Jardim de Cicatrizes

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«Ethan»

Já fazem duas semanas que não tenho notícias de Alex. Ela não me ligou, não atende minhas ligações e parece que nunca está em casa quando eu passo para vê-la. Naquela noite no hospital, tinha algo estranho acontecendo. Ela saiu correndo como se não suportasse ficar do meu lado. Não acho que tudo isso seja apenas porque engoliu poucas e boas do seu irmão, eu sei que ela o amava mais que tudo, mas também sei que ela não se abalaria desse jeito por tão pouco - em minha visão -, então sei que tem algo bem errado.

Voltei a minha vida de segurança e guarda de Alex. Por um momento eu tinha esquecido que um dia já fiz isso, mas agora minha rotina continua sendo persegui-la do trabalho até a sua casa. Na verdade seria minha rotina, se ela não desaparecesse depois do momento em que coloca os pés dentro daquele distrito.

No começo, ela apenas me ignorava, mas eu ainda sabia que ela estava "bem", eu sabia que ela estava dentro de casa exatamente 23:00, quando saía do seu turno, sabia que ela só ia do trabalho até seu apartamento, e essa era a vida de Alex. Mas desde as últimas duas semanas, não a vejo voltando para casa, apenas indo para o trabalho e só. Onde Alex vai quando sai de lá?

A única forma de descobrir é entrar em sua casa e saber por onde Alex andou nesses últimos dias.

• / •

O batente de sua porta está coberto de cartas, parece que ela não volta aqui a dias. Pego um pé de cabra e abro a força a porta. Quando ela abre, me dá a visão de um ambiente cheio de móveis cobertos por um lençol branco e empoeirados.

Alex... Se mudou?

Subo as escadas rapidamente em direção ao quarto, esperando que ela ou aquele cachorro pidão esteja lá. Mas assim que chego, sua cama nem está mais lá. A única coisa que encontro no ambiente vazio é uma caixa com um bilhete em cima. Vou até ela e pego o bilhete em minha mão.

Ethan Günther, ou devo dizer Jay Harper? Já que nem um dos dois existem, não é mesmo? Eu deveria saber que tinha algo de errado com você, você me seguia, você sabia tudo da minha vida, você conhece o meu irmão e... Porra, você é um filho da puta. Você é fudido mentalmente. Eu descobri as coisas que você fez, e faz. Eu pensei que você só era diferente o suficiente dos outros caras que eu já conheci... Mas não, você é igualzinho a eles. Me desculpa, mas eu não posso viver isso de novo.

E por favor, para de deixar seu carro estacionado na vaga atrás de um carro prata com um pequeno arranhão na porta do lado direito, aquela vaga é do meu chefe e ele já está me enchendo o saco sobre alguém pegar a vaga dele.
Me deixa em paz, tá bom?

Alexandra Eigenberg

Não, não, não. Alex não pode me deixar sem dar nenhuma explicação. Que coisas? O que eu fiz? O que Mark tem a ver com iss.... Merda.

Ela deve ter descoberto sobre o Rick. Puta que pariu.

Pego o celular e começo a discar seu número.

-- Acredito que já tenha lido o bilhete, não é?

-- Alex por favor, deixa eu...

-- Você parecia ser bem inteligente, mas na verdade você é bem burro. Começando pelo fato de que eu disse "me deixa em paz" e no mesmo momento você me liga. Segundo, você me levou pra dentro da sua casa, você deixou aquela merda daquela pasta na minha frente, Ethan! Você pensou que eu ia fazer o que? Dizer "olha que legal, você tem acesso ao caso da minha mãe, interessante". Por Deus, Ethan! Você é melhor que isso.

Eu gostaria de ter prestado bastante atenção quando ela disse "minha mãe", talvez eu tivesse pensado antes de entregar mais uma bomba em suas mãos.

-- Por favor, me desculpa. Eu não pensei que você iria sentir tanto depois de tudo que ele fez pra você.

-- De que merda você tá falando?

-- Qual é, todo mundo sabia que ele te batia, você não podia nem sair com seu próprio irmão, você vivia enfurnada dentro daquela casa, ele te controlava Alex. Ele quase te matou, você deveria sentir um pouquinho de compaixão, eu te fiz um favor. Fui eu que aliviei a barra pra você, tá legal? Se não fosse por mim, ele não estaria morto e consequentemente ainda estaria te machucando.

Eu acho que odeio a parte de mim que sempre quer se sobressair. Eu sempre tenho que estar no comando, eu sempre tenho que estar certo, ninguém pode levar um pouco de crédito e... Eu sempre tenho uma desculpa. Se eu coloco alguma coisa na minha cabeça, esse meu lado faz ser difícil esquecer. Eu pensei que isso tudo fosse por causa do Rick, mas ela me disse que era sobre Belinda, sua mãe. E agora se ela já estava magoada comigo... Vai querer me ver morto.

-- Meu Deus... Você não tá falando que.... Puta merda Ethan. Ai meu... - Alex desliga a chamada e a única coisa que escutei foi suas frases inacabadas guiadas de seu choro.

Merda, Ethan. Merda.

Decido abrir a caixa e encontro uma pasta. Nela tem documentos sobre Belinda. Tudo que eu já tinha visto estava lá, exceto por fotos de Alex e sua mãe. Fotos da família onde Belinda estava e depois uma de Alex logo quando sua mãe morreu. Nas fotos anteriores, Alexandra tinha um sorriso lindo no rosto, sempre quando estava ao lado de sua mãe ela parecia ser a pessoa mais feliz do mundo. Sorrio enquanto passo as fotos de uma mão para outra, analisando cada uma. Algumas lágrimas caem do meu rosto enquanto olho para Alex. Acho que nunca vi esse sorriso em seu rosto. E de pensar que eu queria ser o que o colocava ali.

Quando passo para a última foto, vejo que Alex parece nunca ter sorriso em sua vida, seus olhos não tinham mais foco e sua vida parecia... Acabada. Quando olho no canto inferior da foto, vejo uma data, a data de quando aquela foto foi tirada. Um dia depois de eu ter matado sua mãe.

As lágrimas decidem cair mais rápido e em mais quantidade. Meus olhos ardem, me fazendo fechá-los. Estou chorando por me sentir culpado, culpado por fazer isso com ela.

Viro a foto e vejo que tem algo escrito no verso.

"Você destruiu minha vida, Günther. :)"