13-Mais uma vez?

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     Encontro-me naquele estado novamente, o de delírio, o de perder seja lá qual for a filosofia do amor desenvolvida por mim mesma. Tremendo os dedos para não enviar um texto enorme cheio de juras, de saudades e de vontades, se escrevo o mínimo que for eu apago, não é de hoje as mensagens que recebo dele perguntando o que tinha na mensagem deletada que eu logo desconverso, foram diversos os episódios em mistura de ódio e amor para com o objeto deste livro e pior ainda, foram os episódios raivosos nos quais eu decretei nosso final feliz.
    Contextualizando um pouco temos eu mesma que escrevo isto com uma certeza gigantesca de que não queria casar, não me via casando, nada de ser esposa de alguém. Tanto era certeza que nunca me vi organizando um casório, nunca tive em mente quais flores gostaria, qual vestido, qual decoração, quais madrinhas, nada! Sou conhecida por planejar cada detalhe da minha vida, por não mudar a mente por coisas assim e por com certeza ter uma festa organizada na cabeça, e logo essa que eu jurava não querer era a qual não tinha ideia de como seria.
    Partimos então do momento no qual estive em  frente à um computador e ao lado da minha mãe, passando detalhes, calculando data, procurando locais, analisando paletas de cores e tudo em prol do meu "casamento" com Neônio. Visando perguntar as preferências dele para os detalhes sem dar a ele uma ideia do surto, tendo uma facilidade enorme de escolher algo até então muito distante de meus pensamentos, tudo porque é da minha vontade casar com ele, o único capaz de me fazer pensar em tal.
     Se estes fossem o único pesar dos meus surtos então estaríamos no lucro, o verdadeiro problema é visto quando meus gritos são ouvidos aos quatro ventos sobre a raiva sentida por esse menino e como dessa raiva eu iria casar com ele custe o que custar. Atemos aos gritos:
    "Ah mas que caralhos! Por que esse menino tem que ser tão gostoso, tão idiota, tão irritante e ah quer saber? Foda-se! Ele vai ser meu, eu vou casar com ele e não interessa que ele não me ame, que ele não me queira, ele vai ser meu marido, vou fazer dele o homem mais feliz do mundo, vou acordar mais cedo que ele e passar a roupa de trabalho dele, vou ser tipo uma criança mimada por ele e ele vai ficar pensando por quê ainda está comigo e aí vai lembrar. Ah é ele não tem escolha! Vou deixar ele escolher tudo, o local onde vamos morar, a cor das cortinas e o nome das crianças, até teremos um gatinho se ele quiser, mesmo eu não gostando de bichinhos. A única escolha que ele não terá é se pode ou não sair da minha vida, ele vai ser meu marido e pronto acabou!"
  Se não é isso, o grito é pior ainda, mais doloroso para mim, de vontade de nunca deixá-lo, nunca sair da vida dele, permanecer amiga dele até o último suspiro, mesmo sem provar seu gosto e me deliciar com seu corpo, só curtindo sua companhia e amizade, só observando-o jurar amor a outra, prometer cuidar dela nos piores momentos e satisfazê-la nos melhores. Esses gritos odiosos me fazem pensar em só estar por perto, sem participar, machucando profundamente cada pedaço meu que possui sentimentos por ele, já que estar por perto sem poder ser dele implica justamente em estar por perto quando outra é dele.
    Queria muito ser capaz de estar até o fim da vida dele, juntinho, observando-o prosperar e ser ele mesmo até o último suspiro, queria sim ser capaz de me manter firme e fixa por aqui. Todavia, é de conhecimento geral o desvio de caminhos, cada um algum dia vai se arranjar para um lado, deixando para trás a convivência e levando somente as lembranças. Queria estar presente quando o primeiro filho dele chegar ao mundo, porém a ideia de não ser de meu ventre a criança emudece meus olhos, aperta meu peito e enfraquece meus ossos. E mesmo assim eu gritei para ele mesmo entender, durante uma de nossas conversas naquela forma ódio/amor, o quão fixo eu queria estar na vida dele e um desses meus surtos dos quais me faço machucada consequente de minha própria mente.
    " Mas tudo bem vc me odiar sabe pq? Agora que eu sei que vc me odeia eu vou sair da sua vida nunca mais, planejava sair assim que cada um fosse para um canto viver a vida. Mas agora??? Agora vc vai se formar e eu vou estar lá, vai entrar pro (insira a futura profissão de Neônio) e vou estar lá, vai noivar e eu vou estar lá, sua despedida de solteiro? Adivinha quem vai estar lá? Eu mesma, bebada pacarai no pole dance das strippers que eu vou contratar gritando: " aha uhu amanhã o Neônio toma no cu".  Seus filhos vão me conhecer como titia Bruna esquizofrênica, Vc vai ter que ouvir: "papai papai a titia Bruna esquizofrênica tá falando sozinha de novo"; "Papai papai a tia Bruna esquizofrênica Ta dizendo que te deu o melhor presente de todos quando vc tinha 17 anos, o que foi o presente papai?"; "Papai papai a tia Bruna esquizofrênica Ta bebada e pedindo ajuda pra tomar banho"; "Papai papai a tia Bruna Ta dizendo que não é bulímica""
   Nessa mensagem eu o ouvi dar risada por uma piada interna nossa, por um momento nosso, li a mensagem de carinho para comigo, preocupação e zelo de um dia muito divertido que tivemos juntos, foi daí a frente minha maior vontade de estar com ele, mesmo voltando a mim e tornando consciência mais uma vez de que o que tivemos já foi muito bom e posso aceitar só e somente!
   Mas eu queria ser dele, queria ele para mim, para eu chamar de meu. Meu meu meu meu meu! Queria estar com plena ciência da posse para com ele, era pra ser meu, eu ainda acredito que seja pra ser, é pra ser!
    Pois bem, teremos então um casório. 15 de maio do ano de 2027 estaremos a postos de nos casar, seja então ele solteiro até esse ano, beije quantas puder, flerte e jure o quanto quiser, será meu no fim das contas. Terei então todos os dias para ser maluca e olhar profundamente nos olhos dele dizendo todos os elogios possíveis, serei eu admirando-o logo cedo antes do trabalho, ou cansado após o trabalho, ou irritado por alguma briga atiçada por mim, estaremos em acordo matrimonial realizando uma grande festa cheia de detalhes escolhidos por ele sem nem perceber. Serei, enfim, a mulher dele!
     Estimo ser meu marido não por capricho, ou por achar bonito os seus detalhes, ou por compreender os receios e devaneios como ninguém. Estimo ser meu marido porque não encaixa na minha mente a existência de alguém com mais amor, orgulho, admiração e raiva para exprimir em frente a ele, pois jamais entenderei a minha vulnerabilidade perante seus olhares, estimo ser meu marido porque eu não mudaria um simples nada naquele menino, eu o estimo para mim porque eu sempre quis  comê-lo com os olhos abertamente sem precisar disfarçar.
    A quem procure alguém para ter tanta vontade de morrer de amores por ele quando está se arrumando para sair, estaria para nascer alguém com maior admiração ao vê-lo trabalhar em algo, consertando, arrumando, seja qual for o trabalho braçal tão bem realizado por alguém tão jovem, estaria para nascer alguém para estar presente durante as gambiarras prontificadas por ele se fosse de meu ventre o portador do herdeiro dele, estaria para nascer alguém que o tratasse com tanta admiração se fosse para chamá-lo de papai e viesse de mim.
    Acredito sim na existência de uma linhagem vinda dele tão bem orgulhosa do pai que tem mesmo não sendo proveniente da minha linhagem. Acredito. Ao todo acaso, a visão mais apaixonante e paralisante seria uma criança com a minha aparência e a dele correndo para um abraço caloroso, essa visão seria de parar corações.
    Defino assim pois não conheço outra pessoa com mais vontade de mergulhar em todas as atitudes dele de cabeça. Mesmo nas brigas, mesmo nas babaquices, eu as tenho quase afogada. Mesmo passando a raiva que passo com toda ocorrência de maus modos dele, mesmo odiando certas ações dele, não diminui nem por um momento o sentimento, não são anulados tais atos, mas não são exaustivos.
     Está aí o que eu procurava. Exaustão! Eu não me canso dele por nada, não retenho amor por nada, eu analiso, peso os preceitos e nada. Não consigo ter preguiça dele, não consigo me desfazer. Cada ato ruim só  me faz mais a vontade de ter com ele uma prosinha, uma prosinha a base de diversas discussões a respeito dessa nuance. Não mudaria, mas implicaria, implicaria pois me preocupo assim como ele faz comigo, implicaria pois é importante e o importante eu tenho com ele.
   Em respeito de surtar, quero surtar com ele, para ele, agora mesmo! Quero mandar mensagem e dizer o quanto sinto a falta dele ao meu lado agora mesmo e como sentiria no futuro.
    Ah, caro leitor, perdoe-me mil vezes mas não enxergo outra mulher para amá-lo como eu amo, para ser tão devota e tão preocupada, tão arisca, tão semelhante e tão compreensiva. Não enxergo ninguém que acolha tanto ele nos problemas familiares, não vejo nenhuma outra mulher enxergando o que eu enxergo.
    Não adianta, não consigo. Não é fácil, o bem estar dele é um  tudo para mim e ter mais e mais com ele é por parte uma prioridade. Me enxergo jogando baralho até de madrugada com a minha família materna e ele, estando até altas horas em uma festa de rock ou qualquer festa dessas. Ter Neônio nas minhas reuniões familiares ou com amigos em uma patuscada qualquer, ter Neônio em meu colo durante uma leitura ou estar no colo de Neônio durante uma jogatina on-line, é de aprecio ter em diversas horas sejam importantes ou meramente rotineiras, é de estar com ele e ter ele, ter ele mais do que eu já tenho ou tive, é de aproveitar a presença alheia abertamente.
    Aproveitá-lo! Quando não fui disso? A todo tempo perto, cada segundo contava para ser bem aproveitado, bem passado e bem curtido. Tive aprecio por todos milésimos de segundo em questão, e seria assim caso as circunstâncias fossem outras também. A única diferença seria poder expressamente aproveitar tal, expressamente surtar com tanta beleza em atos tão rotineiros mesmo. Seria de poder admirar sem esconder minhas feições apaixonadas, admira-lo cozinhando, admiralo criando "gambiarras", admira-lo se arrumando, admira-lo jogando uma sinuca de bico qualquer, apenas ter o poder de em voz alta certifica-lo de tantos atos repletos de beleza, atos tão comuns, atos tão simples.
   Só tive em mente por muito tempo poder surtar diretamente para com ele. Mostrar-me completamente devota a ele já me foi feito, outrora tenha sido nas vezes errôneas para tal, mesmo dizendo a verdade não foi absorvido na real condição de sua natureza. De tal forma, não exprimi até hoje o fundo de significado dos detalhes de uma só pessoa com essa pessoa, sinto-me reclusa de fazer-lhe e então chegamos em mais e mais vezes desesperadas a ponto de escrever-lhe, jurar-lhe mais de mil juras e mesmo assim não ter coragem de entregar a mensagem.
   Faço-me assim então, saudosa e pesarosa, em enorme vontade de estar com ele e nessa vontade irei adiar até o pessoalmente. Caso sinta uma necessidade de contar, eu conto, não mais irei reprimir meus gritos amorosos perto dele, não se forem pessoalmente. Que mal pode causar? O afastamento? Me contento, desde que saiba, ele saberá, poderei estar em paz então, ele saberá!

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