Mozart tinha em mente alguns planos básicos para sobreviver ao Ensino Médio sozinho.
Eles envolviam se manter distante de qualquer sinal de problemas, tomar o máximo de café possível e nunca parar de olhar as estrelas com os seus olhos bicolores.
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Algumas histórias são tão extraordinárias que jamais se perdem no tempo. Detalhes não muito relevantes podem se desprender do novelo central de ideias, mas a beleza do conto permanece reverberando pelo mundo como as notas de uma música distante cuja melodia jamais é esquecida.
Os relatos mais fascinantes sobre o litoral da cidade não giravam em torno do mar, da praia ou do farol abandonado que se fincava em meio às águas rasas após uma trilha de pedras irregulares, mas do faroleiro que tomava conta dele.
Muitos da região, em especial os mais idosos como a minha avó, diziam que o faroleiro era um homem velho em cuja juventude fora capitão de diversos navios, até o dia que uma tempestade em mar revolto naufragou o último barco que ele comandou, forçando-o a ficar à deriva por vinte dias num bote que mal cabia ele, outros dois homens e os poucos suprimentos que conseguiram pegar.
A experiência foi traumatizante de tal modo que decidiu que nunca mais entraria num barco para tripulá-lo, mas ele sabia que ser um guia na escuridão era o seu objetivo de vida. Então, decidiu ser faroleiro, pois desse modo permaneceria fazendo o que mais gostava, embora de uma forma diferente. E o velho cuidou do seu farol até o dia em que viu a espuma das águas varrer a praia pela última vez.
A sua casa no pé da construção permaneceu, sob ação das intempéries do tempo e da brisa salgada que carcomia tudo o que tocava, com a porta e as janelas de madeira sempre escancaradas que permitiam vislumbrar o interior vazio da residência de ninguém desde que todos os móveis foram vendidos.
Assim, ela ficou oca e sem vida por muito tempo, até que os adolescentes descobriram como chegar até lá e passaram a fazê-la de ponto de encontro para fumar erva, beber e sabe-se lá o que mais. A maior transformação que fizeram foi nas paredes, que com o passar dos anos foram sendo preenchidas com frases e grafites bonitos; artes de todas as cores, formas e tipos que embebiam aquele lugar de uma energia surpreendentemente cativante.
A trupe dos desajustados havia descoberto a casa graças à Liz. Desde então, costumavam fazer algumas das reuniões do clube no lugar perdido, que aos poucos tornaram uma espécie de refúgio.
