24: Epitáfio Para Anfíbios

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Enterrar uma rã em um pequeno caixão de caixa de fósforos, sem dúvidas, nunca foi algo que pensei que faria em toda a minha vida

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Enterrar uma rã em um pequeno caixão de caixa de fósforos, sem dúvidas, nunca foi algo que pensei que faria em toda a minha vida.

No entanto, lá estava eu; parado no meio do jardim que ornamentava a casa de Leo, escrevendo o epitáfio do seu falecido anfíbio em um dos seus post-its coloridos para colar no minúsculo caixão de madeira do Donatello, que eu encontrei após vasculhar boa parte das gavetas da minha casa em busca de um que servisse para o bicho. Uma caixa de fósforos perdida se revelou como mais que perfeita.

Leo estava agachado à minha frente, cavando o buraco minúsculo que comportaria o animalzinho. Eu tinha roubado algumas flores de lugares aleatórios no caminho para a sua casa, e, para prestar minhas condolências, circundei a área que abarcaria o mini caixão com elas.

A cerimônia me remeteu, involuntariamente, a um documentário que assistira há tempos sobre a vida e obra de Buster Keaton, mestre do cinema mudo existente no século passado, quando tudo era um monocromático preto e branco deslizando nas telas em ações efêmeras. No enterro do ator, fora colocado um terço em uma das suas mãos e um baralho na outra, para que louvasse no paraíso ou jogasse cartas no inferno.

Não sabia se existia essa dualidade depois de tudo, mas torcia para, tanto Buster quanto o Donatello, estarem em um lugar menos barulhento e profuso do que o nosso mundo.

Um amigo gelado formidável. Meio travesso. Salte em paz no céu das rãs. — recitei o que havia escrito até então. — Achou bom?

O ruivo se levantou, esbarrando as mãos espalmadas no ar para eliminar os resquícios de terra, e suas vistas recaíram no meu rosto por trás das lentes arredondadas.

— Está bem incrível. Obrigado. — Sorriu de leve, empurrando a ponte dos óculos para o topo do nariz, que se repuxou em uma careta tímida adorável. — Você meio que... não precisava estar aqui. Não que não queira, eu quero muito, mas é que... — Esfregou seus cachos com embaraço. — Fazer o velório de uma rã não parece ser um programa muito legal para um sábado.

— Não é uma rã qualquer. É a sua. E mesmo que ela tenha pulado em cima de mim uma vez, gosto dela pelo simples fato da existência desse bichinho ter feito a sua mais feliz. — Sorri, convicto.

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