12: A Caixa de Pandora

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Apesar de não ser o tipo de assunto que minha mãe gostava de comentar, eu descobri cedo, através da minha avó por parte de pai, que era descendente de uma trupe inteira de desajustados

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Apesar de não ser o tipo de assunto que minha mãe gostava de comentar, eu descobri cedo, através da minha avó por parte de pai, que era descendente de uma trupe inteira de desajustados.

Até onde ela sabia, tudo começara com o meu bisavô.

Quando a fotografia começou a substituir as pinturas, acreditava-se que essa nova arte deveria ser um recorte fiel da realidade, sem muito espaço para invenções por entre a sua captura fixa de um instante com todo aquele maquinário de lentes.

Tecnicamente, não havia brechas para enganação. Não ainda, pelo menos. Entretanto, em 1917, Jonas Mozart acabou demonstrando que isso passava longe de ser verídico, apenas com auxílio de pincéis e tinta à base de chumbo.

Com esses materiais, ele pintou um recorte de Paris com riqueza imensa de detalhes na parede de sua casa, e capturou uma foto de si mesmo em frente à sua obra. Depois, passou a falar para todos os seus conhecidos que já visitara a cidade parisiense, narrando todo tipo de histórias inventadas que se dá para imaginar, como a de que ele teria hipoteticamente voado com seu guarda-chuvas debaixo de um vento forte e quase foi parar no topo da torre Eiffel.

Na época, graças ao falso registro fotográfico, poucos não acreditaram que ele nunca esteve de fato lá, apesar dos seus relatos mirabolantes.

Minha avó dizia que, como consequência natural, a linhagem do piloto de guarda-chuvas foi dotada de uma esquisitice imaginativa quase palpável.

Em sua juventude, a senhora inventava todo tipo de trambolhos com o que tivesse à mão, esboçando diversos projetos de casas de cabeça para baixo, com telhas redondas e outras bizarrices. Meu pai, filho da arquiteta de araque em questão, foi de tudo um pouco enquanto vivo, desde pintor até ator de peças de teatro.

Talvez fosse graças a toda essa criatividade hereditária que a casa da minha avó se tornou o meu lugar favorito no mundo. Soava como algo inevitável, dada toda a sua coletânea de móveis embalados em madeira rústica permeada de desenhos de pássaros azuis e girassóis mostarda feitos pela própria, assim como nos mosaicos de vidro colorido que enfeitavam a maior parte das paredes com seus fragmentos vibrantes sob o sol e todas aquelas samambaias penduradas nas vigas de madeira do teto, cujas folhas esvoaçavam aos sopros perfumados do vento com seu cheiro habitual de café, tabaco e incenso.

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