1- Lembra como foi?

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   A princípio seria esperado uma lembrança se quer do reencontro, eu só não consigo, a memória dele é a pior de nós dois e ele lembra. As lembranças a partir desse dia são reconhecidas, aniversário de 1 ano da minha irmã, as vezes passadas na casa dele a noite, as vezes depois da minha aula em 2018, a primeira vez que dormi na casa dele. E mal podemos esquecer o dia no qual um pânico percorreu minhas veias, gelei e tremi só para responder se o menino na minha frente estava bonito daquele jeito.
  Respondi só 3 anos depois , minha resposta foi tremenda e exasperada. Bonito? Ele estava perfeito! Entretanto, quando não? Nada mais perfeito que o cabelo do indivíduo, macios, brilhosos, sem corte, com corte, longo, bagunçado, molhado... Ah o cabelo dele molhado, ai sim está a perfeição, seus fios encharcados e embolados, prontos para me tirar de qualquer seja minha normalidade. Foi sim meu primeiro pânico, eu tive sim uns piores depois, aprendi a disfarçar, aprendi a demonstrar só quando quisesse e para quem quisesse, ele aprendeu a ler meus elogios no ar.
  A partir daqui já está familiarizado com a nossa amizade? Amigos, sim, éramos amigos, muito amigos. Desfrutávamos da companhia um do outro da melhor maneira, com conversas extremamente viajadas e sem censura, não houve um tópico sequer difícil de conversar. Mesmo quando havia dúvidas, vergonha ou então o receio, éramos amigos e confortáveis um com o outro.
   Seria este o encanto? Eu senti amor por estar confortável? Muito óbvio, muito fácil. Mas não seria tão por aí, ao longo deste veremos o confortável comparado ao menor das minhas emoções. Íntimos? Éramos também, ficamos também, mais íntimos com o tempo. Não físicos, demora até chegar aí. Intimidade física foi adiada, adiada ao longo por medo meu, medo de ser levada, medo de estar apaixonada.
  Entramos então na principal base do meu amor. Veja bem: éramos amigos, confortáveis, perfeitos um para o outro por assim dizer, uma loucura com a outra, éramos até familia, ele fazia parte da minha vida demais, os pais dele eram pessoas maravilhosas demais na minha vida. Não podia acontecer, eu vou me apaixonar, me apegar, eu vou amar!
   Não quero amar, não posso amar, muito menos gostar, só posso querer. E querer não é poder! Eu tinha, mesmo tão criança, acordado comigo mesma que ele estava fora de cogitação, tanto quanto não conseguir, tanto quanto não me controlar, não mando nos sentimentos, sim? E se eu o amava? Por ora quem não ama familia?
   Amar é forte, eu diria carinho enorme. Nutria de um carinho amigo e familiar, entende-se como amor mas era afeição pura e inocente. Chega a ser irônico chamar assim, já que retia por entre as linhas a enorme vontade de agarra-lo e provar os belos lábios que esboçavam riso consequentes das minhas piadas. Onde já se viu rir das minhas piadinhas sem graça, que riso seria verdadeiro diante as minhas piadas? Esse menino só podia estar me desejando também.
  Não era mentira e nem segredo está parte, porém mesmo sem graça e sem pudor, pode ser que uma ou outra piada vinda dos meus pensamentos seja motivo de risada, ainda tornando verossímil a desconfiança. Já que só alguém com o mesmo humor poderia querer o outro alguém de mesmo humor. Nunca fui fã de opostos se atraindo, gosto de ser igual, talvez suplementar. Daí vem o encanto, do suplemento!
   Foi da negação, de esconder, da mentira de não querer. A vontade era sim de tê-lo, de conversar a todo momento por mensagem, mas o receio de ser uma completa boçal e de ser criança a ponto de me apegar, demonstrar fraqueza, fraqueza aquela seria o amor, o receio foi maior por minha parte. Grande medo assim me fez oferecer e rejeitar aquele cujo cabelo me estremecia.
   Briguei, briguei feio! Seria um erro dizer que brigamos, eu briguei, eu provoquei e fui atrás de uma boa e bela briga, nada demais, só o suficiente para nos afastarmos. Motivos, motivos são requeridos em uma briga. O da época: a babaquice dele, o real: ciúmes do que não era meu. Mas era, era meu, eu ofereci, eu fui quem apresentou os dois, eu te mostrei as belezas cuja pessoa referida tinha. Custava entender que aquele menino do cabelo cheiroso era meu?
Menti, enganei, fui péssima amiga para quem o apresentei. Apresentação essa eu jamais desejei fazer, ofereci brincando, sim, entretanto ele era pra ser meu! Menti, menti pra essa antiga amiga, menti pra mim, menti para, até então, um membro da família. Eu menti pra mim, mas a verdade é que eu não sei quando começou.
Então, enganei, trai. Me arrependo de ter agido assim, porém a bobagem era infantil, eu era criança, sou criança ainda enquanto escrevo. Me afastei dele, voltei atrás, mesmo afastada não houve um momento sequer cujo desejo maior fosse falar com ele. Mandei mensagem, mais vezes do que alguém com raiva geralmente mandaria. Eu fui atrás dele sim, eu só não sabia o porquê!
Tive notícias por um antigo amigo dele. Outra menina teria o prazer de acariciar-lhe os cabelos como se fossem dela. Enciumei, não entendi, mas enciumei por aquele cheiro de shampoo não fixar na minha mão, mas sim nas dela.
Foi então que tudo mudou, foi então que o namorico dele acabou, e eu estava presente novamente. Nos "reencontramos" novamente e dessa vez era pra valer. Foi então que me entreguei de vez e ele foi meu tão esperado beijo francês (termo meses depois utilizado por mim a fim de cantá-lo, deixe registrado).
Ele pode provar então de tudo em mim, fomos lentamente alcançando cada vez mais intimidade. Éramos amigos, éramos familia e acho que agora éramos "ficantes" ou paquera, só que intenso, muito intenso.
A censura e distância que não existia passou a ser uma fusão, não havia vergonha, não havia limites. Só havia conexão! E posso talvez dizer que aí começamos a nossa, ou minha e somente minha, jornada por entre o amor. Aqueles cabelos finalmente seriam meus, tocados, acariciados e segurados por mim!

Amor, café e outras drogas...Onde histórias criam vida. Descubra agora