Capítulo 39 - Tovell

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É começo de outubro quando Laura e eu voltamos para a Petit Lys, foram boas férias apesar de nada ter saído como planejado. A rotina está de volta e admito que está difícil me acostumar depois de passar algumas semanas sendo completamente mimada, Laura e Ement estão felizes por nós e nós estamos felizes por eles. Está tudo de volta aos trilhos e só há uma coisa que ainda preciso resolver, Dimitri e sua obsessão, presumo que ele não saiba do noivado ainda e como falta algum tempo - bastante tempo, na verdade - para a próxima reunião geral, terei que me encontrar com ele antes. Ainda não consigo acreditar que ele teve a audácia de dizer para Kian que estávamos juntos pouco tempo depois de Kian e eu nos distanciarmos, eu realmente pensei que ele havia mudado, mas pelo visto não mudou e nem vai tão cedo. Chegamos um pouco depois do horário que a loja abre, as meninas já estão aqui.
— Bom dia Lydia, bom dia Milah. — digo quando entramos na loja.
— Bom dia! — elas respondem em uníssono.
Laura e eu vamos guardar nossas bolsas no lugar de sempre e começamos o trabalho.
— Como passaram o fim de semana, meninas? — Laura pergunta enquanto pega algumas flores murchas dos vasos que ficam expostos na vitrine.
— Foi ótimo, meu namorado veio de Seattle para passar o fim de semana, — diz Milah — ele se mudará para cá em breve. — ela sorri.
— Fico feliz de saber isso. — digo sorrindo para ela.
— E você, Lydia? — Laura pergunta.
— Foi bom, apesar de não ter conseguido relaxar muito. — ela nos dá um sorriso triste e vai buscar outros vasos.
— Espero que esteja tudo bem com ela. — digo quando ela sai do alcance da voz.
As meninas acenaram em concordância e voltaram ao trabalho.
—  Estou feliz de estar de volta à ativa. — Laura diz.
— Eu também, mas sinto falta de ser mimada pelo meu noivo. — bufo de volta.
— "Meu noivo" — ela diz dramaticamente — quem diria em Tovell, menos de um ano atrás você nem queria saber de ficar casualmente com alguém e agora vai se casar, isso é caoticamente incrível.
— É, não é? — digo pensativa, porque agora sei porque nenhum relacionamento meu havia dado certo, porque ninguém era duradouro, é porque não era ele, acho que mesmo antes de eu saber e me lembrar de tudo meu coração já me dizia que nada daquilo faria sentido, que eu tinha que encontrá-lo e então aconteceu. — Acho que é porque eu tinha que encontrar ele.
— Acho que sim. — Laura sorri para mim e eu retribuo o ato. — Estou realmente feliz por você, sabe disso não é?
— Sei sim, mas me pergunto quando Ement vai fazer o pedido. — digo rindo.
— Não seja chata, ele vai fazer quando achar que é a hora, estamos muito bem e se ele não quiser se casar em uma igreja com tudo mais incluído, por mim tudo bem, para mim só basta ele estar comigo e tudo está certo.
— Isso foi realmente muito fofo. — digo abobalhada com suas palavras.
— Eu sei, consigo ser muito sentimental quando quero. — ela sorri e dá de ombros.
Voltamos a focar no que temos para fazer na loja e é nisso que ficamos ocupadas o resto do expediente. Quando são seis da tarde começamos a organizar tudo para fechar e deixamos Milah e Lydia irem embora mais cedo, trabalhamos rápido para terminar de guardar as coisas e pegar nossas bolsas para irmos embora, conferimos o fundo, está trancado, e depois trancamos a porta da frente também e vamos para o Le Coffee, porque um bolinho depois do trabalho é tudo que eu preciso agora. Quando chegamos o café está quase cheio, entramos na pequena fila e rapidamente somos atendidas e então temos que procurar uma mesa vazia no lugar e por sorte há apenas uma mesa para duas pessoas desocupada, andamos rápido na direção dela e nos sentamos.
O celular de Laura apita e ele o confere, sorri enquanto lê a mensagem, depois digita algo de volta.
— Ement está vindo me pegar daqui alguns minutos, quer carona?
— Não precisa, ainda preciso passar em um lugar antes, podem ir na frente.
— Tudo bem então.
Nossos pedidos chegam tão rápido quanto são devorados por nós, não demora muito para que Ement chegue para buscar Laura e eu me despeça dos dois. Assim que eles vão embora, pego um táxi e passo o endereço de Dimitri, é a última conversa que terei com ele, pretendo não ter que fazer isso nem uma vez mais. Chego no prédio dele alguns minutos depois, me identifico na recepção e pergunto onde Dimitri mora para o porteiro, sei que ele mora nesse prédio, mas nunca estive aqui, pego o elevador para o andar do seu apartamento e começo a pensar no que dizer para ele, tenho muitas coisas a falar e não estou com meod de desavenças dessa vez, muito pelo contrário, não trabalharei mais com ele também, não é como se se sua obsessão fosse acabar depois dessa conversa e eu pretendo não ter mais nada a ver com ele. O elevador se abre para um corredor simples com poucas portas, se não me engano o porteiro disse que nesse andar ficam os maiores apartamentos depois das coberturas no último andar, ando até a porta com o número que me foi informado e bato duas vezes então espero. Poucos segundos depois consigo ouvir passos vindo na direção da porta e me preparo para o confronto.
— Tovell! Não sabia que estava de volta. — Dimitri diz quando abre a porta.
— Pois é. — respondo e lhe dou um sorriso sem mostrar os dentes.
— Ah, entra. — diz abrindo espaço para que eu possa passar.
Entro e ele fecha a porta atrás de si, depois anda até a sala e me diz para sentar, em seguida se senta ao meu lado.
— Então, quando voltou? — pergunta despreocupadamente.
— Não muito tempo atrás, mas não estou aqui para falar das minhas férias. — fico imediatamente séria.
— Ah, sim. Então o que a trás até aqui, se me lembro bem você nunca esteve aqui antes, não é? Quer tomar algo? — ele se movimenta para levantar, mas seguro seu pulso.
— Não é preciso, vamos cortar o papo furado e ir direto ao ponto, certo? —  o encaro franzindo o cenho, mas ele tem a coragem de fazer cara de inocente.
— Não estou entendendo, sobre o que exatamente isso se trata? — ele se põe de pé.
— Se trata de como você tem agido ultimamente, se trata de você ter falado para Kian que estávamos juntos, antes mesmo de eu ter tido a chance de poder conversar com ele e consertar as coisas, se trata daquela ceninha no aeroporto antes de eu viajar. — digo me levantando e cruzando os braços sobre o peito.
— Ah, isso. Por que está brava? Não é como se vocês estivessem juntos de qualquer forma, ele não te merece também. — o cinismo está explícito em seu rosto, ele dá de ombros.
— Nós estamos e estamos muito bem agora. — levanto minha mão esquerda onde a gema do meu anel brilha.
Dimitri prende a respiração por um momento e um vinco se forma em sua testa, ele está com raiva, mas não entendo porquê.
— Então é oficial? — pergunta soltando o ar preso, sua voz está baixa.
— Sim, e qualquer que seja o planinho que estava colocando em ação não vai funcionar. Por que você tem que fazer isso? Quais são seus motivos?
— Porque não deveria ser ele a fazer isso, não deveria ser ele a ficar com você, não deveria... — ele respira fundo e põe as mãos na cabeça — isso não está certo, você não vê?
— Não Dimitri, tudo que vejo é um homem doente e frustrado, eu não consigo te entender e agora não sei se quero, meu advogado está começando a quebra de contrato com sua empresa, não quero ter mais nada a ver com você. Adeus.
Passo por ele e vou em direção a porta, quando saio bato-a com força e vou rapidamente para o elevador antes que ele possa pensar em me seguir, no elevador ligo para Kian.
— Oi, baby. — ele atende no segundo toque.
— Oi, pode vir me buscar? — pergunto com um nó na garganta.
— Claro, onde está? — passo o endereço do prédio de Dimitri para ele.
Quando finalmente chego ao térreo puxo o máximo de ar que consigo para os pulmões, na tentativa de desfazer aquele nó em minha garganta. Vou para fora do prédio para esperar por Kian, a brisa fria toca meu rosto e eu fecho os olhos aproveitando a sensação. Mas isso não dura muito porque ouço passos pesados atrás de mim e um puxão me leva para trás.
— Mas que... — não consigo terminar a frase porque Dimitri continua me puxando para um beco escuro do lado do seu prédio.
Não raciocino direito e só empurro meu outro braço em sua garganta com toda força que consigo e em seguida acerto meu joelho em seus países baixos e começo a correr, mas não chego muito longe antes que ele me alcance outra vez.
— Dimitri, me solta. — tento gritar, mas ele abafa minha boca com a mão.
Ele continua calado e me leva de volta para onde estávamos há um momento atrás. Ele me vira de frente para si e cola sua boca na minha, fico paralisada e sem reação, ele é o único se movimentando, quando ele tenta por sua língua dentro da minha boca meu corpo desperta e mordo com força seu lábio inferior. Ele se afasta com um rosnado e limpa o sangue que escorre com as costas da mão, mas não deixa espaço suficiente entre nós para que eu tente escapar outra vez.
— Será que você não consegue ver Tovell, eu sou melhor para você, melhor do que ele. — ele está em cima de mim de novo, seu rosto próximo ao meu pescoço e um de seus joelhos entre minhas pernas.
— Isso só prova o contrário, seu desgraçado. — digo entre dentes.
— Seja mais mansa, Tovell. — sussurra ainda próximo ao meu pescoço.
— Vá se ferrar.
Tento jogá-lo para trás, mas seu aperto nos meus pulsos é esmagador. Então faço a única coisa que me resta.
— SOCORRO! SOCORRO! SOC-
Meu grito é interrompido por Dimitri me sufocando com um aperto no pescoço, tento puxar o ar mas ele só aperta mais e mais. Sinto o mundo ficar escuro e a última coisa que capto são vultos e o baque do meu corpo caindo no chão.

Mistérios de uma vida roubadaOnde histórias criam vida. Descubra agora