levantando voo.
Deu merda.
Corri para o meio da sala passando pela TV quase derrubando. Não é difícil ser mais rápida que mamãe usando salto, mas a cada minuto eu tropeçava em meus próprios pés.
Ela me encurralou, mas a fiz dar voltas no sofá onde Mochila me olhava parecendo incrédulo, Cake se divertia, Zack ria descontroladamente e Bela parecia se segurar para não fazer o mesmo.
—É para o seu bem Karina!
—Isso é o quê? —estava quase sem folego —uma intervenção com... com... um usuário de drogas? —falei pausadamente encarando minha mãe do outro lado do sofá, atenta aos movimentos dela para sempre ir para o lado oposto.
Ficamos nesse impasse, correndo em círculos por alguns segundos.
Um pouco de contexto, caso alguém se importe: o meu médico viu os meus últimos exames, e achou absurdo que o açúcar e colesterol no meu sangue estejam tão altos e que me falte tantas vitaminas e ferro. A mesma anemia que eu sempre tive, mas dessa vez eu sou obrigada a fazer uma dieta.
Minha mãe insiste em controlar meu dinheiro pra eu não sair dessa dieta estúpida.
Bem, é óbvio que eu vou comer escondida, mas acho sacanagem ela desconfiar da própria filha.
Usei minha visão periférica para espiar possíveis saídas.
Dinah e Dora estavam encostadas na parede indo para o corredor que leva à cozinha. Ela negavam com a cabeça, provavelmente suspirando também.
Minha mãe se moveu um passo para a direita dela, eu me movi um para a minha em reflexo.
As escadas que levam ao segundo andar estavam livres, Maxwell estava encostado no corrimão rindo sem emitir som, mas dobrando o corpo e tendo tremores, claramente sem fôlego.
Era o caminho livre.
Eu fiz que ia para a cozinha, mas quando minha mãe pegou impulso, eu foi para as escadas. Não olhei para trás quando o barulho dos saltos batendo soou próximo demais.
Eu consegui ir longe para meus padrões.
Veja bem, correr em linha reta já difícil para mim.
Correndo na escada, eu estava com medo de desequilibrar no começo, mas depois do terceiro degrau, peguei confiança. Erro grave.
Acho que consegui subir seis... não sete! Antes de meu tornozelo esquerdo dobrar e meu pé escorregar do degrau.
Eu sabia que meu corpo estava prestes a cair, mas não soube o que fazer para impedir. Fechei os olhos com força e aceitei a queda.
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Cartas aos Mortos (Delphine E Os Doze Cavaleiros - Livro 1)
FantasyKarina Coast é uma adolescente imatura e comilona que vem tentando agir como um fantasma, igual aos que ela vê e tenta ignorar a vida toda, até que um conselho de uma troca de cartas com sua falecida avó faz com que descubra que seus dons vão muito...