25: O Astronauta

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Uma típica luz refulgente cor de mostarda escorria de alguns postes espalhados pelo calçadão da praia, turgindo o caminho em que eu e Mozart vagávamos com seu fulgor ensolarado

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Uma típica luz refulgente cor de mostarda escorria de alguns postes espalhados pelo calçadão da praia, turgindo o caminho em que eu e Mozart vagávamos com seu fulgor ensolarado. Em contrapartida, o vento noturno parecia ser feito de minúsculas águas vivas de gelo que insistiam em rodopiar ao nosso redor, infiltrando-se nas roupas e sacudindo vez ou outra nossas mechas desgrenhadas.

O braço do garoto permaneceu no meu ombro durante todo o percurso rumo ao lugar onde ocorreria o show da Liz, a longa manga da sua camisa xadrez abraçando minha nuca com uma onda reconfortante de calor macio. A fresta na parte da frente da vestimenta proveniente dos botões abertos revelava sua blusa preta salpicada com miúdas estrelas pálidas de cinco pontas muitíssimo adoráveis.

Estávamos adentrando na região das docas. Em resumo, era uma zona de galpões espaçosos no litoral que costumava ser utilizada, há uns bons cem anos, para armazenar as cargas que os grandes barcos traziam para o porto. As construções caíram em desuso por um tempo após o fechamento deste, até começarem a ser compradas por outros proprietários e gradativamente adquirirem outras funcionalidades.

— Será que isso vai ser mesmo divertido? — indaguei à Moz, um tanto incerto, deixando meu olhar cair por entre os contornos sombreados do seu rosto.

— Eu não faço ideia. — respondeu, soprando um riso.

De qualquer forma, descobriríamos em breve. E o pensamento me fez encolher sob o meu moletom da cor do mar, desejando silenciosamente que nada catastrófico acontecesse. Quer dizer, a lista de possíveis tragédias era bem extensa, englobando a hipótese distante da ocorrência de um maremoto-surpresa causado por uma transa desvairada de placas tectônicas em algum lugar do oceano, ataque de caranguejos assassinos, um incêndio capaz de transformar todo mundo em torresmo e ter alguma briga com o Mozart por qualquer motivo que seja.

Era por isso que eu não gostava muito de sair além da minha bolha hermética de conforto. Sentia-me como um astronauta meio fajuto, que preferia flutuar dentro das paredes da sua nave de discos de vinil enquanto vislumbrava a queima dos astros da janela, perguntando-se qual constelação teria de seguir para voltar para casa.

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