O florescer de Harumi III

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O campeonato mundial júnior de patinação artística no gelo era em alguns dias e Harumi estava bastante agitada pois poderia competir naquele ano, já que a idade mínima era de 15 anos. Ela vinha treinando diariamente, incluindo nos finais de semana. Sua apresentação solo era complexa, e ela precisava de concentração para fazer os movimentos corretos.

Naquela tarde, quando executou o último salto, desestabilizou-se e caiu no gelo. Harumi levantou e respirou fundo, tentando manter a mente tranquila. Aquele era o salto mais complicado, também o mais importante.

Ela se concentrou mais uma vez, mas a treinadora encerrou as atividades.

— Só mais uma vez. — Harumi disse, patinando até a borda da pista. — Eu vou conseguir.

— Precisa descansar. — A treinadora falou séria, completando que não adiantava nada ela se forçar, pois poderia acabar se machucando.

Harumi concordou, apesar de querer continuar. Ela olhou para a pista de patinação e se imaginou no centro. Em sua mente, ela executou perfeitamente o movimento do salto e terminou a coreografia na posição correta. Embora fosse tudo parte de sua imaginação, foi como conseguir concluir uma tarefa incompleta.

Ela saiu da pista e sentou-se no banco para remover os patins. A bolsa estava ao lado, onde ninguém mais estava sentado. A equipe havia se retirado para o vestiário.

Assim que organizou a bolsa, decidiu passar no vestiário para arrumar os cabelos, ela não gostava de tomar banho no vestiário da arena. Nunca pensou que fosse tímida, mas não se sentia à vontade com o grupo da equipe. Elas eram, em sua maioria, garotas da mesma idade de Harumi e também competiam desde pequenas. E, embora estivessem representando o colégio, não eram amigas. Harumi apresentava-se solo, não dependia de mais ninguém, senão de seu próprio esforço e por isso continuou seguindo na equipe sem problemas.

Seu treinamento era solitário, é verdade, mas isso a ajudava se concentrar. A pior parte era quando a treinadora mandava todo mundo se sentar na arquibancada e olhá-la patinar. Era constrangedor porque a treinadora usava-a como um modelo para ser seguido. E isso acabava alimentando ainda mais a competitividade, disputa e, talvez, inveja.

Harumi parou na porta do vestiário, enquanto mandava uma mensagem para o pai, dizendo que já estava de saída. Ele havia parado na cafeteria para comprar muffin que todos em casa adoravam. Assim que Harumi guardou o celular no bolso da jaqueta, ela abriu a porta do vestiário e ouviu uma das garotas falar. Porém, o assunto da conversa era ela e sua família.

Harumi já estava dando meia volta para não ter que ouvir pessoas falando sobre sua vida pessoal, muito menos de seus pais. Contudo, ela acabou ficando curiosa com o que Nakayama estava falando.

Nakayama era uma patinadora muito boa, na opinião de Harumi. Ela era mais velha e já estava no terceiro ano do ensino médio. Apesar de ser a melhor competidora da equipe em conjunto, e em duplas, Nakayama nunca se apresentava no solo. Isso porque as regras do comitê de patinação possuíam restrições para as classes de ômegas, e era reduzido o número de vagas, que ficou com Harumi.

— Você sabe por que, não sabe? O pai dela paga uma nota para uma professora particular dar aulas nos finais de semana. E, além disso, de quem você acha que é essa arena?

— Do outro pai dela?

— Sim, o ator.

— Ai, eu adoro ele, apesar de velho, é tão gostoso.

— Que nojo, ele tem tipo uns 50 anos.

— Ele fez 47 anos.

— Eu já fiquei hospedada no hotel da família dela, e uma vez vi os pais dela nadando no lago.

Procura-se marido que goste de criançaOnde histórias criam vida. Descubra agora