3-Eu sou de leão e ele tinha 16!

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"Ah eu tô namorando, pai tá comprometido" assim a notícia da minha catástrofe chegou, tinha perdido ele novamente. Pior, tinha perdido de vez!
Mal começamos, mal nos provamos e ele já estava namorando novamente. Faltava um mês para completar um ano que o provei, que estive naqueles braços. Então eu recebo uma ligação desejosa, desejo de me ouvir, falar comigo.
Relembrando, afirmando, desculpando pelo tempo afastados (outra briga na mesma época), vindo me contar a novidade, certificando que estávamos bem, afinal éramos amigos, enfim só amigos.
Amigos íntimos, amigos que compartilham segredos e dúvidas, amigos que tem uma confortabilidade e uma conexão. Amigos agora afastados de suas atividades usuais, por um tempo, pequeno porém doloroso.
Descobri naquela ligação a nossa complicação, o que tinha entre a gente era complicado. Em dezembro estávamos de volta, tinha recuperado o que perdi. Mas em dois meses e nesses dois meses vivi a maior prova de bipolaridade e vontade de todas.
Conhecemos a música "Eduardo e Mônica", vinda da banda Legião Urbana. Quando Renato Russo proferiu o verso "ela era de leão e ele tinha 16" eu senti, não porque foi quando eu me apaixonei, mas sim quando eu me perdi.
Foi só quando ele tinha 16 que o receio de perdê-lo, a ficha de não tê-lo caiu sobre mim. Ele era do mundo e eu fazia parte do mundo, ele no caso era meu mundo. Eu o queria e eu não o tinha. Eu sabia bem a gravidade de amar alguém sem resposta (clara resposta, deixo explícito), eu sabia disso, eu só não tinha entendido o final, pra mim estava longe, para mim iria chegar ao longe. Mas estava tão perto, foi só um namorico e durante o namorico eu pensei sobre a perda, mas também pensei sobre o amor.
Pensei ali sobre a vontade, a raiva, tudo aquilo sentido durante os anos juntos. Pensei e percebi a minha gratidão por ter ele na minha vida, percebi o quanto o amava, percebi o quanto o queria e percebi ainda mais o quanto não o teria.
Aquelas promessas de futuro não mais seriam concretizadas, ele teria a vida dele e eu a minha. Percebi os caminhos se afastando, percebi mais de uma vez, percebi quando ele tinha apenas 17 anos e eu "baixava a minha cabeça pra tudo, era assim que as coisas eram e era assim que eu via tudo acontecer" , foi gritando Camila, tanto a música quanto a minha amiga imaginária, foram nesses gritos o crescente medo de algum dia ser só uma memória.
Eu era grata por ser uma memória dele, estava grata por ter vivido com ele algo, algo complicado, algo sem rótulo. Portanto, mágico, diferente, dinâmico, éramos da mesma casa de Hogwarts, dois nerds espelhados também. Éramos iguais, pouco diferentes, éramos iguais e tão inconsequentes, pensávamos demais e fazíamos besteiras sabendo do final. Éramos iguais e "todo mundo diz que ele completa ela e vice-versa, que nem feijão com arroz" mas acredito que era mais do que isso. Não era complemento, era mais, era intensidade, era adição com fusão, com um toque de solução.
Éramos solúveis sem mudar a forma original, éramos contra a física e a química e devo dizer conta a astrologia também. Afinal, o leitor que me acompanha e também acompanha o horóscopo vai concordar aqui e se deixar mais confuso ainda, ela era de leão um signo de fogo e ele... ele era de um signo de água. Não iria dar certo, não era pra dar certo. Mas eram tão certos, tão bons, contra qualquer coisa e a própria coisa era o tipo de menina dele.
Éramos iguais e imãs mas tínhamos repelentes conosco. O signo, o tipo, as vezes a vontade e a distância, o tempo, acho que o sentimento também!
Passamos a morar distante, acho que complicações na minha vida me levaram a isso, estive por vários cantos e nesses vários cantos eu sempre voltava pra casa. Casa aquela perto dos braços dele, casa aquela que lembravam do abraço dele.
Analisemos o braço: bem trabalhado, brancos como papel, lisinhos, cheios de veias saltadas, malhados, firmes e eu diria que provenientes do melhor abraço em que já estive. Passaria horas ali, se viável, segurança eu tinha no menino dos braços fortes, menino que uma vez o cortou e a foto do sangue e da ferida ainda continuam no papel de parede das minhas notas, passaria horas alisando, mordendo (como já enchi aquele braço com a minha arcada dentária), apertando e tocando cada detalhe daqueles braços.
Quando eles me seguram, eu me sinto em casa, quando eles me apertam eu me sinto adorada, quando eles agem contra mim em qualquer situação eu me sinto viva. É, é isso. Foi quando eu me senti viva, quando eu senti algo foi por viver.
Tá, eu sinto muito, querido leitor, pulamos algumas temporadas, permita-me explicar. Tendo a ser muito reclusa, mesmo extrovertida e adorar sair eu não sou de sair muito, com ele eu tive uma ou outra saída, uma ou outra vivência. Apenas! O fato apresentado no parágrafo anterior foi: para uma pouca experiente, para um pouca vivente, eu estive viva. Eu senti!
Em muitos momentos meus eu estive apática, aceitando a maré, realmente abaixando a cabeça como dizia a música da banda Nenhum de Nós, eu definitivamente estava ancorada no cais esperando para velejar. Não só o barco da virtude e fãs de Gilmore Girls irão acompanhar a referência, mas também o barco da vida em si. Um barco de histórias, a marinha mercante, a marinha exploradora. A marinha!
Para uma "Maria batalhão" e amante do militarismo eu uso muito dos direitos marinheiros, sim?
Velejar! Sim, Eu amaria velejar, e velejaria com ele e seus braços habilidosos, talvez fortes o suficientes para assegurar um barco durante uma tempestade. Assim eu via a gente, em uma tempestade guiados pela vontade de velejar, pela vontade de estar ali naquele barco mas sem saber pra onde ir e como ir, só indo e aguentando a maré como for. Sem estarmos apáticos pois estávamos vivos. Ele me fazia querer viver mesmo na tempestade e isso para mim bastava!
Bastava estar em casa, já que seus braços brancos e cheios de veias me proporcionavam segurança. E ele tinha 16 quando eu senti a perda de casa, ele tinha 16 quando eu queria a segurança que só ele poderia passar!

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