Narrador Observador
Não pode ser verdade, pensou.
Maxwell sempre gostou de ser surpreendido. Seja quando os professores lhe davam pontos extras por alguma resposta correta em sala ou quando entrava em seu carro importado e dirigia sem rumo para ver onde chegaria. Mas nunca esperou ver a si mesmo, em carne e osso bem na sua frente.
O choque foi tão grande, que até mesmo uma pessoa racional como ele esqueceu que deveria respirar. Parecia uma brincadeira de muito mal gosto.
Ele chegou a repassar tudo o que aconteceu na ultima meia hora, tentando se lembrar se havia desmaiado. Talvez eu tenha me distraído e me deram algum tipo de droga?
—AHHHHHHHH! —Karina gritou no corpo dele.
—Tá gritando por... —Se desesperou ao notar que sua voz saiu fina.
O que está acontecendo? Como ele poderia não saber o que está acontecendo?
Uma mulher ruiva com roupas caras e um salto alto demais pra ser usado em casa apareceu balançando as mãos no ar como se quisesse imitar um pardal voando. Agatha estava terminando de fazer as unhas quando ouviu o grito alto vindo da sala.
—Kara, meu amor o que aconteceu? Ouvimos alguém gritar –A ruiva perguntou colocando as mãos nos ombros de quem achava ser sua filha.
Kara? Meu amor? Maxwell se questionava.
Agora é sério, que merda colocaram no meu refrigerante?
Olhou para seu corpo. Ele não se lembrava de ser tão magro e ter uma cintura tão fina... nem de usar roupa de Pokémon. Passou a mão pelo próprio rosto, sentindo um nariz pequeno e achatado, cílios maiores do que deveriam e constatou que estava ferrado.
O notou sua versão afeminada o olhando com cara de assustado e antes que ele pudesse responder, Maxwell falou para a mulher.
—É foi. Fui eu... mãe. Entrou uma barata voadora aqui, mas o Max já matou e jogou pela janela.
É nessas horas que ele agradecia pelo seu raciocínio ser rápido. Porém, a mulher não parecia ter engolido aquela explicação.
—Filha, mas você não tem medo de...
A mulher olhou dele para o outro parecendo desconfiada, depois fitou a Maxwell novamente que deu um sorriso sem graça e pareceu chegar a uma conclusão satisfatória.
—Tudo bem, então vou deixar vocês terminarem seu trabalho –falou com um sorriso meio psicopata, igual o que Karina lançou para a Alie na aula de Historia.
Tal mãe, tal filha.
Olhou para o outro Maxwell (na verdade era Karina), vendo-o com uma postura estranha: mãos no quadril e sobrancelhas franzidas. Que visão do inferno.
Ela ia falar alguma coisa, mas ouviu um bocejo vindo do sofá maior. Cake os olhou confusa. E ficou encarando Maxwell na expectativa.
—Dormindo no sofá dos outros... —o "outro" repreendeu com indignação.
A menor olhou confusa para quem pensava ser sua amiga e depois encarou o “garoto” de novo.
Nem olha para mim, estou tão confuso quanto você, pensou Maxwell.
Karina (a verdadeira) arrancou a garota do sofá sem um pingo de delicadeza e a arrastou para cima sinalizando para que Max a seguisse.
Subiram as escadas e passaram por um extenso corredor, as paredes eram decoradas por um papel de parede com desenhos pequenos e fundo cor de mármore, havia uma porção de pinturas e vasos. Entraram em um quarto que tinha uma cabeça de unicórnio (falsa evidentemente) com a língua pra fora onde tinham marshmallows colados.
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Cartas aos Mortos (Delphine E Os Doze Cavaleiros - Livro 1)
FantasíaKarina Coast é uma adolescente imatura e comilona que vem tentando agir como um fantasma, igual aos que ela vê e tenta ignorar a vida toda, até que um conselho de uma troca de cartas com sua falecida avó faz com que descubra que seus dons vão muito...