Dakota gostava de fazer pequenas pausas em quanto fazia sua arte. Por isso era a única na sala de artes, quando todos, até o professor, já saíram.
Ela usava seu uniforme de líder de torcida por baixo do jaleco. Não se importava se o sujasse. Até tinha um com várias manchas azuladas que usava para ensaiar em casa.
Suas misturas de tons a faziam sorrir com satisfação, mesmo não obtendo de primeira a cor que gostaria.
Cada pincelada delicada e precisa era um deleite aos olhos acinzentados.
E a imagem que, aos poucos ia se formando, fazia seu interior se agitar e uma expressão de fascínio tomar seu rosto.
Pintava o interior de um celeiro com máscaras de teatro com expressões variadas, cortinas espalhadas no chão e pequenos raios de sol entrando pelas rachaduras da madeira.
As cores da pintura, lhe traziam a imagem do rosto de sua musa à mente o tempo todo.
O tom de palha das mechas de cabelo queimadas pelo sol.
O rosado pálido do subtom da pele de seu rosto.O vermelho levemente alaranjado que aparece nas maçãs do rosto quando está envergonhada.
O castanho-claro das pequenas sardas que enfeitavam seu nariz quando ela deixava de usar maquiagem.
A cor indefinida, entre o rosa e o vermelho, dos lábios dela.
O amarelo acinzentado de suas sobrancelhas.
Os infinitos tons de azul de seus olhos.
O alaranjado de seus ombros quando ela se expõe demais ao sol.
Se alguém lhe perguntasse sobre suas cores favoritas, Dakota diria com sinceridade que eram essas. As cores de sua maior inspiração.
Sua inspiração, que entrou na sala e fechou a porta em quanto a morena olhava encantada para a pintura.
—O que tá pintando agora? —A voz fina de Alie atraiu a atenção de Dakota.
Ela a observou com encanto ainda maior do que a pintura.
—Nada tão interessante.
Afinal, a verdadeira arte estava bem ali em pé na sua frente.
Sob o olhar constante de Dakota, Alie puxou uma cadeira em quanto espiava a tela da amiga.
—Como assim não é interessante? Parece que um teatro terminou e as coisas foram guardadas de qualquer jeito, como se tivesssem pressa de ir embora. Hum... bem, o que sei é que é lindo!
Dakota somente a observou se sentar em sua frente com os tornozelos cruzados. Seus olhos tinham uma única mensagem “Não é lindo. Você é.”
Bastou isso, para Alie trazer à tona a cor vermelha alaranjada em suas bochechas e orelhas.
Dakota percebeu que teria de adicionar mais amarelo à mistura para chegar no tom perfeito.—Não fica só... olhando assim. Diz alguma coisa... —A loira puxou uma mecha do cabelo para cobrir o rosto envergonhado.
A amiga, em silêncio, pegou um pincel mais fino e depositou na mistura de azul mais claro. Traçou linhas finas sobre as partes de iluminação.
—Por que não vai ser a Julieta esse ano? —Quebrou o silêncio desviando os olhos de sua pintura.
—Eles gostaram da ideia da versão anos oitenta! Eu vou dirigir a peça! Pela primeira vez, vamos apresentar alguma coisa diferente aqui! Vai ser demais!
Como uma bruxa talentosa, Dakota podia afirmar com convicção que aquele sorriso era mágico. Fazia com que você desse lugar à suas cores mais perversas só para tê-lo.
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Cartas aos Mortos (Delphine E Os Doze Cavaleiros - Livro 1)
FantasyKarina Coast é uma adolescente imatura e comilona que vem tentando agir como um fantasma, igual aos que ela vê e tenta ignorar a vida toda, até que um conselho de uma troca de cartas com sua falecida avó faz com que descubra que seus dons vão muito...