16-Eu volto, eu prometo voltar!

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    E foi de vez a saudade apertada, dessa vez em coletivo. Uma madrugada inteira de uma vontade de estar junto, de saborear mais os gostos um do outro. Deixando-me a beira de um novo surto, foram horas implorando para que uma passagem fosse comprada e ele fosse me ver, foram áudios suplicando pela minha presença na casa dele e tudo porque ele provocou.
    Por quê? Diga-me o motivo! Cheguei de um passeio maravilhoso e exausta pronta pra dormir e passei as horas de descanso tendo fogo nas minhas veias, desejo de algo somente proporcionado por ele, terminei minha noite em promessas ardentes, lembranças de um gato falecido e comparações de Opala para amenizar a tal distância, prometi logo estar junto dele e ele prometeu tomar-me com a mesma dedicação de sempre e terminar o que começamos.
   Estava em paz, estive pacífica nos dias antes de tal e me pergunto os motivos que o levaram a me instigar. Eu poderia aguentar a saudade já antes existente, só saudade minha, até então a saudade era exclusivamente minha. Podia aguentar as mensagens dele com a minha mãe sobre as nossas filhas que ela quer tenhamos, poderia aguentar o pronunciamento dele diante ao dia no qual vamos oficializar, poderia aguentar todas essas baboseiras.
   É de piorar meu estado, é de me entorpecer nas palavras quando a fala é de saudade, tanto quanto eu sinto? Duvido muito, mas ainda assim é saudade de me ter entrelaçada nele e isso me fez carregar o peso das duas saudades, me fez ter vontade de correr até a pacata cidade da Região dos Lagos, entrar pela porta da cada dele, trancar-nos no quarto dele e me afogar na presença dele enquanto os personagens de história em quadrinhos permanecem na parede nos observando.
    Queria tanto... E para falar a verdade não saberia como me portar, como meu coração vai bater ao encontrar os olhos dele, como minha respiração vai funcionar ao sentir o cheiro dele, como meu corpo vai reagir com a reação dele. Meus impulsos seriam obviamente correr e me jogar naquele colo, todavia, existe essa parte em mim totalmente nervosa de paralisar geral, eu provavelmente ficaria paralisada admirando cada nuance de Neônio.
    E como o acaso é engraçado, um final de semana no Rio de Janeiro por motivos familiares e eu logo me vejo em um ônibus indo de encontro dele, não foi impulso meu por mais que pudesse ser com toda certeza, foi mais o acaso me levando para assistir ao especial de 20 anos de "Harry Potter", uma saga cujo legado é firmemente calculado em, por enquanto, duas gerações de fãs.
    Estarei com ele no cinema, sentido o cheiro dele, abraçarei Neônio pela primeira vez em muitos meses. Como respira? Como escreve? Estaria de estômago revirado se não estivesse tão cheia de churrasco. Estaria prestes a vomitar se não estivesse mantendo as aparências. Por Deus, como eu esperei por esse momento, nada idealizado, claro, sem trilha sonora e choros, sem correria e afobação mas com toda certeza terá sorrisos reprimidos e bobos. Farei as piadas e as implicâncias que tanto esperei para fazer e tratarei de exprimir minhas saudades o quanto eu sou permitida por fazer.
     "Assim, vem logo. Vem para (insira a cidade componente da Região dos Lagos) logo, por favor. Estou pedindo de coração, como uma pessoa que gosta muito de você, vem logo, namoral" foram essas as palavras proferidas a mim em nossas últimas conversas, ele atende e eu faço. Ele pediu e estou voltando, não por muito tempo, não a ponto de matar toda aquela saudade acumulada, mas ao menos teremos um gostinho, teremos algo. Teremos até mais capítulos pois renovarei as energias ao encontrá-lo, terei todo um misto de emoções para contar, terei todo um acaso para agradecer.
      E talvez, como já dito, seja só o acaso mesmo trabalhando com a gente. Nossa história não seja algo escrita propriamente como agora, talvez seja parte de umas coincidências muito bem trabalhadas funcionando não muito bem ao meu favor mas funcionando, e tendo no final de tudo o meu caminho de volta aos braços, aqueles braços tão bem esculpidos e trabalhados, mármore polido, veias saltadas, cicatriz desaparecendo e firmeza sob medida para o meu desejo. Ao todo sejamos fruto de uma grande coincidência e verdadeira inocência do universo.
    Universo? Agora eu trago uma crença? Não, definitivamente ainda incrédula mas acredito na natureza, na biologia e no tempo. Ao estar em São Paulo e comprar miçangas de um "hippie" cujo discurso sobre o tempo comoveu-me ao extremo, o discurso veio após minha compra de uma tornozeleira com inicial, a única restante, acredita se eu contar qual inicial era essa? Juro não inventar, tenho testemunha, a probabilidade agiu ao meu favor e foi muito bem acatada, tenho uma tornozeleira com a inicial de Neônio. Quer dizer, agora eu ando em alfabeto já que tenho uma tatuagem das minhas iniciais imitando um elenco de série muito querido, um anel de amizade com a inicial da minha lua, da minha alma gêmea e agora uma tornozeleira com a inicial do meu primeiro amor, como posso andar tão representativa assim não é?
   Estou em ponto de implodir, está chegando cada vez mais perto, estou capaz de suportar o baque de sentimentos? Não consigo responder, não consigo nem respirar, estamos atrasados para o evento e minha mãe está em ponto de briga, estamos todos ebulindo emoções nesse fim de domingo, em resposta a todos os reencontros realizados nessa última semana. Por Deus, como pode ser tão bom rever pessoas após muito tempo. Familiares de anos sem contato eu pude abraçar, pessoas importantes de anos também estiveram comigo e pessoas importantes de apenas meses me abraçaram também, agora pessoas importantes de meses também estarão me abraçando em alguns quilômetros, a cada curva do ônibus menos alguns metros percorridos.
     Essa rodovia Amaral Peixoto me deixa cheias de borboletas sempre que passo por aqui, chegando em Sampaio Correia e não consigo acreditar no que está próximo. Ele me pediu, ele disse que estava com saudade e eu estou indo. O que eu não faço por ele? Sou de signo de fogo, em mais específico sou uma leonina e leão é um signo muito leal, sou totalmente leal e prestativa a todos aqueles cujo amor me fez raiz. Como não poderia ser por ele? Estou a caminho, meu pedaço de estresse, estarei aí logo para poder te encher de soco e arranhão. Por Deus, como eu esperei por esse momento, me deem um bromoprida para esse enjoo pois ele finamente chegou em meu organismo...
      Eu... Eu abracei ele! Encontrei Neônio depois de meses, falei com ele, brinquei, impliquei, mordi, tem a marca da minha mordida nele. Senti o cheiro dele deitada em seu colo enquanto ele acariciava minhas costas, olhei nos olhos dele enquanto desfrutava dos melhores sabores do mundo. Como pude ficar tanto tempo sem essa bomba de gostosura sentimental? Como pude estar tanto tempo sem observá-lo?
     Rejeito a ideia de me abster da visão dele sem camisa com a calça um pouco abaixo da linha do quadril em alguns dias, rejeito a experiência de ter que me despedir mais uma vez, de prometer voltar logo mais uma vez. Rejeito toda a ideia de não ter a risada dele ecoando pela casa, rejeito totalmente seus olhos não brilharem pra mim ao acordar.
      Céus, eu voltei, estou aqui com ele, sentindo Neônio. Eu prometi, eu cumpri, eu faço tudo para esse menino, tudo para fazer meu menino feliz, tudo por esse sorriso bobo dele, até me deslocar da puta que me pariu só para estar com ele um pouco só que seja. Céus, eu voltarei quantas vezes for necessário, voltarei para sair com ele, admira-lo beber e observá-lo dançar e se divertir em um rock amador, voltarei para deixá-lo falar e falar sobre as dores e tudo que o estranhe. Voltarei por ele! Eu volto, eu prometo, por você eu volto quantas vezes for necessária, eu volto por ti e por sua família, eu volto pra sentir seu corpo e para você ouvir os sons consequentes dos seus atos em mim, voltarei, eu cumpro o que prometo sempre e será assim a cada promessa feita a você!

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