Jardim de Cicatrizes

19

«Alex»

-- Esquece a parte em que eu disse que ela era sua namorada.

-- Você poderia ter atropelado.

-- Calma, vocês se conhecem? - Adam aponta para mim e depois para Ethan.

-- Não.

-- Sim.

Respondemos ao mesmo tempo e confundimos mais ainda Ruzek.

Ethan me olha e abre a boca para começar a falar algo, mas levanto a mão, o cortando.

-- Adam, vamos. - Me viro para entrar no carro.

-- Alex, espera. Eu preciso falar com você.

-- Eu tenho que trabalhar, Günther.

-- Por favor. - Faz uma força enorme para que sua voz saia, ele parecia estar implorando.

-- Olha, está frio, eu tenho que trabalhar e se você não percebeu, a gente parou o trânsito. - Todos olham em volta, estávamos no meio da rua. -- Então, tchau Ethan.

Dou as costas e não volto atrás na minha decisão, não quero nem ao menos olhar para Ethan. E merda... Dói.

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-- Alexandra Eigenberg, lembrou que tem um trabalho? - Voight sai da sua sala assim que me vê subindo as escadas.

Uma coisa que aprendi trabalhando com Voight é que se ele estiver estressado com você, apenas "ignore" e faça o seu trabalho. Então foi isso que fiz, me sentei na minha mesa e comecei a fazer o serviço, que vamos combinar... Eu já tinha feito ele.

Depois de um tempo olhando fotos de suspeitos que eu sabia que não tinham nada a ver com o caso, me veio a brilhante ideia de ver a autópsia de Rick.

Eu super me ajudo.

"Rick Dean Webster"
"Em meio a aproximadamente 30 corpos, Rick Webster era um deles"

Estar morrendo deve ser a pior sensação do mundo, não contando com o fato de que o seu momento antes da morte na maioria das vezes deve ser incrível, por isso sabemos que alguém está morto quando suas pupilas ficam totalmente dilatadas. Mas isso é relativamente estranho, como morrer pode ser algo bom? A angústia que você sente em não ter certeza se aquele são seus últimos minutos ou você vai poder voltar pra casa e contar a história para seus futuros filhos. Você pode ter sido a pior pessoa do mundo, pode ter tirado a vida de muitas pessoas, mas eu ainda não acho que você deveria pagar com a morte.

Vejamos bem, se você acusa alguém de ter matado uma pessoa, você diz que aquilo é errado, é extremamente repugnante, que ela é uma espécie de Ted Bundy. Então você diz que ela merece morrer pelas suas atitudes, e com a raiva ou dor que você sente, talvez isso faça sentido na sua cabeça. Mas você está fazendo a mesma coisa que ela quando assassinou uma pessoa inocente. A única diferença é que, óbvio que a "vítima" que estamos falando não é inocente e você não literalmente agiu a favor das suas vontades.

Sentir a obrigação de abominar o ódio e despejar ele contra o motivo que o faz crescer, é a mesma coisa que esperar que o óleo se misture com a água.

Rick fez muitas coisas erradas no decorrer da sua vida, muitas. Mas o meu emprego mostra que existe justiça sim para quem comete erros, e essa justiça não é a pena de morte.

Talvez você pense que eu sou idiota ou gosto de me comparar com o Pennywise, mas eu não aceito o fato de que Rick mereceu a morte que teve.

-- Alex. - Ignoro a tela do computador e levanto minha cabeça, encontrando Voight apoiado na minha mesa. -- Já acabou seu turno.

-- Me desculpa, eu não prestei atenção no horário. - Me levanto e pego minha jaqueta que estava na cadeira, tento evitar contato visual e quero o máximo sair daqui.

-- Espera. - Hank coloca a mão na frente, empatando meu caminho.

Droga.

-- Você não está escondendo nada de mim, está?

-- Não. - Me apresso em responder. -- Porque eu estaria?

Voight apenas acena com a cabeça para a tela do computador, nela está aberto a ficha de alguém chamado "Ethan Günther". Será que eu conheço?

-- Você conhece esse cara?

-- Não.

-- Alex.

-- Não conheço.

-- Então porque ele te mandou ir até a casa dele no dia do assassinato na North Ave?

Puta merda.

-- Como você... - Ele levanta seu celular, me calando. -- Ele me ligou.

Falei praticamente sussurrando, ligando os fatos na minha mente e pensando alto demais.

-- Nem pense em argumentar contra sobre eu ter pregado a chamada. Esse não é o ponto agora.

-- E o que você quer com isso? - Eu estou... Brava?

-- Simples. O que você sabe desse cara que eu deveria saber também?

Tudo.

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