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«Ethan»

Vamos, Alex. Atende.

Eu espero que esse seja seu novo apartamento, não aguento mais escutar reclamações de velhinhas porque eu atrapalhei a novela delas. Nunca erraram a porta de um apartamento não?

Eu praticamente visitei todos os prédios de Chicago atrás de Alex. Mas estou confiante de que achei o certo, só falta saber em qual dos 20 andares ela mora.

-- Já vai.

Por favor, que seja você.

A porta se abre poucos centímetros e apenas de ver o cabelo de uma mulher, sei que é ela. Minha Alex.

-- Mas que porr...

Sem pensar duas vezes, entro no apartamento e tampo sua boca. Não, eu não vou sequestrar ela.

Ela bate no meu braço tentando sair e apenas sinto cócegas.

-- Fica quieta, você vai me ouvir, tá legal?

A levo até uma cadeira que vejo na sala e procuro por algo que eu possa prendê-la alí.

Que merda, as pessoas deveriam ter uma corda ou uma fita em casa, de preferência em um lugar fácil. Nunca se sabe quando você vai precisar amarrar alguém, isso é questão de sobrevivência.

A única opção que tenho é "ameaça-la" com a arma que carrego comigo para qualquer canto. Ela não está engatilhada, mas Alex não precisa saber disso.

Pego a arma em minhas mãos e aponto para ela, soltando minha mão de sua boca.

-- Não grita, eu não vou te machucar.

Não queria ver Alex chorando, mas as lágrimas caem praticamente secas em seu rosto.

-- Olha, eu preciso que você escute meu lado da história, ok? Você já deve saber de tudo, mas não de como realmente aconteceu. - Começo com o coração batendo tão forte que parece que vai sair pela minha boca.

Em nenhum momento abaixo a arma, e Alexandra parece entender que "está em perigo", pois não mexe um músculo. Ainda bem.

-- Bom, pra começar, sua mãe. - Seus olhos me fuzilam marejados, suas bochechas estão vermelhas. -- Foi um acidente. Não era pra ela ter morrido, Alex. Eu juro.

O desespero cobre meu rosto.

-- Ela estava apenas no lugar errado e na hora errada. Foi um acidente, foi um acidente... - Minha garganta fecha e praticamente não consigo falar, não consigo parar de chorar. -- Eu conheci seu irmão, eu precisei de um serviço dele e... Merda. Não era pra ninguém saber daquilo, mas a gente ainda era dois garotos idiotas, a gente fazia as coisas no porão da sua casa.

-- O que vocês faziam lá? - Sua voz fica baixa por conta do choro.

-- Tinha um garoto que falava merda da minha família, ele me encheu por três anos. Três anos! Teve uma vez que ele começou a mexer com o meu irmão, e eu não aguentei. Chamei seu irmão para dar um trato nele, em uma noite combinamos de ficar até tarde jogando videogame, chamamos esse garoto, mas não íamos jogar. Eu estava muito furioso, não aguentava ver ele falando merda do meu irmão. E então a gente prendeu ele no porão, batemos nele até ele apagar. A gente não queria matar ele, só dar um susto, mas acho que eu não me controlei e ele acabou morrendo. Ele sangrou até secar. Mas... A sua mãe deve ter escutado o barulho que a gente fez, ela pensou que tinha acontecido algo, e realmente aconteceu. Ela foi ver se a gente tava bem e... Ela viu o menino caído no chão, morto. Nossas mãos estavam sujas de sangue, a roupa do Mark era branca e tinha ficado totalmente vermelha. Ele se desesperou, ninguém podia saber o que a gente tinha feito. Então...

-- Então o que, Ethan? - Alex grita.

-- Ele pediu pra eu fazer alguma coisa. E a segunda pessoa que eu matei na minha vida, eu tinha 17 anos. E foi sua mãe. Eu tive que matá-la do único jeito que eu tinha me acostumado. E naquela noite demos fim em dois corpos, dois corpos desfigurados. Eu sinto muito, Alex. Me desculpa. - Me ajoelho na sua frente e olho em seus olhos. -- Me perdoa, por favor.

Alexandra está com a boca um pouco aberta e as lágrimas caem pelo seu rosto enquanto me olha.

-- Você... - Seu olhar alterna de um lado para o outro, procurando palavras. -- Você e o Mark...

-- Olha, eu sei que isso foi errado, mas foi um acidente. - Pego seu rosto com as duas mãos delicadamente. -- Me desculpa.

-- E o Rick? - Alex quase não consegue pronunciar seu nome

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-- E o Rick? - Alex quase não consegue pronunciar seu nome. -- E, será que você pode abaixar essa arma? Eu também sei usá-las, eu sei que ela não está engatilhada, Ethan. Você não vai atirar em mim nem se eu fosse pra cima de você.

Tem razão, eu não conseguiria.

Abaixo a arma e procuro um jeito de contar como matei aquele idiota sem ferir seus sentimentos.

-- Ele foi um caso complicado.

Conto toda a história e Alex escuta tudo atenciosamente. Mas um fato me chama atenção, ela não derramou uma lágrima sequer quando falei de Webster. Ela apenas sentiu... Indiferença.

-- E então eu deixei ele lá sozinho, queimando. Eu fui embora por uma saída.

-- Espera. - Assinto para que ela continue. -- Você disse que só estava você e ele?

-- Praticamente sim, na verdade antes de eu chegar ele estava transando com uma mulher lá. Te traindo. - Tento deixar claro, caso ela não entenda. -- Mas depois ela foi embora, e aí ficou só nós dois.

-- Mas...

-- O que?

-- Puta merda, Ethan.

Jardim de CicatrizesOnde histórias criam vida. Descubra agora