Capítulo XVIII

100 34 89
                                    

O prometido 

     Quando Phellip embarcou em um navio para a Europa em meados de 1826, ele estava tomado pela adrenalina. Não parecia ter noção de para onde ia ou o  que pretendia fazer ao chegar lá. Um homem solitário e perdido, sem raízes. Ele sabia que tinha um pai, Vincente, mas não o conhecia de fato. Toda sua vida, sua infância alegre e conturbada no castelo fora uma grande encenação. 

A voz de Catherine ecoava constantemente em sua cabeça. " Nasceu para ser um herdeiro." 

Fora longos 183 dias em alto-mar. Sentindo o subir e descer das ondas, isso lhe causara náuseas a maior parte do tempo. Era ainda pior quando o vento forte balançava o barco, e as vezes mudava a direção do mesmo, as noites eram frias de tal forma que Phellip se imaginou congelando até virar uma pedra sólida. Para tornar a viagem mais fácil e talvez esquecer toda a confusão que lhe vinha a mente, ele esteve embriagado por pelo menos 90 dias. 

Em uma quarta -feira de sol, Phellip despertou algo diferente dentro de si. Talvez toda sua tristeza e irritação tenha expelido de seu corpo junto aos vômitos, ou talvez, o fato de ele ter entendido que uma historia é uma historia e não a como mudar os fatos. Aquela era sua historia, mas cabia a ele mudar seu destino. Fora então que decidira acessar seus pensamentos enterrados. Saiu de sua cabine e andou até a borda do barco, mirou todo aquele gigantesco e azulado mundo de águas e permitiu - se pensar nela. 

Ah! a quanto tempo evitou pensar nela, em seus olhos verdes brilhantes, em sua pele macia, seus lábios carnudos em forma de coração. Sua sereia e só sua! Sentiu uma pontada no peito ao se dar conta que nem ao menos se despediu. Ao invés disso deixou-lhe uma carta as pressas. Mas não, não era o suficiente, ele devia tê- la beijado, a tomado em seus braços, fazer amor com ela, isso de fato seria uma despedida.
Por outro lado, ele não seria capaz de se despedir dela. Seria melhor deixar uma carta e então alimentar a esperança de que um dia ele voltaria, pois ele vai. Ou pretende. 

Se despedir dela, significa a deixaria livre, e Phellip só de imaginar a possibilidade de Elisa estar livre sentira um terrível nó na garganta e uma fúria capaz de derrotar até mesmo um exercito sozinho. Embora ele tivesse consciência de tal ato e ridículo e impossível.  

Os dias passavam, e ele temeu esquecer de seu toque, seu cheiro, mas o rosto não, era impossível esquecer seu rosto angelical.
Por dias fantasiou estar com ela, mas agora sua imagem passou a ser distorcida como um borrão em sua mente, talvez tivesse passado tantos dias bêbado que isso havia confundido seus sentidos. Mas ele ainda era dela, e somente dela, e por deus! que consiga retornar a tempo, que ela ainda seja dele, e somente dele.

Em uma sexta- feira Phellip finalmente pisou em terra firme, não que ele não tenha pisado nos últimos seis meses. Pois o barco fazia constantes paradas em ilhas e cidades litorâneas no decorrer do percurso. Mas finalmente Phellip havia pisado em terras europeias. Foi direto e objetivo em busca de um cavalo. Não seria necessário carruagem para apenas um. 

Após o aluguel do cavalo, um Morgan marrom, ele seguiu pelas cidades de Portugal. O ambiente era bem diferente de seu pais inglês, o clima era quente a maior parte do dia tinha um ar amarelado e alegre, diferente das cidades cinzas de Londres. Cavalgou em uma estrada de pedra, era comum ter estradas e casas de pedras pela cidade de Braga. Passou por lindas flores vermelhas, eram valenças, sabia disso porque no tempo em que esteve no colégio militar. Tinha um amigo português que vivia falando dessas flores, pois antes de entrar para escola praticava jardinagem com a mãe.

Fora um pouco mais ao sul que finalmente encontrou o endereço dado por sua mãe. Desceu do cavalo e passou o antebraço direito na testa, para livra- se um pouco do suor, enquanto ofegava, de veras Phellip não estava acostumado com o clima. Bateu a porta por fim, em seguida molhou os lábios secos com a língua. Após alguns segundos uma moça, de olhos claros e cabelo castanho abriu sorridente. O cumprimentou em seu idioma, mas ele não a entendia.

Herdeiro vendido ( Concluído) Onde histórias criam vida. Descubra agora