Capítulo 4 - O Verdadeiro Culpado

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  Saímos da minha casa em silencio total.

Eu observei o horizonte para tentar me acalmar. Coisa que nunca funciona, mas eu não deixo de tentar por isso.

O sol já havia se posto, mas a lua iluminava o céu bem o suficiente para que pudesse enxergar o conjunto de serrações que rodeava a grande e próspera Muse Valley. O sonho de consumo de muitos que buscam aumentar suas chances de obter sucesso na vida e o pesadelo dos poucos que têm consciência da linha que separa os ricos e pessoas de classes mais baixas. As oportunidades não são iguais para todos.

Eu estou envergonhada, mas ainda quero surrar o Maxwell.

  Olhei pra ele com raiva.

—O que foi? —Ele disse com uma expressão sonsa que não combinava nem um pouco comigo.

Cake se afastou pois sabia que a bomba estava armada.

—Como assim o que foi? Todos perceberam que tinha algo errado! Eu não me apaixonaria por mauricinhos babacas como você e muito menos agiria daquela maneira!

—Ah, quer dizer que caras inteligentes, legais e bonitos não fazem seu tipo? —Perguntou com aquele sorriso de lado que deixa a minha cara pervertida. Por isso que eu não flerto.

—Eu não me importo com esse tipo de coisa. No exterior você tem tudo isso, mas e por dentro? Duvido que tenha algo que valha à pena. E nem deveríamos estar tendo essa conversa, já que você tem namorada —falei me abaixando por causa da altura do novo corpo para olhar no fundo daqueles olhos castanhos que antes eram meus.

Ele ia responder alguma coisa, mas eu tirei a chave do bolso e apontei para o carro azul estacionado na frente da minha casa.

—Eu não sei dirigir, acha que vai dar problema se você for no meu corpo? —Eu disse cortando o assunto.

—Não da nada não —ele disse com dando de ombros e entrou no lado do motorista.

Eu conheço a cara que eu faço quando estou brava com alguém. Será que peguei pesado dessa vez?

Entrei no banco do carona.

Eu não vou dar o braço a torcer, afinal, eu só disse a verdade.

Cake entrou no banco de trás e deitou no banco de couro.

—Você não está no carro do meu pai, sua folgada —falei.

—Deixa, não tem problema.

Ele está com àquela cara de quem não quer papo. Vovó Mili costumava dizer que a verdade pode curar ou machucar. Somos nós que decidimos qual efeito terá.

Passei o endereço do estúdio de dança para ele e isso foi tudo o que conversamos. O silencio era gritante.

É normal a gente não ter assunto, não somos amigos.

Vamos pra casa do William, ele vai ajudar a gente a desfazer isso e nunca mais vamos nos falar.

—Você sabe onde fica a casa do William? —Perguntei me lembrando do detalhe mais importante agora.

—Eu não teria sugerido isso se não soubesse —ele deu uma risada fraca —ele é meu vizinho.

Chegamos no estúdio e eu me despedi da Cake.

—Boa aula meu bolinho de chocolate!

—Voltamos pra te buscar às dez Cake —Maxwell a chamou pelo apelido e ela pareceu satisfeita.

Ele ligou o carro e dirigiu em direção há um lugar a onde eu sabia que teria mansões enormes.

—Ela foi com a sua cara —eu disse sem tirar os olhos da estrada.

Cartas aos Mortos (Delphine E Os Doze Cavaleiros - Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora