27: Efeito Colateral da Iridescência

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Na segunda-feira que se seguiu, eu e Leo fomos para o ponto de ônibus juntos ao final das aulas, e compartilhamos um fone de ouvido durante todo o percurso que a lata de sardinha gigante fez até as proximidades da sua casa, estáticos um ao lado do...

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Na segunda-feira que se seguiu, eu e Leo fomos para o ponto de ônibus juntos ao final das aulas, e compartilhamos um fone de ouvido durante todo o percurso que a lata de sardinha gigante fez até as proximidades da sua casa, estáticos um ao lado do outro como se realmente fôssemos dois peixes enlatados.

Ele mal falou a manhã inteira, embora não parecesse verdadeiramente arredio ou triste, apenas... distante.

Suas íris flutuavam como bolhas ao longo do horizonte, perdendo-se à caminho das nuvens acima de nós. Deduzi que haveria de estar pairando pelas coordenadas abstratas que se esboçavam no seu universo mental, expandindo-se por entre nebulosas e galáxias inteiras que me eram desconhecidas.

Ao embalo de Cícero entoando a calmaria do seu álbum Canções de Apartamento, eu me pus a ver o mundo passar através da janela empoeirada do ônibus, tentando ao máximo lhe dar espaço, apesar de não existir sequer um centímetro entre nós.

Pegando-me desprevenido, sua cabeça tombou para o lado, fazendo morada no meu ombro. O aroma adocicado dos seus cachos se dissipou no ar, e, como alguma espécie de reflexo, respirei fundo, enchendo meus pulmões com seus vislumbres que rodopiava por entre as partículas de oxigênio.

Olhei para trás. Só havia umas cinco pessoas espalhadas nos assentos, perdidas em seus próprios mundos.

Engolindo com um pouco de dificuldade, encaixei a bochecha nas curvas macias dos seus fios incendiários, sentindo-me arder de dentro para fora, e queimar de formas inimagináveis.

Iridescente era a última palavra que eu rabiscara no meu caderno de páginas surradas. Ou, em seu significado mais básico: tudo aquilo que é capaz de refletir um arco-íris inteiro. É como um filtro caleidoscópio que se refugia em manchas perdidas de óleo ao longo do asfalto, carapaças de besouros, velhos DVDs, conchas trazidas pela espuma do mar e em outras coisas ordinariamente belas.

Pensei, logo que a descobri, que parecia ser uma palavra que se encaixava bem em Leo, porque aquele garoto era capaz de irradiar todas as cores do espectro visível só por existir. E tal percepção voltou a entorpecer meus sentidos enquanto o observava feito bobo durante todo o percurso que fizemos até a sua casa, notando como não precisava sequer entoar qualquer coisa para ser o alguém que mais despejava espetáculos de supernova em cada um dos meus átomos em profusão.

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