18-Combustível de emoção!

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Neônio de toalha indo vestir uma blusa minha, me ajudando a escolher a roupa, se arrumando para me acompanhar em uma das patuscadas mais aleatória da minha vida. Desce copos e copos preparados bem forte, risadas, danças, conversas, o combustível social estava começando a energizar um comportamento um tanto estranho meu.
A quantidade não tem conta, a raiva tomou parte minha e eu nem consigo me lembrar porquê! Ontem a noite eu estive tão feliz e tão viva, mesmo assim arranjei problemas com aquele de lá, aquele de lá agora não mais meu, não daquele jeito. Banho para sobrear, desci as escadas e vim ter com ele a conversa que tanto evitei, ele não precisava saber minhas verdadeiras emoções e principalmente não com álcool e choro, brigas, xingamentos, uma discussão desnecessária e sinceramente nem sei qual foi sua origem.
Foi-me esclarecido a real versão dele dos fatos, os sentimentos dele, tenho então a história dele na "nossa" história. Entre todas aquelas coisas faladas, eu estive diante do reconhecimento dele comigo e nossa não me arrependo de ter ouvido mas me arrependo de como conduzi a situação, qual foi a minha real necessidade de expôr meus sentimentos para ele?
A princípio eu fui explicando como foi o desenrolar do amor desperto em mim, em qual momento eu cheguei a desejar mais do que só o lindo corpinho daquele de lá, fiz perguntas imbecis das quais respostas eu já tinha, embolei uma agressividade desnecessária e séria, marquei hematomas e concussões no meu corpo a troco de nada, deixei o clima desconfortável por qual motivo? Apenas para dizer entre choros e xingamentos o quanto eu o amava? E nem isso ele foi capaz de entender por tão mal expressiva que fui.
     Contei tudo muito mal e porcamente, acusei Neônio de mentiras deslavadas, arranquei de mim mesma um momento único na vida a base da dor e do desespero, fui dormir em estado de choque, desejando nunca ter feito nada daquelas coisas, desejando ter ficado quieta e apenas aproveitado as últimas horas da companhia dele.
      A nossa amizade permaneceu, no outro dia tínhamos um certo clima estranho mas estávamos normais um com o outro, era a mesma parceria de sempre, as mesmas implicâncias, ele me deu carne mal passada na boca, eu tirei o prato dele, ele ainda era sincero e aberto comigo, estávamos planejando coisas a fazer quando eu voltasse ali, as mesmas brincadeiras de sempre. Percebi a normalidade quando ele deu por si do meu descontrole, a causa era óbvia, não era vontade minha aquele escândalo, tinha interferência do C2H5OH, foi só durante essa percepção a mudança de humor dele comigo, a forma que ele estava me tratando durante o conflito, foi quando ele voltou a ser cuidadoso comigo mesmo que, agora vamos ao assunto delicado da noite, assunto no qual só caiu a ficha ontem para mim, aquela relação estranha da qual eu tirava tanta devoção para com ele, aquela relação explicada entre linhas no capítulo 4 tinha sido desmanchada, e foi só durante esse momento de compreensão no qual tive certeza da normalidade estabelecida.
      Veja bem, visualize tal cena: meu rosto inchado e vermelho de tanto choro, em estado de decepção comigo mesma e choque total pela situação, com Neônio em pé ao meu lado... urinando. Enquanto eu assistia, depois de ter brigado comigo horrores, depois de ter batido o pé e decretado o fim da nossa intimidade, ele estava ali aliviando uma parte biológica dele. Nesses por menores eu me enxerguei com a mesma intimidade de antes e agora pode ser a cena mais hilária de todas, mas no momento foi um alívio descomunal para a pequenina eu jogada naquele chão.
      Tanto foi meu medo de perdê-lo cedo demais que a causa quase foi uma ação própria minha, de tanto tive esse pesadelo que quase o fiz realidade. Foi um ato de sabotagem comigo mesma e após isso fiz-me prometer encerrar esse tipo de atividade até as festas de fim de ano pelo menos.
     Nem preciso deixar explícito à impossibilidade de tal acontecer, pois ao voltar para o tão odiado local no qual me encontro encontrei um povo mais divertido e adepto a me proporcionar a diversão na qual tanto quis para o meu ensino médio, estou finalmente me permitindo viver como eu queria. Seja em patuscadas ou estudando para valer, o tempinho longe da cidadezinha araruamense me fará repensar certas atitudes minhas e me fará mais livre para viver como uma adolescente de verdade. Estarei aproveitando as amizades e lugares capixabas ao máximo até estar liberada para voltar e aproveitar os cariocas e principalmente os meus amores cariocas, permitirei as risadas genuínas por aqui e por agora para em poucas semanas rir dos gestos esquisitos de Neônio, enfiar-me em lugares desconhecidos com meu melhor amigo desde 2011 e filosofar com aquele amigo cuja sabedoria sobre minha vida era maior que a minha própria, não mais, agora nós dois sabemos a verdade. Sim, eu aproveitarei o Espírito Santo o quanto eu puder até poder voltar a aproveitar o Rio De Janeiro!
      Sobre a verdade, sim eu descobri a verdade. Em meio aos choros e gritos, ele me contou as respostas daquelas questões tão bem apontadas neste livro, tudo que queria ouvir eu ouvi do pior jeito possível, não pelas palavras dele mas sim pela minha abordagem desnecessariamente escandalosa. Admito, ouvir aquilo era absolutamente tudo na qual precisava para manter conforto e aceitar de vez o amor sentido por ele sem pestanejar, sem sofrer e sem chorar, não sofro, relembro, não sofro só sentia vontade de saber a visão dele da nossa relação, agora eu conheço e agora eu posso aceitar a nossa importância mútua um pelo outro sem vontade de mais, não precisamos de um relacionamento fixo como o namoro, a nossa relação já era ou é (ainda estou meio em dúvida do clima estabelecido mesmo com aqueles sinais de normalidade, mesmo Neônio me deixando escolher as fotos no telefone dele que eu queria e escolhendo as fotos no meu telefone também, fotos de conteúdo decente se o leitor for da família) algo concreto e importante para ambos os lados, não só eu sentia amor, só tinha mais amor que ele, só desejava mais que ele.
     "Eu te amo, amo sua família, sua mãe, seu padrasto, suas irmãs, adoro seu tio mesmo ele sendo muito doidinho ele é gente boa e eu adoro seu tio ser assim, a energia de todos eles, sei lá eu amo aquilo, mas eu te amo não desse jeito, deixa eu falar (nessa hora eu estava interrompendo-o). Eu te amo mas sempre deixei bem claro que o temos é só isso e achei que você estivesse entendendo isso."
    Eu entendo, sempre entendi. Eu só não consegui explicar isso naquele dia, minhas palavras eram "eu te amo e foda-se que você fica com outras pessoas, você é jovem e tá tudo bem ser desse jeito que é", o que eu queria dizer era o quanto ele é importante para mim e o amor sentido não interfere na nossa relação me infiltrando de ciúmes ou vontade de posse, sim eu queria ter a posse, entretanto, já me fiz entender a impossibilidade de tal. Eu admiro a relação amiga e íntima existente entre a gente, a importância de um para o outro, sim eu sou importante para ele também, ele me disse não lembro exatamente as palavras, mas me disse o quanto eu era um pessoa marcante da vida dele assim como ele é para mim. O que temos é tão único e tão forte.
     Passo a acreditar agora, não vai mudar, mesmo com as brigas, poxa veja bem, já brigamos antes e para quem eu voltei? Para ele, no fim das contas eu sempre voltei para a nossa amizade e parecia voltar mais amiga ainda. Não vai acabar aqui, com essa tão pouca idade, ainda temos mais história para contar, ainda temos muita coisa para viver juntos, ele ainda vai me ver formar e eu vou estar lá quando for para assumir a tão sonhada profissão. Não, Neônio não vai sair da minha vida nem que ele queira, nem com todas as forças existentes naquele corpinho, ele vai ser meu "primo", amigo ou seja lá qual for a nossa nomenclatura até o fim da minha vida. Venham as desavenças, venham as piadas sobre o nosso casamento no dia 15/05/2027, ou sobre as nossas gêmeas, seja qual for a situação estranha Neônio ainda vai brigar muito comigo pelas minhas maluquices e eu ainda vou pegar muito no pé dele por certas atitudes, é isso o amor no final de tudo. Eu não vou desistir disso, não vou me afastar, darei o tempo necessário para digerir meu último episódio surtado, obviamente, todavia, estarei por perto e eu conheço ele, Neônio estará tão por perto ainda, se eu precisar ele aparece. Eu sei que aparece!
    Ah e quanto ao carnal, ainda teremos essa parte por enquanto, ele me prometeu e ele cumpre as promessas. E pensar na minha força de vontade para matar a saudade daquele corpo e como foi bom e também na minha ingenuidade de acreditar ficar por mais de uma semana sem pensar em ter de novo aquilo ou ter saudade, a realidade é outra, fui embora na quarta e hoje, segunda, já sinto saudade do olhar dele para as nossas cinturas movendo juntas, assim como já sinto saudades do som da voz dele falando as maiores besteiras possíveis, porém evito essas lembranças, as carnais até deixo, as sentimentais são mais complicadas, me fazem querer mais e mais, estar mais e mais por lá e como em uma frase dita por ele mesmo: "Ela já vem por pouco tempo e passa todo os dias enfurnada na casa de macho" referindo-se a minha estadia na casa dele pelos míseros 4 dias passados naquela cidade, eu pretendo passar minhas férias encontrando com meus outros amigos além de só matar saudade dele, já tivemos nosso momento, teremos outros, posso descansar daquele sorriso por um tempo, pouco pois a saudade é muito grande para acabar em 4 dias, foram gratificantes, em escala universal, em contrapartida foram tão rasos e rápidos, para cessar a vontade em mim teríamos de ter horas e horas conversando.
    Assim como na primeira noite, matamos a vontade carnal e ficamos fofocando até o dia clarear, contando histórias e falando de outros até minha mãe vir me tirar de lá, tivemos até uma segunda partida carnal, aproveitamos o que pudemos. Faltou ainda alguns assuntos, faltou falar de alguns, e só lá para bem tardinha podemos retomar o papo, ele tinha de estar na escola e depois ele ficou por aí na rua com amigos, aproveitando os últimos dias de ensino médio, não julgo. E foi bom, olhar para a janela e ver o Sol brilhando já ao alto do horizonte enquanto meu corpo encontrava-se por cima do dele recebendo carinho e ouvindo seus batimentos cardíacos. Na outra noite eu ouvi também, por pouco tempo, ele estava cansado por não ter dormido noite passada, despedi-me e fui dormir cedo também. Aproveitei o que pude mesmo tendo tão pouco, em algumas semanas terei mais, do carnal também, vai ficar tudo bem, vamos voltar ao normal, foi só um desabafo necessário, ele entende, ele sempre me entende mesmo não compreendendo. É da minha natureza ser emotiva e expressiva, é o meu complicado, ele entende e ele não vai desistir tão cedo também, mesmo não sendo mais a baby dele, não oficialmente, pois eu sempre serei, no fundo no fundo, a parte LG do DD dele!

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