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«Alex»

Eu com certeza perdi a minha mente.

Ontem estava tão transtornada que culpei Ethan por algo que ele não tem nada a ver. Disse que não era normal ele me chamar para sair com apenas três ou quatro dias que nos conhecemos. Mas qual é o problema? Ele teria que esperar a vida inteira até você se decidir e perceber que a vida não é mais como quando você tinha 16 anos? Acorda, Alexandra!

Acho que estou tão quebrada que não aproveito as oportunidades que tenho, no caso com Ethan. Talvez sair com alguém pode me fazer esquecer de Rick. Não que eu vou usá-lo, mas digo esquecer as coisas que Rick fez comigo. Günther não parece o tipo de homem que machuca um inseto, muito menos alguém. Não passa pela minha cabeça a possibilidade de Ethan ser violento, abusivo. Então qual o seu medo, Alexandra?

Vamos cair na real, você não quer encarar seus problemas. Isso é normal, normal para um covarde, assim como eu. Com que cara vou chegar no hospital e dizer a Ethan que foi só um susto do momento? O mínimo que ele vai fazer é gritar pedindo ajuda. "Socorro, tem uma louca no meu quarto".

Talvez eu possa inventar outra desculpa, não tenho certeza se isso poderia funcionar. Na verdade, não tem desculpas para quando você dá um tiro em alguém, isso é fato. Ainda mais quando esse alguém é um cara interessante que quer algo com você. Ele vai me colocar em um hospício!

• / •

-- O horário de visitas já acabou. - A enfermeira diz sem ao menos olhar para mim. -- A não ser que você seja da família, tipo mãe dele.

Wow, eu devo estar bem ruim.

-- Sou namorada dele, serve? - Ofereço um pequeno sorriso.

Nem em situações como essa eu deixo de ser uma mentirosa. Mas é que as vezes não podemos simplesmente falar a verdade. "Olá, eu dei um tiro no paciente, mas me arrependi e agora estou aqui para pedir desculpas, será que eu posso entrar?". Viu? Não é simples assim.

-- Volte amanhã. - Ela aponta para a placa com o horário de visitas.

-- Pode deixar. - Uma voz familiar aparece no corredor. Ethan, se apoiando no suporte de soro que está conectado nas suas veias. Ele está fraco, isso está bem aparente. O que eu fiz com ele?

Você deu um tiro nele, idiota.

Eu sei, eu já entendi. Meu Deus! A minha mente não cala a boca!

-- Dê o crachá a ela. - Ethan aponta para a moça que agora não tira os olhos dele. Para quem estava tão ocupada com o celular, deve estar livre no momento.

Assim como Ethan pediu, parecendo mais uma ordem, ela me deu o crachá. Meu nome agora é Alexandre Martin Eigenberg. Errar o Eigenberg tudo bem, é um sobrenome difícil, mas Alexandra? Deus, eu sei que estou pagando pelos meus pecados, mas Alexandre? Sério?

Coloco meu crachá no pescoço e vou em direção a Ethan. A cada passo parece que piso em nuvens, minhas mãos já estão tremendo o bastante para não conseguir segurar um copo de água sem derrubá-lo.

-- Oi. - Aceno sem graça.

Ele apenas entra no quarto sem falar nada. Vou atrás e o acompanho com os olhos se sentar na cama com dificuldade.

-- Quer ajuda? - Chego perto mas recuo após ele gemer de dor.

-- Não. Vai que você quebra algum osso meu.

Não posso evitar rir do seu sarcasmo. Seu bom humor é duvidoso, mas continua me fazendo sentir cócegas na barriga.

-- Isso não tem graça.

-- Eu sei, é por isso mesmo que estou rindo. - Paro imediatamente quando ele não esboça nenhuma reação. -- Me desculpa, eu estou nervosa. Eu começo a rir quando fico nervosa, desculpa... Eu... Me desculpa.

-- Se não parar de pedir desculpas, não vou te perdoar.

-- Tá bom, eu vou parar. Descul... - Coloco a mão na boca e ele automaticamente começa a rir.

-- Poupa o seu tempo com o discurso meloso, eu te perdoo. - Simples assim?

-- Mas você nem escutou o que eu tenho pra dizer. Eu tenho uma explicação, prometo.

-- Não quero ouvir. Ainda vai sair comigo?

Eu que venho me desculpar e ele que se preocupa se ainda quero jantar com ele ou não?

-- Claro. - Vejo seu sorrisinho de canto iluminar seu rosto.

Borboletas, borboletas, borboletas.

-- Por sua culpa, vou ter que usar essa merda aqui por umas duas semanas. - Ele aponta, se referindo ao gesso. -- Eu tô fodido, nem vou poder abrir a porta para você.

-- Não precisa disso tudo. Dramático. - Dou uma risada gostosa.

-- Eu que levei o tiro, tá legal? - Sua expressão se suaviza e ele me acompanha com uma bela risada. Tudo nesse homem é perfeito, como pode? -- Te pego amanhã às nove.

-- Combinado. Amanhã às nove. - Sorrio sem mostrar os dentes.

-- Na verdade, tem outra coisa. - Levanto as sobrancelhas, pedindo para que ele continue. -- Só te perdoo se me der um beijo.

-- Engraçadinho. - Me aproximo de Ethan e selo nossos lábios rapidamente.

-- Um beijo, senhorita Eigenberg. - Reclama.

Reviro os olhos e o beijo. Talvez eu não queira sair daqui, esse é exatamente o lugar onde quero estar.

 Talvez eu não queira sair daqui, esse é exatamente o lugar onde quero estar

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-- Assim tá bom?

-- Acho que preciso de outro. - Faz uma cara triste.

-- Eu também.

Depois da maratona de beijos, igual aqueles típicos romances de adolescentes, me despeço e saio do quarto.

Passo pela recepção e devolvo meu crachá, que teoricamente não pertence a mim, já que me chamo Alexandra e não Alexandre.

Vou em direção a rua para pegar um táxi, mas esbarro em alguém.

-- Me desculpa... - Me corto quando levanto o pescoço para olhar em quem esbarrei. -- Mark?

Jardim de CicatrizesOnde histórias criam vida. Descubra agora