Mozart tinha em mente alguns planos básicos para sobreviver ao Ensino Médio sozinho.
Eles envolviam se manter distante de qualquer sinal de problemas, tomar o máximo de café possível e nunca parar de olhar as estrelas com os seus olhos bicolores.
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A entrada no Ensino Médio pode ser como uma tempestade de meteoros na atmosfera da maior parte das pessoas. Comigo, não foi diferente.
No primeiro ano, fui mandado para uma escola nova na qual não conhecia ninguém, mas miraculosamente muitos pareceram interessados em me conhecer. Em especial, os gigantes de séries posteriores que adoravam me abordar nos corredores e na hora da saída, com seu ímpeto sádico de despejar palavras ácidas sobre aqueles que se mostram mais fracos. E eu, como o novato esquisito de pernas e braços finos que me faziam parecer uma aranha desengonçada, me tornei um dos seus alvos mais rápido do que era capaz de soletrar “banana”.
Voltar para casa com algum olho roxo ou hematoma nas bochechas se tornou quase uma tradição sagrada. Meus joelhos e cotovelos viviam repletos de band-aids, para esconder os ralados provenientes de quedas no asfalto e empurrões contra muros ásperos. Esconder-me não adiantava; eles sempre arrumavam um jeito de me encontrar.
Até que ela apareceu.
Em uma manhã banhada pelos raios de manteiga do sol, uma garota com sombra escura acima dos olhos e botas de couro desgastado chutou o saco de um dos garotos que estavam me intimidando em uma rua próxima à do colégio.
— Sou Letícia, do segundo ano. — disse ela, estendendo a mão para me ajudar a levantar do chão repleto de pedras de cascalho. Seus lábios se esticaram em um sorriso pequeno, simpático, que me instigou de imediato a aceitar sua ajuda enquanto o bando de estudantes corriam para longe, amedrontados. — E você?
— Sou o Ivan.
Naquela época, ainda não havia motivo para que eu detestasse meu primeiro nome.
— Legal. Não isso que aconteceu com você, isso foi uma tremenda bosta, mas o seu nome. É legal. — ela se embolou um pouco nas palavras, o que me fez rir de leve.
Simpatizei com Letícia logo de cara. Era impossível não fazê-lo, dado o seu sorriso fácil e o ar de aventureira que deixava transparecer no brilho constante das íris.
