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«Ethan»

Eu tinha certeza que sentir o toque de Alex era inexplicável, e foi exatamente como eu imaginava.

Seus lábios carnudos, sua língua de encontro a minha transformando em uma sensação do calor junto ao frio. Alex é o meu vício, ela é a minha tempestade em copo d'água, meu toque seguro na escuridão, Alexandra é meu delírio de todas as formas. E acima de tudo, Alex é minha.

-- Espera. - Alex me afasta. -- Eu esqueci de dar comida pro Potis.

-- O que? - Começo a rir descontroladamente.

-- É sério, eu esqueci que faria hora extra hoje, então eu encontrei você, vim pra cá. - Ela se perde na fala e pega sua bolsa que deixei cair no chão. -- Eu tenho que ir. Até... Outro dia?

Alex quer me ver novamente!

-- C-Claro. Eu te ligo depois. - Falo meio sem jeito, ela me deixa vulnerável. -- Espera, eu tenho que te levar em casa.

-- Não se preocupa, eu chamo um táxi.

-- Vamos. - Ordeno sem que ela diga mais alguma palavra.

O caminho até sua casa foi um total silêncio desconfortável. Só podia se ouvir o rádio no volume mínimo e nossas respirações pesadas, estávamos nervosos.

-- Entregue.

-- Muito obrigada, Ethan. - No momento em que Alex pronuncia meu nome, sinto meu rosto ferver, obviamente as maçãs do meu rosto estão vermelhas feito uma pimenta. -- Ah, me desculpa, você não gosta que te chamem assim, descul.. - A corto.

-- Não, não tem problema. - Coloco minha mão sobre a sua. -- Não me incomodo de você me chamar de Ethan. - Dou ênfase no você.

-- Ok. - Percebo que Alex fica um pouco constrangida e então desce o olhar para nossas mãos juntas. Vendo que ela pede mentalmente para que eu a solte, faço.

-- Boa noite! - Ela se despede já fora do carro e entra em seu prédio.

Me certificando que ela está segura, dentro do seu apartamento, ligo o carro e sigo caminho.

Alex está confiando em mim.

...

Já é tarde da noite e estou voltando para casa. As ruas de Chicago estão um deserto, não se vê um ser humano nela, apenas as luzes refletindo nas janelas das casas.

Confesso que estou me sentindo feliz, realizado, e isso só pelo fato de Alex ter conhecido um pouco mais de mim. Talvez eu vire uma nova pessoa, uma pessoa normal, uma pessoa com sentimentos - por Alex, claro - e sim, faria tudo isso por ela, por nós.

Chegando nos portões da minha casa, reparo em um carro velho parado em frente eles. Odeio vizinhos que usam frente de portão das outras pessoas como vaga, e odeio ter que fingir simpatia com um simples "Olá! Você poderia me fazer a gentileza de tirar A PORRA DO SEU CARRO DO MEU PORTÃO?"

Impedido de entrar na minha própria casa, desço do meu carro e vou até o parado. Não tem ninguém dentro, e, ninguém por perto. Retorno e vou até o porta malas, abrindo-o, encontro minhas ferramentas diárias, tudo o que preciso agora são elas. Um pedaço de ferro pesado é a minha escolha, intitulado por mim mesmo como der Traumbrecher¹.

Com meu brinquedinho preferido em mãos, sigo diretamente para a lata brilhante do carro, meu primeiro alvo.

A primeira batida já foi o suficiente para foder com praticamente toda a lateral. É óbvio que eu não ia me contentar somente com isso, então, continuei destruindo-o até alguém aparecer.

Os vidros já estavam todos quebrados, o capô levantado, as duas portas dianteiras um pouco abertas e o alarme do carro era como um trompete no silêncio da rua.

Não demorou muito até o dono do veículo se aproximar. Seu desespero era nítido.

-- O que você fez com o meu carro? - O senhor diz com as mãos na cabeça, frustrado.

-- Pela sua idade, você deve ser bem cego para não enxergar que aqui é o portão da minha casa.

-- Pelo amor de deus! Eu parei aí porque era uma emergência. Minha esposa está grávida, entrando em trabalho de parto! - E o que eu tenho a ver com isso? -- Como vou levá-la para o hospital agora? Meu pneu está destruído! Meu carro todo está! E isso é culpa sua!

-- Não se preocupe, coroa. O carro já estava bem velho, depois você compra outro.

-- Você deve ser muito sem noção! Eu vou chamar a polícia. - O velhote pega o celular do bolso e disca o número.

-- Emergência, em que posso ajudar? - O som da ligação quebra nosso silêncio.

-- Boa noite! Um idiota destru... - Não o deixo completar, dando a primeira batida com o ferro em sua cabeça. Já foi o suficiente para derruba-lo, mas ele continua acordado, passa a mão pela sua nuca e tenta entender o que a fez sangrar daquele jeito.

-- Emergência, em que posso ajudar? - A mulher por trás da ligação não obtém resposta.

Continuo batendo no homem caído e já desacordado, até que sua cabeça esteja quase inteira pelo chão. Sua mulher, grávida, aparece saindo do portão da casa em frente. Ela logo coloca a mão na sua enorme barriga que carrega uma criança, geme de dor e sua feição soa desesperada, tanto pela criança, por ela, pela dor e por seu marido, caído a poucos metros dela, morto.

-- Se abrir o bico, você e seu filho são os próximos. - Ameaço apontando para eles, e então entro no carro que destruí.

Dou partida e o tiro da frente do meu portão, abrindo passagem para que eu possa entrar. Então é o que faço, abandono a mulher grávida e seu marido morto na rua e sigo em direção a minha garagem.

Já disse que quando me estresso, fumar é o meu calmante, certo? Como agora estou pra lá de estressado, vou até ao meu escritório e pego um cigarro da caixa e o acendo, me sentando na cadeira de couro preta, extremamente confortável. Deito minha cabeça para trás, encostando na pequena almofada que serve como um apoiador. Com o cigarro entre os dentes, giro para um lado e para o outro, olhando para um ponto cego do teto. Mil pensamentos correm pela minha mente, mas apenas um deles se destaca. Alex.

Será que devo ligar? Ou devo deixar ela descansar?

Alex parece ler meus pensamentos, pois em um segundo, meu celular começa a vibrar no meu bolso. O número de Alex aparece no visor e então o atendo.

-- Ethan?

-- Alex.

-- Eu não sabia se deveria te ligar, mas, fiz. - Eu também, Alex. Eu também.

-- Coincidência, estava pensando em você agora mesmo.

-- Sério? - Claro, acabei de matar um senhor que tirou minha alegria, e então logo pensei em você. Incrível, não acha?

-- Sim. Pensei em uma reserva que tinha feito no The Capital Grille, amanhã, para duas pessoas. O que acha?

-- Claro. Está marcado.

-- Ótimo. Te busco às nove.

-- Combinado. Até amanhã, Ethan.

-- Até amanhã, Alex.

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Significado de palavras usadas no capítulo:

1- der Traumbrecher.
O destruidor de sonhos, em alemão. Usado porque toda vez que Ethan toca naquele objeto, destrói tudo o que da de encontro com o mesmo. Günther não mata apenas pessoas que "merecem", e sim inocentes também. Mas em sua visão, todos os punidos pelas suas próprias mãos, são os nomeados imperdoáveis. Ethan elimina pecadores e ao mesmo tempo, destrói sonhos.

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