Capítulo 9

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Any saiu rapidamente do escritório deixando para trás a fragrância de seu perfume.

Ainda sentando no sofá de couro, fechei meus olhos e inspirei profundamente o ar puxando os leves vestígios daquele cheiro adocicado. Quando me aproximei dela pude sentir o quão delicioso seu perfume era e só eu sei o quanto me controlei para não chegar ainda mais perto de seu corpo. É irônico pensar que ela usa um perfume tão doce quando claramente está longe de ser um. Any é uma mulher corajosa, sedutora, tem uma presença marcante, a fragrância doce não parece combinar muito com ela, mas sim algo mais forte e penetrante, algo eu diria inesquecível.

Alguém bate na porta do escritório causando em mim uma inquietação para saber quem estava querendo me incomodar a essas horas. Permaneci sentado em meu sofá de couro enquanto bebia mais um gole do Whisky, mais uma batida foi ouvida e eu então Repondi.

-Entre.- a porta se abriu, apenas pelo modo de andar eu já sabia que Noah estava ali.

-Preciso conversar com você!- eu brincava com o copo de vidro em minha mão enquanto observava o líquido de cor caramelo se mover de um lado para o outro.

-Espero que não tenha vindo aqui com a intenção de me encher com sermões tediosos.- debochei, Noah tinha esse costume irritante.

-Eu vim me desculpar.- Levantei a cabeça e olhei diretamente em seus olhos, eu estava surpreso com sua fala.

-E por qual motivo veio se desculpar?- Questionei me levantando do sofá e caminhando até a janela, olhei para o céu e só então notei como a lua está deslumbrante hoje.

-Naquela noite quando você me chamou para conversar em seu escritório, eu disse coisas que não deveria, coisas que foram um gatilho para você, me desculpe.- As coisas que ele me disse naquela noite não chegam nem perto das que eu digo para mim mesmo em pensamento. Eu sou todo ferrado.

-Não precisa se preocupar com isso.- tentei amenizar sua culpa.

-Eu me preocupo com você Josh! A última vez que você pegou o carro e sumiu, ficamos sem notícias suas por dois meses.- Me lembro bem desse acontecimento mesmo que não queira, são sempre as piores lembranças que temos mais facilidade para recordar.

-Dessa vez eu voltei mais cedo, deveria estar feliz.- Ironizei tentando esconder a dor e o frio que sinto por dentro.

-Onde você estava? Em algum bordel? Usando drogas?- Por mais que eu quisesse me sentir ofendido com suas palavras eu não conseguia, eu já dei motivos para ele se preocupar comigo nesse nível tão extremo.

-Eu fui visitá-las.- Respondi diretamente, eu nem precisava olhar pra ele pois sabia o que estaria estampado em seu rosto, pena.- Depois fui ver Ursula.-Completei.

-Conversou com ela?- Pude perceber a esperança em sua voz.

-Não, apenas a observei de longe.- Noah suspirou pesadamente e eu já sabia o que se passava em sua mente.

-Você dev...-Interrompi rapidamente.

-Você disse que veio aqui pra se desculpar e não para dar sermões tediosos, caso tenha terminado de falar o que queria pode se retirar.- Falei de modo rude.

Eu não queria prolongar mais aquela conversa, falar sobre mim ou sobre as coisas que penso e faço me incomodam muito pois sempre me fazem lembrar da dor que eu carrego dentro de mim, me fazem lembrar do lado sombrio que me atormenta e esse é um fardo que só eu tenho que carregar. Mesmo que eu considere Noah um amigo próximo, ele me respeita como seu chefe e não irá se intrometer em assuntos que prefiro guardar para mim ou resolver sozinho.

-Tá!- Ele não iria insistir porque já sabia que era inútil.- Boa noite.- desejou e eu apenas assenti. Noah saiu do escritório e eu decidi ir para o meu quarto.

Levei a borda do copo até os lábios e tomei o restante da bebida amarga. Eu nem sei porque insisto em me embebedar, ao longo dos anos meu corpo se tornou praticamente imune ao efeito do álcool, ou seja beber se tornou um costume porque não vejo mais efeito nenhum em mim.

Subi as escadas sentindo o corpo pesado e a cabeça latejando, já estou prevendo a péssima noite de sono que terei, acho que vou tomar algum remédio pra poder descansar. Eu preciso dormir, pelo menos essa noite. Não aguento mais ser atormentado por meus pesadelos.

Enquanto caminhava pelo corredor seguindo em direção ao meu quarto notei que a porta do quarto de Any estava entreaberta e aquilo me chamou atenção, ela sempre tranca a porta antes de dormir. Andei até a porta e a empurrei lentamente, o quarto já estava escuro e silencioso. Não me importei com o fato de estar invadindo sua privacidade, a casa era minha e eu tinha direito de entrar em qual cômodo eu quisesse. Me aproximei de sua cama e notei que Any estava dormindo, seu corpo escondido embaixo da coberta e os cabelos espalhados sobre o travesseiro. Me impressionava o fato de ela estar dormindo tão profundamente. Senti inveja de seu sono e tranquilidade.

Um barulhinho vindo do berço me chamou atenção, andei até lá e encontrei Hope com os olhos bem abertos, ela estava distraída brincando com seus dedinhos mas quando me viu ela sorriu.

Ela sorriu.

Algo se moveu dentro de mim, algo que eu não sabia como explicar ou descrever mas era uma sensação muito boa e eu queria senti-la mais vezes.

Eu estava tão atento em seus olhos azuis que perdi o controle de minhas mãos, quando voltei a razão eu já estava com ela em meus braços, Hope pareceu gostar muito do meu colo e não chorou ou reclamou ela apenas se encaixou perfeitamente em meus braços e ficou olhando pra mim.

-Está na hora de dormir pequena...-Sussurrei para ela e beijei sua testa suavemente sentindo aquele cheirinho bom de bebê. Bem lentamente eu a ninava para que voltasse a dormir.- You are my sunshine, my only sunshine, you make me Happy when skies are gray, you never Know dear how much I love you, please don't take my sunshine away....- Hope ficou me olhando como se entendesse cada palavra da canção que eu havia sussurado pra ela. Meus olhos estavam embaçados por conta das lágrimas, eu não sei porque cantei essa música, já fazia tempo que eu não recordava a letra.

Eu não a soltei até que adormecesse em meus braços, quando seus olhinhos se fecharam eu fiquei olhando pra ela, para aquele ser tão puro e perfeito tentando criar coragem para colocá-la no berço, quando o fiz sai logo do quarto para que Any não acordasse e me encontrasse lá.

Andei apressado até meu quarto, assim que entrei eu tranquei a porta e comecei a tirar minhas roupas ficando apenas de cueca boxer, me joguei sobre a cama de lençóis de seda preto e fechei meus olhos.

Naquela noite eu não precisei tomar remédio algum, pois em minha mente estava gravada a imagem dos olhos de Hope, eles me transmitiam uma paz inexplicável e isso me fez dormir rapidamente e profundamente.


P.S: Se prepararem a partir do próximo capítulo as coisas vão pegar fogo.

Burning HeartsWhere stories live. Discover now