Epílogo

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Meu plano, para ser executado com maestria, precisou da ajuda de Liz para furtar as chaves da biblioteca que ficavam com sua mãe, de uma coleção de canetinhas com tinta invisível que brilhava na luz negra e piscas-piscas

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Meu plano, para ser executado com maestria, precisou da ajuda de Liz para furtar as chaves da biblioteca que ficavam com sua mãe, de uma coleção de canetinhas com tinta invisível que brilhava na luz negra e piscas-piscas.

Centenas de estrelas formavam arabescos fulgurantes no ocaso do céu naquela noite, cuja lua cintilava sobre os livros que abarrotavam as prateleiras de metal da biblioteca, confundindo-se na linha do horizonte que meus olhos alcançavam com o fulgor dos estabelecimentos comerciais e casas distantes além da janela que ocupava quase toda a parede.

Invadir uma biblioteca nunca foi algo que pensei que faria. No entanto, gostava de pensar que, para que tudo saísse incrivelmente perfeito, era um sacrifício único a ser realizado.

Demorou cerca de quarenta minutos para  deixar tudo pronto. Enviei várias fotos para Letícia antes de apagar as luzes do local, ansioso pela sua opinião, e não demorei para receber a confirmação enérgica da garota de que ficara muito bom.

A insegurança, entretanto, ainda escalava minhas veias enquanto esperava Leo, que seria levado até ali pela Trupe dos Desajustados sob a desculpa de que seria o local da reunião da semana.

Esfreguei as mãos no jeans da calça, na esperança que o atrito contra o tecido áspero ajudasse a minar a corrente elétrica de euforia que turgia meus ossos sob o caleidoscópio de cores que os piscas-piscas nas paredes e estantes derramavam pelo espaço.

Ofeguei assim que o reverberar da maçaneta sendo aberta ecoou nos meus tímpanos. Rapidamente, puxei o cilindro do tamanho da minha palma que encaixara no bolso de trás, e deslizei o botão acoplado na extremidade plástica para disparar seu feixe de luz negra diante das íris confusas de Leo.

Então, ele entendeu.

Seus olhos escorregaram ao longo de todos os “Eu te amo” escritos em uma centena de idiomas diferentes no vidro translúcido da janela imensa, reluzindo minha caligrafia apressada em néon na frente da visão mais bonita da cidade.

Deslumbrado, seus pés cobertos pelos tênis surrados caminharam até mim, com os lábios entreabertos e as orbes com dificuldade para focarem no meu rosto diante de todas as informações ao seu redor.

Toquei sua bochecha, e finalmente seu olhar caiu na órbita do meu.

— Quer ser meu namorado, Leo?

Com um riso bobo, ele assentiu energicamente, e seus braços me envolveram em um aperto esmagador, as mãos amassando minha camisa e o nariz sorvendo a textura do meu pescoço.

Eu sorri, fitando a janela que se abria para o infinito.

No dia seguinte, todas aquelas letras rabiscadas com tinta translúcida sairiam, e ninguém nunca descobriria em todo o cosmos que alguém chamado Mozart uma vez se declarou para um Leonardo bem ali.

Assim é a vida; uma nota ínfima em um universo com milhões de anos de idade. Pessoas são vislumbres que um dia serão inegavelmente esquecidos, portanto, não importa demais o que fizemos no passado ou quem já fomos. A importância reside somente no presente, no momento único que se compartilha, e vai se aglomerando a centenas de outros, extraordinários ou não. Mas que precisam ser vividos.

Submerso no abraço de Leo, eu sabia que não me tornaria um motoqueiro de uma gangue, e ele tampouco seria um pirata que desbravaria oceanos inóspitos até o fim do mundo. Mas tinha convicção de que faríamos de tudo para que nossas vidas fossem boas histórias.

Independente de como fossem contadas.

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