6-É só saudade!

3 0 0
                                    

   Procurei tanto sentido, tantas respostas que dei-me por encontrar só gratidão. Só uma felicidade enorme de alguma vez ter Neônio para mim ou comigo, só um enorme conforto de algum dia ter deitado no colo dele.
  Tão confortável sim, tão adorável encostar a cabeça no peito dele e escutar seu batimento cardíaco, tão feliz sentindo o inflar de seus pulmões e tão delicioso era estar abraçada podendo traçar cada detalhe daquele colo, daquele peitoral, abdômen e ombros com o meu dedo.
Posso ficar satisfeita de já ter feito isso sem pedir por mais, mesmo não sendo do Neônio pelo resto da minha vida, eu já fui dele por algumas horas ou dias.
  Permito então baixar a guarda, parar a paranoia e os gritos, acalmar-me da raiva e da tempestade em copo d'água do último capítulo. Vejo então a significância existente na gente, pra mim foram mais do que só beijos e conversas, pra mim foi uma amizade verdadeira e complexa, profunda e íntima, mais do que o íntimo pode ser íntimo.
  Deixo de fora o futuro planejado que nunca será realizado, deixo para trás a vontade de posse. Enxergo somente a beleza em todos os momentos compartilhados, aqueles com briga, aqueles com risada, aqueles com arfadas, aqueles sem palavras. Só os momentos entre a gente, todos os pequenos momentos que só tinha a gente!
  Enxergo também o detalhes da nossa linda "fanfic": Nos conhecemos quando bebês, nos reencontramos como crianças, nos aproximamos como pré-adolescentes, brigamos como adolescentes, nos reconciliamos e foi aí quando nos provamos e experimentamos um ao outro, foi aí que seguimos até hoje, em meio à grandes distâncias, em meio à brigas e em meio à uma vontade surreal misturada com essa conexão inexplicável. Fora a parte mais detalhada da história, a parte cujo conhecimento é tirado deste livro em suas mãos, os detalhes mais aprofundados por assim dizer.
  Repenso minha vontade de ser dele como birra de criança e deixo de fora nossos signos serem incompatíveis e mesmo assim termos a maior facilidade de sermos próximos, vejamos, nunca forçamos, foi tão natural a forma que nos aproximamos, tão de repente, tão bom, tão certo e tão necessário.
   Esquece o signo, olhe a casa de hogwarts, é a mesma, olhe os gostos musicais e intelectuais, iguais também, uma ou outra nuance difere, mas em 90% somos iguais, mesmo temperamento, mesmo nível de ambição, mesmo pensamento político, mesma teimosia e mesmos gostos excêntricos.
   Tão iguais, tudo tão bom. Lembro do meu eu de 14 anos deitada no colo dele, balançando em um rede, olhando pro céu e dizendo "vai ser tão ruim quando isso acabar", pensando no fim daquele carinho, no fim daquela dinâmica, e eu tinha razão, seria tão ruim, mas meu eu atual também tem razão, foi e é tão bom. Não mudaria nada, só algumas coisas, mas na gente mesmo? Nada!
   Nele, no Neônio, nada. Perfeito ele não é, por isso o amo, por conta dos defeitos, por ter tantos defeitos, eu o amo pelos defeitos. Gostei de alguns meninos durante meus 16 anos, todos eles eu gostava platonicamente, gostava mais da ideia criada na minha cabeça do que do menino em si. Pegava a imagem e transformava em uma pessoa diferente, uma pessoa moldada para mim, sempre tive expectativas altas e desejava um menino dentro das minhas expectativas, por isso gostava tanto do platônico.
    Com o Neônio não foi assim, eu gostei por ele ser ele, não tenho outra imagem dele na minha cabeça se não a imagem dele. De qualquer seja o jeito dele, sempre ele! Eu passei a amar pelos defeitos, foi quando conheci cada vez mais, então eu amei, amei cada detalhe "ruim" sobre ele, detalhes que outros têm repulsa nele, já eu, eu amo esses detalhes. Eu vivo por esses detalhes.
   Neônio foi outra coincidência. Apelidos pela tabela são comuns comigo, logo eu me referia a ele com outro apelido, outro elemento. Mas então eu parei e raciocinei um pouco, as iniciais dele, como ele também possui nome composto assim como o meu, as iniciais dele também estavam na tabela, foi só então utilizar o próprio elemento dele, eu também tenho um elemento, o Berquélio, mas o dele tem outras coincidências por aí, não irei citar. Não aprecio falar disso ou expor isso. Vou apenas mencionar a existência de uma outra coincidência, vou apenas deixar em aberto.
  Incrédula eu sou, sim? Não tenho uma crença certa, não tem resposta para o que eu acredito,  sim? Portanto, não vou dizer que o universo me fez pra ele, e ele pra mim, mas posso dizer que se existe alguma força mitológica dessas,  essa força pecou em fazer parecer que somos pra ser, viu? Tenho amigas que falam isso, falam que somos pra ser ou que vamos descobrir isso ainda, se somos ou não. Eu no calor do momento concordo, mas não quero concordar por acreditar, concordo porque tenho a certeza de que se vamos ficar juntos, só vou saber em um outro tempo e não nesse.
   Prefiro esperar, deixo os outros sonharem, deixo imaginarem e idealizarem como antes gostava de fazer. Não com ele, com ele meus pensamentos envolvem reações que, acredito eu, seriam as deles na situação, reações essas que já vi acontecer, já ocorridas em situações passadas. Gosto de ter Neônio como o gás praticamente inerte que é, não tóxico porém capaz de asfixiar, precisando de 27,1K pra ebulir, sendo comercializado como criogênico e pouco presente na atmosfera todavia muito abundante no universo. Universo esse que seja minha vida ou meus pensamentos, ou minhas vontades e desejos.
   Prefiro entender os meus sentimentos como bons mesmo não tendo um resultado tão positivo assim quanto a isso, prefiro enxergar não como sofrência e sim como umas memórias muito boas e gostosas que podem não ter outras iguais em um futuro remotamente próximo.
   Nos atemos então as memórias! Capacidade neurológica de formar conexões entre suas células assim atuando em guardar certas informações como lugares, nomes, datas, cheiros, cores, sabores e etc. São essas ligações celulares que apresentam-se repentinamente em nossos cérebros e então sentimos uma saudade apertada da informação guardada, seja de uma pessoa ou de uma viagem. Não necessariamente são boas as informações vindas dos nervos, mas não necessariamente é algo a se descartar, há de vir uma lição, um aprendizado, uma boa vivência e um bom pretexto dessa "memória ruim", veja bem, mesmo tendo um péssimo fim, teve um bom começo ou um bom desenvolvimento talvez, depende, e na pior das circunstâncias termina sempre como um aprendizado ou uma mera vivência. Vivência que será guardada então como memória! Nos atemos as boas memórias, as que dão saudade, daquela viagem pro interior, com aquela cachoeira e aquele passeio de bicicleta, essas são as memórias gostosas de repassar não é? E aquela amizade? Não mais uma amizade porém importante na época da tal lembrança, e hoje serve como informação de um tempo muito bem passado e muito bem aproveitado. Seja como for, temos as memórias, as únicas capazes de trazer uma enorme vontade de impulsionar a viver ou impulsionar a se declarar, já que por essas memórias, teve saudade da viagem pra Angra dos Reis em 2016 ou por essas memórias que lembrei de uma não mais amiga e me deu vontade de me declarar as amizades atuais. Seja como for, temos as memórias, as únicas capazes de te proporcionar uma madrugada inteira de conversas cheias de risada e reflexões, uma madrugada inteira que um dia será uma memória boa e ruim ao mesmo tempo, boa por essa conversa extraordinária e repleta de memórias e ruim por outras desavenças com outras amizades. Seja como for, sempre teremos as memórias pra acolher sua dor, raiva ou amor, seja como for, sempre teremos como criar mais informações pra guardar nessa conexões celulares dos nervos!
   E talvez, só talvez, minha prosa de escárnio amoroso do último capítulo tenha sido só isso. Uma grande informação guardada nos meus nervos que se chocam tanto como boas quanto como dolorosas, então me atrevi a xingá-lo mais uma vez só que por saudade, saudade daquilo que um dia tive e aproveitei tão bem. Foi só saudade de rir com ele sobre uma piada interna, de fazer esquisitices com ele, de por uma bombinha dentro de um coco com ele, de ouvir ele tocar violão, de aproveitar o carnal com ele, de analisar um filme de terror com ele,  de morder ele aleatoriamente e de adormecer acariciando ele ou sendo acariciada por ele, foi só saudade dele!

Amor, café e outras drogas...Onde histórias criam vida. Descubra agora