A tarde recaiu por entre os prédios e casas da cidade feito gelatina de laranja; macia e simultaneamente densa pela temperatura elevada que turgia o ar. A rádio local anunciava trinta e dois graus, reverberando na voz falhada do locutor do celular de Liz em notas chiadas sobre a toalha que colocara para nós na areia da praia, protegida embaixo do guarda-sol iridescente que ela pegou em uma das barracas. Aparentemente, o senhor que tomava conta de lá era seu parente, e, por isso, não cobrou nada pelo aluguel do objeto - que por sinal, era um dos pouquíssimos espalhados pelo litoral.
Liz se livrou das suas roupas assim que chegamos para mergulhar, ficando apenas com uma junção dissonante de sutiã e calcinha. É a mesma coisa de um biquíni, a diferença é que um é bem visto socialmente e o outro, não, foi o que me disse antes de correr rumo às ondas.
Eu poderia ser bissexual. Quer dizer, Liz era muito... bonita. Tinha curvas proporcionais ao corpo de estatura alta, que cintilava em seu tom oliva permeado de sal que o mar despejava nela. Isso era inegável. Mas... eu não sentia nada ao observá-la. Nenhuma algazarra mínima no peito ou em outras partes, mesmo diante da consciência do quanto era linda, assim como com todas as outras garotas que já passaram pelo meu mundo.
Admiração é diferente de atração.
Eu sabia daquilo. E tinha certeza que precisava parar de tentar mentir par mim mesmo.
Quando Liz saiu da água, trilhou caminho até mim, torcendo seus fios curtos com os dedos para escorrer a umidade, e fisgou a camiseta largada de qualquer jeito na areia.
- Quem ainda ouve rádio? - indaguei, divertido, observando-a se enfiar dentro da peça com a logo do colégio.
- Minha mãe. E ela me fez pegar esse costume infernal. - gargalhou, penteando suas mechas ensopadas. - Você deve conhecer. Ela trabalha na biblioteca, aquele lugar que você montou um acampamento.
Virgínia. Observando de forma mais atenta, fazia sentido, dados aqueles mesmos olhos cor de café forte que tendiam a me observar como se tentassem dilapidar a minha alma com pinças invisíveis, e feições analogicamente semelhantes. Como não percebera há mais tempo?
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Para Todos os Desajustados do Planeta | ⚣
Teen FictionMozart tinha em mente alguns planos básicos para sobreviver ao Ensino Médio sozinho. Eles envolviam se manter distante de qualquer sinal de problemas, tomar o máximo de café possível e nunca parar de olhar as estrelas com os seus olhos bicolores. ...